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SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Jogar a liga espanhola de futsal, uma das mais importantes da modalidade no feminino, era, para a brasileira Ana Eliza Ribeiro, a oportunidade de jogar profissionalmente. Mas a aventura se tornou um pesadelo. Ela ficou um semestre sem receber salários no Sala Zagaroza, chegou a jogar visivelmente sem forças, com fome, e dependeu de doações para comer.

“Eu fui para o jogo sem comer. Eu já estava sentindo muita dor e, aos 6 minutos do primeiro tempo, com muita tontura, eu quase desmaiei. Falei para uma das pessoas do staff do clube que eu estava com fome, que não tinha comida, e essa pessoa me repreendeu, disse eu não deveria falar isso ali”, contou à reportagem.

A goleira precisou ser retirada de quadra e conseguiu uma banana, que comeu para estabilizar o estômago, e aguentar mais alguns minutos em quadra. “No intervalo, o Petric [marido] e os pais de uma jogadora da base compraram uma pipoca, que era o que tinha no ginásio, para eu comer e conseguir continuar jogando.”

Natural de Passa Quatro (MG), Ana Eliza jogou por diversas equipes amadoras brasileiras, ligadas a prefeituras, até receber o convite para jogar no Joventut d’Elx, de Elche, também da Espanha, há dois anos.

Criada em 1994, a liga espanhola é uma das precursoras do futsal feminino e atualmente conta com duas divisões. O torneio, historicamente, é uma alternativa para a profissionalização de jogadoras sul-americanas, especialmente brasileiras, que dominam a competição — das 10 principais artilheiras da última temporada, cinco são brasileiras.

Ana Eliza joga na outra ponta da quadra, no gol, e chegou a Elche com a promessa de que teria visto de trabalho, que nunca foi cumprida. Atuou por um ano e meio, precisou deixar a Espanha por causa do visto, e voltou com a promessa do Zaragoza de que o clube contrataria ela como goleira e Petric, marido dela, como preparador de goleiros.

“Para ele não pagaram mais do que 200 euros durante toda a temporada. Para mim, me pagaram até novembro, só. Foram três salários, mas na prática não deu nem dois, porque os salários eram cortados. Eles tiravam quantias do meu salário. Uma vez o presidente do clube me disse que era para pagar o aluguel, mas a gente não tinha contrato de aluguel. Outra hora dizia que era por uma diferença, mas ele usava palavras formais do espanhol, que a gente não entendia direito, falava um monte de número, só para confundir.”

O casal brasileiro inicialmente se hospedou na casa de outra jogadora do clube, que já era custeada pela diretoria. A ideia era ficar algumas semanas, até achar um lugar só para os dois. Sem receber salários, eles não só não conseguiram sair, como passaram a ter dificuldades para se alimentar.

Um amigo chegou a procurar os patrocinadores do clube para denunciar a situação, mas as jogadoras foram repreendidas e ameaçadas por isso. “Ele [o presidente do clube] usava de chantagem. Um dos responsáveis pelo clube me chamou para uma sala e reclamou que eu não poderia sair falando para pessoas de fora sobre a nossa situação porque existia uma lei que não pode falar de coisas fora de trabalho. Só que a gente não conhece as leis da Espanha”, conta Ana Eliza.

Segundo ela, logo na primeira semana no clube ela teve que se alimentar de chá e bolacha. A situação só melhorava um pouco quando o time jogava fora de casa, o que obrigava a diretoria a pagar hotel. “A gente ficava feliz porque sabia que ia ter comida. Eu pegava fruta, iogurte, e levava embora, para na volta ter comida em casa.”

A goleira diz que a situação não era vivida só por ela, mas por todas as estrangeiras do elenco. “Quando uma recebia, fazia uma janta e chamava todo mundo para comer. Uma ia ajudando a outra a não passar fome”. Além disso, uma jogadora que morava na cidade recebia marmitas feitas pela mãe e as dividia com ela.

A solução encontrada para a brasileira para aliviar a situação foi procurar a assistência social da prefeitura, especialmente o banco de alimentos, que exigia como contrapartida a participação em alguma atividade. Toda terça-feira, no fim da manhã, ela fazia aula de argila, escondido. “Eu tinha medo de que o presidente do clube soubesse, porque ele poderia fazer algo contra a gente”, diz. De tanto medo, outras atletas do elenco preferiram nem pedir esse socorro ao poder público.

Sem dinheiro para voltar ao Brasil e passando fome na Espanha, Ana Eliza ainda assim continuou dedicada ao clube, que acabou rebaixado para a segunda divisão. Ao fim da temporada, foi avisada que teria até 1º de julho para sair da casa onde ela e o marido viviam.

O casal se desesperou, mas um amigo espanhol ofereceu teto até o início da próxima temporada, quando Ana Eliza vai jogar por um novo clube, que ela não pode revelar qual é. Esse amigo também pagou a filiação dela e de outras jogadoras ao sindicato local, que está por trás de um processo que a goleira está movendo contra o Zaragoza.

“Eu quis contar tudo isso para que outras jogadoras não precisem passar pelo que eu passei. É uma coisa que acontece há muitos anos, mais de 30 jogadoras passaram por lá sem receber, mas elas têm medo de falar”, afirma ela, que contou sua história no Twitter e já chamou também atenção da mídia local.

DEMÉTRIO VECCHIOLI / Folhapress

Goleira brasileira passou fome e dependeu de doações para comer na Espanha

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Jogar a liga espanhola de futsal, uma das mais importantes da modalidade no feminino, era, para a brasileira Ana Eliza Ribeiro, a oportunidade de jogar profissionalmente. Mas a aventura se tornou um pesadelo. Ela ficou um semestre sem receber salários no Sala Zagaroza, chegou a jogar visivelmente sem forças, com fome, e dependeu de doações para comer.

“Eu fui para o jogo sem comer. Eu já estava sentindo muita dor e, aos 6 minutos do primeiro tempo, com muita tontura, eu quase desmaiei. Falei para uma das pessoas do staff do clube que eu estava com fome, que não tinha comida, e essa pessoa me repreendeu, disse eu não deveria falar isso ali”, contou à reportagem.

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A goleira precisou ser retirada de quadra e conseguiu uma banana, que comeu para estabilizar o estômago, e aguentar mais alguns minutos em quadra. “No intervalo, o Petric [marido] e os pais de uma jogadora da base compraram uma pipoca, que era o que tinha no ginásio, para eu comer e conseguir continuar jogando.”

Natural de Passa Quatro (MG), Ana Eliza jogou por diversas equipes amadoras brasileiras, ligadas a prefeituras, até receber o convite para jogar no Joventut d’Elx, de Elche, também da Espanha, há dois anos.

Criada em 1994, a liga espanhola é uma das precursoras do futsal feminino e atualmente conta com duas divisões. O torneio, historicamente, é uma alternativa para a profissionalização de jogadoras sul-americanas, especialmente brasileiras, que dominam a competição — das 10 principais artilheiras da última temporada, cinco são brasileiras.

Ana Eliza joga na outra ponta da quadra, no gol, e chegou a Elche com a promessa de que teria visto de trabalho, que nunca foi cumprida. Atuou por um ano e meio, precisou deixar a Espanha por causa do visto, e voltou com a promessa do Zaragoza de que o clube contrataria ela como goleira e Petric, marido dela, como preparador de goleiros.

“Para ele não pagaram mais do que 200 euros durante toda a temporada. Para mim, me pagaram até novembro, só. Foram três salários, mas na prática não deu nem dois, porque os salários eram cortados. Eles tiravam quantias do meu salário. Uma vez o presidente do clube me disse que era para pagar o aluguel, mas a gente não tinha contrato de aluguel. Outra hora dizia que era por uma diferença, mas ele usava palavras formais do espanhol, que a gente não entendia direito, falava um monte de número, só para confundir.”

O casal brasileiro inicialmente se hospedou na casa de outra jogadora do clube, que já era custeada pela diretoria. A ideia era ficar algumas semanas, até achar um lugar só para os dois. Sem receber salários, eles não só não conseguiram sair, como passaram a ter dificuldades para se alimentar.

Um amigo chegou a procurar os patrocinadores do clube para denunciar a situação, mas as jogadoras foram repreendidas e ameaçadas por isso. “Ele [o presidente do clube] usava de chantagem. Um dos responsáveis pelo clube me chamou para uma sala e reclamou que eu não poderia sair falando para pessoas de fora sobre a nossa situação porque existia uma lei que não pode falar de coisas fora de trabalho. Só que a gente não conhece as leis da Espanha”, conta Ana Eliza.

Segundo ela, logo na primeira semana no clube ela teve que se alimentar de chá e bolacha. A situação só melhorava um pouco quando o time jogava fora de casa, o que obrigava a diretoria a pagar hotel. “A gente ficava feliz porque sabia que ia ter comida. Eu pegava fruta, iogurte, e levava embora, para na volta ter comida em casa.”

A goleira diz que a situação não era vivida só por ela, mas por todas as estrangeiras do elenco. “Quando uma recebia, fazia uma janta e chamava todo mundo para comer. Uma ia ajudando a outra a não passar fome”. Além disso, uma jogadora que morava na cidade recebia marmitas feitas pela mãe e as dividia com ela.

A solução encontrada para a brasileira para aliviar a situação foi procurar a assistência social da prefeitura, especialmente o banco de alimentos, que exigia como contrapartida a participação em alguma atividade. Toda terça-feira, no fim da manhã, ela fazia aula de argila, escondido. “Eu tinha medo de que o presidente do clube soubesse, porque ele poderia fazer algo contra a gente”, diz. De tanto medo, outras atletas do elenco preferiram nem pedir esse socorro ao poder público.

Sem dinheiro para voltar ao Brasil e passando fome na Espanha, Ana Eliza ainda assim continuou dedicada ao clube, que acabou rebaixado para a segunda divisão. Ao fim da temporada, foi avisada que teria até 1º de julho para sair da casa onde ela e o marido viviam.

O casal se desesperou, mas um amigo espanhol ofereceu teto até o início da próxima temporada, quando Ana Eliza vai jogar por um novo clube, que ela não pode revelar qual é. Esse amigo também pagou a filiação dela e de outras jogadoras ao sindicato local, que está por trás de um processo que a goleira está movendo contra o Zaragoza.

“Eu quis contar tudo isso para que outras jogadoras não precisem passar pelo que eu passei. É uma coisa que acontece há muitos anos, mais de 30 jogadoras passaram por lá sem receber, mas elas têm medo de falar”, afirma ela, que contou sua história no Twitter e já chamou também atenção da mídia local.

DEMÉTRIO VECCHIOLI / Folhapress

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