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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Feira do Livro começou no Pacaembu em uma mesa eminentemente política, com duras críticas ao marco temporal -norma que avança no Congresso sob protesto dos povos indígenas– e ar de luto pela morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, que acaba de completar um ano.

Também foi marcada pela delicadeza, terminando com uma canção indígena tradicional entoada pelo público, regido pelo músico Xavier Bartabaru. A melodia foi disseminada por um vídeo sublime de Pereira, que costumava cantá-la, nas palavras de Bartaburu, “para afastar o ódio”.

Mas Manuela Carneiro da Cunha, uma das maiores antropólogas do país que foi chamada às pressas para compor a mesa, se encarregou de encampar a batalha dos argumentos. “Esse marco temporal é uma ideia completamente esdrúxula, inventada lá na época da Raposa Serra do Sol, nos anos 1990.”

É um projeto que, nas palavras dela, permite “todo tipo de maldades” e desafia entendimentos do Supremo e a Constituição. “Agora tem essa situação absurda de conciliar Judiciário e Congresso, um absurdo feito em nome da segurança jurídica dos fazendeiros.”

Foi uma mesa em volume baixo, contudo, com a lembrança constante da ausência do líder yanomami Davi Kopenawa, que desmarcou sua participação na véspera, em luto pela morte de sua ex-nora, suspeita de ter sido assassinada.

Mas ele se fez presente nos momentos plurais em que seu trabalho em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert, nos livros “A Queda do Céu” e “O Espírito da Floresta”, foi mencionado durante o encontro.

A pesquisadora Hanna Limulja, que atua há 15 anos junto à comunidade yanomami, lembrou conversas com Albert sobre a sensação de angústia e impotência de testemunhar a violência sofrida por esses povos.

“Eu pensava o que é que escrever um livro conseguiria ajudar nisso. Aí Bruce me disse que já ajudava muito levar o nome dos yanomami além. Algo que Davi sempre fala é que os povos ocidentais precisam saber que os indígenas vivem muito bem longe deles.”

Curioso que outra pessoa fundamental nesse mesmo transporte cultural, a fotógrafa e artista plástica Claudia Andujar, estivesse sentada bem ali em frente, na plateia da palestra.

Tom Phillips, jornalista britânico que também integrou a mesa, lembrou sua empreitada nas buscas, há um ano, pelos corpos então desaparecidos de Bruno e Dom –e fez um apelo em prol da vaquinha que a família de seu colega repórter faz para finalizar o livro sobre a Amazônia que ele escrevia na época de sua morte.

A literatura, em sua acepção tradicional, ficou de lado nessa abertura da feira, numa proposta deliberada de oferecer palco à ação política sobre alguns dos temas mais quentes do noticiário.

Carneiro da Cunha, contudo, fez questão de celebrar a qualidade da obra de Kopenawa e Albert, “mediadores de mundos” nas palavras de Limulja. “É um livro de dois autores, um que fala do seu mundo e um antropólogo que consegue traduzir aquilo de forma extraordinária.”

Também jornalista, Bartaburu acrescentou um comentário preciso sobre onde o livro se localiza em meio essa discussão.

“Estamos celebrando um objeto, na verdade, ocidental. Há milhares de povos para quem o livro é a floresta, que é capaz de contar suas histórias mais diversas.”

Ele celebrou o fato de essas narrativas indígenas estarem sendo cada vez mais disseminadas, com menos intermediários. “Poucos anos atrás, qual seria a chance de ter uma liderança indígena abrindo um evento literário?”

Apesar de isso não ter acontecido, dessa vez, é realmente simbólico dos nossos tempos.

A Feira do Livro continua até domingo, com mesas abertas e gratuitas na praça Charles Miller, no Pacaembu, na capital paulista.

WALTER PORTO / Folhapress

Feira do Livro começa com protesto a marco temporal e luto por Bruno e Dom

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Feira do Livro começou no Pacaembu em uma mesa eminentemente política, com duras críticas ao marco temporal -norma que avança no Congresso sob protesto dos povos indígenas– e ar de luto pela morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, que acaba de completar um ano.

Também foi marcada pela delicadeza, terminando com uma canção indígena tradicional entoada pelo público, regido pelo músico Xavier Bartabaru. A melodia foi disseminada por um vídeo sublime de Pereira, que costumava cantá-la, nas palavras de Bartaburu, “para afastar o ódio”.

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Mas Manuela Carneiro da Cunha, uma das maiores antropólogas do país que foi chamada às pressas para compor a mesa, se encarregou de encampar a batalha dos argumentos. “Esse marco temporal é uma ideia completamente esdrúxula, inventada lá na época da Raposa Serra do Sol, nos anos 1990.”

É um projeto que, nas palavras dela, permite “todo tipo de maldades” e desafia entendimentos do Supremo e a Constituição. “Agora tem essa situação absurda de conciliar Judiciário e Congresso, um absurdo feito em nome da segurança jurídica dos fazendeiros.”

Foi uma mesa em volume baixo, contudo, com a lembrança constante da ausência do líder yanomami Davi Kopenawa, que desmarcou sua participação na véspera, em luto pela morte de sua ex-nora, suspeita de ter sido assassinada.

Mas ele se fez presente nos momentos plurais em que seu trabalho em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert, nos livros “A Queda do Céu” e “O Espírito da Floresta”, foi mencionado durante o encontro.

A pesquisadora Hanna Limulja, que atua há 15 anos junto à comunidade yanomami, lembrou conversas com Albert sobre a sensação de angústia e impotência de testemunhar a violência sofrida por esses povos.

“Eu pensava o que é que escrever um livro conseguiria ajudar nisso. Aí Bruce me disse que já ajudava muito levar o nome dos yanomami além. Algo que Davi sempre fala é que os povos ocidentais precisam saber que os indígenas vivem muito bem longe deles.”

Curioso que outra pessoa fundamental nesse mesmo transporte cultural, a fotógrafa e artista plástica Claudia Andujar, estivesse sentada bem ali em frente, na plateia da palestra.

Tom Phillips, jornalista britânico que também integrou a mesa, lembrou sua empreitada nas buscas, há um ano, pelos corpos então desaparecidos de Bruno e Dom –e fez um apelo em prol da vaquinha que a família de seu colega repórter faz para finalizar o livro sobre a Amazônia que ele escrevia na época de sua morte.

A literatura, em sua acepção tradicional, ficou de lado nessa abertura da feira, numa proposta deliberada de oferecer palco à ação política sobre alguns dos temas mais quentes do noticiário.

Carneiro da Cunha, contudo, fez questão de celebrar a qualidade da obra de Kopenawa e Albert, “mediadores de mundos” nas palavras de Limulja. “É um livro de dois autores, um que fala do seu mundo e um antropólogo que consegue traduzir aquilo de forma extraordinária.”

Também jornalista, Bartaburu acrescentou um comentário preciso sobre onde o livro se localiza em meio essa discussão.

“Estamos celebrando um objeto, na verdade, ocidental. Há milhares de povos para quem o livro é a floresta, que é capaz de contar suas histórias mais diversas.”

Ele celebrou o fato de essas narrativas indígenas estarem sendo cada vez mais disseminadas, com menos intermediários. “Poucos anos atrás, qual seria a chance de ter uma liderança indígena abrindo um evento literário?”

Apesar de isso não ter acontecido, dessa vez, é realmente simbólico dos nossos tempos.

A Feira do Livro continua até domingo, com mesas abertas e gratuitas na praça Charles Miller, no Pacaembu, na capital paulista.

WALTER PORTO / Folhapress

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