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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Primeiro filme dirigido pelo canadense Ron Mann –que veio ao Brasil como convidado especial do 15º In-Edit, o Festival Internacional do Documentário Musical–, “Imagine the Sound”, de 1981, não é apenas um documentário incontornável sobre o free jazz, mas um testemunho privilegiado sobre a arte contemporânea nas décadas de 1960 a 80.

Seria impreciso caracterizar o free jazz como um “estilo”. É fato que suas técnicas e procedimentos podem ser sintetizadas, e que sua prática denota uma fase cronologicamente datável no desenvolvimento da linguagem jazzística, mas, ao contrário do swing ou do bebop, ele tem como escopo a quebra dos gêneros estabelecidos e a emergência de uma arte fortemente autoral.

A geração dos pianistas Cecil Taylor e Paul Bley, do trompetista Bill Dixon e do saxofonista Archie Shepp –protagonistas do filme– herdou a autoconfiança criativa e o páthos performático de Miles Davis. Curiosamente, Miles tocou em big bands, participou do bebop, criou o cool e o fusion, até apontou caminhos para o funk, mas nunca embarcou no free.

Mas foi um membro estelar de seus históricos quintetos, John Coltrane, quem ajudou a romper as últimas barreiras do jazz na direção do contemporâneo: Coltrane e Charlie Parker, seu precursor, são reverenciados em depoimentos ao longo do filme, o que atesta a conexão histórica dessa vanguarda com a tradição.

Filmes sobre música muitas vezes querem explicar a arte de fora para dentro; histórias e opiniões predominam, frequentemente, sobre o som ele mesmo: não fazer isso é o mérito maior do filme de Mann.

Antes de tudo porque os entrevistados são tão só os próprios músicos envolvidos, cujas performances podemos apreciar; mas, acima de tudo, porque a música surge em performances íntegras, sem cortes.

Música é um processo no tempo, e essa energia sensível nos abandona, num filme, toda vez que o foco passa do som a seus efeitos colaterais –como os aplausos, por exemplo. Em “Imagine the Sound” não há nada disso: interpretações nascem e morrem no silêncio, súbitas, entrecortadas, provocadoras.

Ao ouvir os expoentes do free jazz, percebemos que, ao contrário do que parece, nunca se trata de buscar efeitos fáceis e virtuosismo gratuito.

Cecil Taylor pode partir de um gesto sonoro, de um intervalo, até mesmo de uma única nota para sustentar assombrosas performances, fundamentadas e coerentes. Essa ideia central é a justificativa de tudo o que subjaz às suas célebres “ondas dissonantes”, acontecimentos recorrentes que perpassam o teclado de um lado a outro em alta velocidade.

Paul Bley fala sobre o interesse radical em desenvolver, em tempo real, materiais não ensaiados anteriormente. Ele segue no caminho das técnicas estendidas, e não se recusa a tangenciar momentos tonais desconstruídos.

Bill Dixon rege seu trio com pequenas insinuações gestuais a partir do trompete, suficientes para mudar completamente o território sonoro dos improvisos. Aposta na gravação como condição para estabelecer um som pessoal.

Archie Shepp parece partir do ponto em que Coltrane havia parado: improvisa sobre materiais provenientes de diferentes culturas, como se adicionasse seu sax tenor a peças já em movimento, numa grande obra em desenvolvimento.

O free jazz talvez tenha dado o seu primeiro passo no momento em que a bateria se libertou da marcação da pulsação e, paralelamente, quando a harmonia abandonou o compromisso com a tonalidade. O jazz chegou, assim –por meio da radicalização da improvisação do intérprete–, a uma textura similar à que a música clássica obtivera através da estruturação serial da escrita.

A resultante pode ser similar, porém o compromisso do improvisador é diferente daquele que provém da partitura: “um músico de jazz é uma categoria social”, afirma Dixon.

Mas as pontes com a vanguarda norte-americana do século 20 –poesia, dança e artes plásticas–, em um trânsito entre costa leste e oeste, são conscientemente incorporados por esses músicos populares, próximos, a seu modo, de John Cage e La Monte Young.

Acima de tudo fica evidente no filme a honestidade intelectual e artística dos músicos. Chama atenção a concentração e a seriedade marcantes. Não há um único sorriso em todo o filme: o free jazz é livre de brincadeiras.

IMAGINE THE SOUND

Quando: Sáb. (24), às 16h, na Associação Cultural Cecília. Também disponível no streaming do festival In-Edit (br.in-edit.org)

Classificação: Não indicada

Produção: Canadá, 1981

Direção: Ron Mann

Link: https://br.in-edit.tv/film/446

Avaliação: Excelente

SIDNEY MOLINA / Folhapress

Documentário sobre free jazz mostra coerência e compromisso de artistas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Primeiro filme dirigido pelo canadense Ron Mann –que veio ao Brasil como convidado especial do 15º In-Edit, o Festival Internacional do Documentário Musical–, “Imagine the Sound”, de 1981, não é apenas um documentário incontornável sobre o free jazz, mas um testemunho privilegiado sobre a arte contemporânea nas décadas de 1960 a 80.

Seria impreciso caracterizar o free jazz como um “estilo”. É fato que suas técnicas e procedimentos podem ser sintetizadas, e que sua prática denota uma fase cronologicamente datável no desenvolvimento da linguagem jazzística, mas, ao contrário do swing ou do bebop, ele tem como escopo a quebra dos gêneros estabelecidos e a emergência de uma arte fortemente autoral.

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A geração dos pianistas Cecil Taylor e Paul Bley, do trompetista Bill Dixon e do saxofonista Archie Shepp –protagonistas do filme– herdou a autoconfiança criativa e o páthos performático de Miles Davis. Curiosamente, Miles tocou em big bands, participou do bebop, criou o cool e o fusion, até apontou caminhos para o funk, mas nunca embarcou no free.

Mas foi um membro estelar de seus históricos quintetos, John Coltrane, quem ajudou a romper as últimas barreiras do jazz na direção do contemporâneo: Coltrane e Charlie Parker, seu precursor, são reverenciados em depoimentos ao longo do filme, o que atesta a conexão histórica dessa vanguarda com a tradição.

Filmes sobre música muitas vezes querem explicar a arte de fora para dentro; histórias e opiniões predominam, frequentemente, sobre o som ele mesmo: não fazer isso é o mérito maior do filme de Mann.

Antes de tudo porque os entrevistados são tão só os próprios músicos envolvidos, cujas performances podemos apreciar; mas, acima de tudo, porque a música surge em performances íntegras, sem cortes.

Música é um processo no tempo, e essa energia sensível nos abandona, num filme, toda vez que o foco passa do som a seus efeitos colaterais –como os aplausos, por exemplo. Em “Imagine the Sound” não há nada disso: interpretações nascem e morrem no silêncio, súbitas, entrecortadas, provocadoras.

Ao ouvir os expoentes do free jazz, percebemos que, ao contrário do que parece, nunca se trata de buscar efeitos fáceis e virtuosismo gratuito.

Cecil Taylor pode partir de um gesto sonoro, de um intervalo, até mesmo de uma única nota para sustentar assombrosas performances, fundamentadas e coerentes. Essa ideia central é a justificativa de tudo o que subjaz às suas célebres “ondas dissonantes”, acontecimentos recorrentes que perpassam o teclado de um lado a outro em alta velocidade.

Paul Bley fala sobre o interesse radical em desenvolver, em tempo real, materiais não ensaiados anteriormente. Ele segue no caminho das técnicas estendidas, e não se recusa a tangenciar momentos tonais desconstruídos.

Bill Dixon rege seu trio com pequenas insinuações gestuais a partir do trompete, suficientes para mudar completamente o território sonoro dos improvisos. Aposta na gravação como condição para estabelecer um som pessoal.

Archie Shepp parece partir do ponto em que Coltrane havia parado: improvisa sobre materiais provenientes de diferentes culturas, como se adicionasse seu sax tenor a peças já em movimento, numa grande obra em desenvolvimento.

O free jazz talvez tenha dado o seu primeiro passo no momento em que a bateria se libertou da marcação da pulsação e, paralelamente, quando a harmonia abandonou o compromisso com a tonalidade. O jazz chegou, assim –por meio da radicalização da improvisação do intérprete–, a uma textura similar à que a música clássica obtivera através da estruturação serial da escrita.

A resultante pode ser similar, porém o compromisso do improvisador é diferente daquele que provém da partitura: “um músico de jazz é uma categoria social”, afirma Dixon.

Mas as pontes com a vanguarda norte-americana do século 20 –poesia, dança e artes plásticas–, em um trânsito entre costa leste e oeste, são conscientemente incorporados por esses músicos populares, próximos, a seu modo, de John Cage e La Monte Young.

Acima de tudo fica evidente no filme a honestidade intelectual e artística dos músicos. Chama atenção a concentração e a seriedade marcantes. Não há um único sorriso em todo o filme: o free jazz é livre de brincadeiras.

IMAGINE THE SOUND

Quando: Sáb. (24), às 16h, na Associação Cultural Cecília. Também disponível no streaming do festival In-Edit (br.in-edit.org)

Classificação: Não indicada

Produção: Canadá, 1981

Direção: Ron Mann

Link: https://br.in-edit.tv/film/446

Avaliação: Excelente

SIDNEY MOLINA / Folhapress

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