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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando Terezinha Guedes Maximo perdeu sua filha por suicídio, ela pensou que não fosse aguentar a dor. Marina, a caçula de dois irmãos, morreu aos 19 anos, em março de 2017.

A adolescente era sorridente e engraçada. Adorava animes e videogames. Tocava violão e cursava filosofia na UFABC (Universidade Federal do ABC). Falava inglês fluentemente e estudava francês e catalão.

Marina também tinha depressão grave. A doença foi diagnosticada em novembro de 2016. Ela fazia tratamento, mas às vezes era abatida por crises. Dizia que não queria mais viver daquele jeito.

Terezinha e o marido, Joseval, pai de Marina, tomaram todos os cuidados recomendados pelos psiquiatras e psicólogos que cuidaram da filha. Eles nunca a deixavam sozinha. Mas é impossível vigiar alguém o tempo todo.

Com a morte de Marina, além do sofrimento inimaginável de enterrar uma filha, Terezinha teve de lidar com algumas situações típicas do luto por suicídio, como o julgamento, o isolamento, a culpa e a busca incessante do porquê.

“O desamparo daqueles que ficam é muito grande. Por ser uma morte com forte estigma social, a família é sempre questionada: ‘Mas você não percebeu? Não ajudou? Não fez nada para impedir’?”, diz a psicóloga Karen Scavacini, CEO, idealizadora e cofundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.

“Os enlutados também ficam presos nos ‘e se'”, afirma a especialista. “Eles ficam imaginando ‘e se eu tivesse voltado antes?’, ‘e se eu tivesse ligado?’ Todos se sentem culpados de alguma forma, mas o suicídio é multifatorial. Não há um culpado, não há uma causa única que explique o porquê de uma pessoa tirar a própria vida”, diz.

Mestre em saúde pública na área de promoção de saúde mental e prevenção ao suicídio pelo Karolinska Institutet, da Suécia, e doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP (Universidade de São Paulo), Scavacini trabalha para difundir ações de posvenção, que são as atividades de acolhimento, ajuda e intervenção voltadas aos enlutados por suicídio e desenvolvidas por grupos de apoio.

Foi nesses encontros que Terezinha conseguiu suporte. “Depois da morte da Marina, eu pensei que fosse enlouquecer. As pessoas se afastaram. Muitas tentavam consolar, mas o que diziam acabavam machucando ainda mais. Então comecei a procurar na internet onde eu poderia obter ajuda e conheci o Vita Alere”, diz ela.

Conversando com outras pessoas que estavam passando pela mesma situação, ela percebeu que não estava sozinha.

Terezinha também começou a escrever sobre o que estava sentido. No começo, os textos eram só para ela, mas com o passar do tempo decidiu criar um blog para publicá-los, o No m’oblidis.

“A Marina tinha deixado escrito no perfil dela do WhatsApp a frase ‘Si us plau, no m’oblidis’. Depois descobri que, em catalão, significa ‘por favor, não me esqueça'”, conta a mãe.

Por causa das mensagens que recebia no blog, Terezinha e o marido tomaram a iniciativa de montar o grupo de apoio Sobreviventes Enlutados pelo Suicídio de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, em 2018. As reuniões eram presenciais, mas se tornaram virtuais a partir de março de 2020, com o surgimento da pandemia da Covid-19.

Nos encontros, os participantes começaram a debater sobre palavras que ganharam um novo sentido e que podem magoar as pessoas que perderam um ente querido dessa forma. Entre elas estão “escolha”, “guerreiro/a” e “superação”. Então ela lançou, em 2021, o livro “O Pequeno Dicionário do Luto”.

“O suicídio ficou no armário por muito tempo. Agora que as pessoas começaram a falar mais sobre o tema, mas nem sempre do jeito certo. Não é a intenção, só que às vezes usam palavras que ferem”, diz.

Informar de forma correta sobre prevenção e posvenção é o que a psicóloga Victoria Almeida, 26, tem feito desde 2017 no perfil Nenhuma Ideia Vale Uma Vida, no Instagram.

Victoria perdeu o pai quando tinha 11 anos. Na época, a família contou para ela e para sua irmã que a causa da morte havia sido um problema no coração. Quatro anos depois, elas descobriram que foi suicídio.

“Vivi dois lutos pelo meu pai, e posso dizer que foram bem diferentes. No primeiro, apesar da tristeza, eu me sentia conformada, achava que tinha sido a vontade de Deus. No segundo, foi um baque muito grande, era como se ele tivesse morrido de novo”, diz.

Ainda adolescente quando soube a verdade, Victoria conta que sentiu muita raiva. “Eu não sabia nada sobre suicídio e tinha uma visão muito preconceituosa. Comecei a pensar que ele foi egoísta. Como pode alguém fazer isso?”

Ela e a irmã decidiram que “levariam a mentira adiante” e, sempre que alguém perguntasse por que o pai morreu, elas diriam que havia sido do coração.

Mas Victoria começou a ler sobre suicídio e a entender melhor sobre os problemas de saúde mental que podem levar ao ato. Assim, criou o perfil Nenhuma Ideia Vale Uma Vida e resolveu estudar psicologia.

Moradora de Juiz de Fora (MG), na época em que descobriu a verdade ela não encontrou nenhum grupo de apoio para enlutados em sua cidade. Com o início da pandemia, porém, começou a participar de encontros virtuais. “Poder conversar com outras pessoas que passaram pela mesma situação mudou completamente a nossa vivência”, afirma.

Usando o que aprenderam nas reuniões, Victoria e a irmã decidiram que não mentiriam mais sobre a causa da morte do pai. No Instagram, além de informações sobre prevenção e posvenção, a então estudante de psicologia passou a falar também sobre a sua experiência pessoal.

“Um suicídio na família muda para sempre a nossa vida. Eu sei que nunca vou voltar a ser quem eu era antes. Mas essa nova versão não precisa ser necessariamente pior”, diz.

ONDE ENCONTRAR AJUDA

Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio

Oferece grupos de apoio aos enlutados e a familiares de pessoas com ideação suicida, cartilhas informativas sobre prevenção e posvenção e cursos para profissionais.

vitaalere.com.br

Abrases (Associação Brasileira dos Sobrevivente Enlutados por Suicídio)

Disponibiliza materiais informativos, como cartilhas e ebooks, e indica grupos de apoio em todas as regiões do país.

abrases.org.br

CVV (Centro de Valorização da Vida)

Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato pelo site e telefone 188

cvv.org.br

SÍLVIA HAIDAR / Folhapress

Enlutados por suicídio encontram conforto em grupos de apoio

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando Terezinha Guedes Maximo perdeu sua filha por suicídio, ela pensou que não fosse aguentar a dor. Marina, a caçula de dois irmãos, morreu aos 19 anos, em março de 2017.

A adolescente era sorridente e engraçada. Adorava animes e videogames. Tocava violão e cursava filosofia na UFABC (Universidade Federal do ABC). Falava inglês fluentemente e estudava francês e catalão.

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Marina também tinha depressão grave. A doença foi diagnosticada em novembro de 2016. Ela fazia tratamento, mas às vezes era abatida por crises. Dizia que não queria mais viver daquele jeito.

Terezinha e o marido, Joseval, pai de Marina, tomaram todos os cuidados recomendados pelos psiquiatras e psicólogos que cuidaram da filha. Eles nunca a deixavam sozinha. Mas é impossível vigiar alguém o tempo todo.

Com a morte de Marina, além do sofrimento inimaginável de enterrar uma filha, Terezinha teve de lidar com algumas situações típicas do luto por suicídio, como o julgamento, o isolamento, a culpa e a busca incessante do porquê.

“O desamparo daqueles que ficam é muito grande. Por ser uma morte com forte estigma social, a família é sempre questionada: ‘Mas você não percebeu? Não ajudou? Não fez nada para impedir’?”, diz a psicóloga Karen Scavacini, CEO, idealizadora e cofundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.

“Os enlutados também ficam presos nos ‘e se'”, afirma a especialista. “Eles ficam imaginando ‘e se eu tivesse voltado antes?’, ‘e se eu tivesse ligado?’ Todos se sentem culpados de alguma forma, mas o suicídio é multifatorial. Não há um culpado, não há uma causa única que explique o porquê de uma pessoa tirar a própria vida”, diz.

Mestre em saúde pública na área de promoção de saúde mental e prevenção ao suicídio pelo Karolinska Institutet, da Suécia, e doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP (Universidade de São Paulo), Scavacini trabalha para difundir ações de posvenção, que são as atividades de acolhimento, ajuda e intervenção voltadas aos enlutados por suicídio e desenvolvidas por grupos de apoio.

Foi nesses encontros que Terezinha conseguiu suporte. “Depois da morte da Marina, eu pensei que fosse enlouquecer. As pessoas se afastaram. Muitas tentavam consolar, mas o que diziam acabavam machucando ainda mais. Então comecei a procurar na internet onde eu poderia obter ajuda e conheci o Vita Alere”, diz ela.

Conversando com outras pessoas que estavam passando pela mesma situação, ela percebeu que não estava sozinha.

Terezinha também começou a escrever sobre o que estava sentido. No começo, os textos eram só para ela, mas com o passar do tempo decidiu criar um blog para publicá-los, o No m’oblidis.

“A Marina tinha deixado escrito no perfil dela do WhatsApp a frase ‘Si us plau, no m’oblidis’. Depois descobri que, em catalão, significa ‘por favor, não me esqueça'”, conta a mãe.

Por causa das mensagens que recebia no blog, Terezinha e o marido tomaram a iniciativa de montar o grupo de apoio Sobreviventes Enlutados pelo Suicídio de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, em 2018. As reuniões eram presenciais, mas se tornaram virtuais a partir de março de 2020, com o surgimento da pandemia da Covid-19.

Nos encontros, os participantes começaram a debater sobre palavras que ganharam um novo sentido e que podem magoar as pessoas que perderam um ente querido dessa forma. Entre elas estão “escolha”, “guerreiro/a” e “superação”. Então ela lançou, em 2021, o livro “O Pequeno Dicionário do Luto”.

“O suicídio ficou no armário por muito tempo. Agora que as pessoas começaram a falar mais sobre o tema, mas nem sempre do jeito certo. Não é a intenção, só que às vezes usam palavras que ferem”, diz.

Informar de forma correta sobre prevenção e posvenção é o que a psicóloga Victoria Almeida, 26, tem feito desde 2017 no perfil Nenhuma Ideia Vale Uma Vida, no Instagram.

Victoria perdeu o pai quando tinha 11 anos. Na época, a família contou para ela e para sua irmã que a causa da morte havia sido um problema no coração. Quatro anos depois, elas descobriram que foi suicídio.

“Vivi dois lutos pelo meu pai, e posso dizer que foram bem diferentes. No primeiro, apesar da tristeza, eu me sentia conformada, achava que tinha sido a vontade de Deus. No segundo, foi um baque muito grande, era como se ele tivesse morrido de novo”, diz.

Ainda adolescente quando soube a verdade, Victoria conta que sentiu muita raiva. “Eu não sabia nada sobre suicídio e tinha uma visão muito preconceituosa. Comecei a pensar que ele foi egoísta. Como pode alguém fazer isso?”

Ela e a irmã decidiram que “levariam a mentira adiante” e, sempre que alguém perguntasse por que o pai morreu, elas diriam que havia sido do coração.

Mas Victoria começou a ler sobre suicídio e a entender melhor sobre os problemas de saúde mental que podem levar ao ato. Assim, criou o perfil Nenhuma Ideia Vale Uma Vida e resolveu estudar psicologia.

Moradora de Juiz de Fora (MG), na época em que descobriu a verdade ela não encontrou nenhum grupo de apoio para enlutados em sua cidade. Com o início da pandemia, porém, começou a participar de encontros virtuais. “Poder conversar com outras pessoas que passaram pela mesma situação mudou completamente a nossa vivência”, afirma.

Usando o que aprenderam nas reuniões, Victoria e a irmã decidiram que não mentiriam mais sobre a causa da morte do pai. No Instagram, além de informações sobre prevenção e posvenção, a então estudante de psicologia passou a falar também sobre a sua experiência pessoal.

“Um suicídio na família muda para sempre a nossa vida. Eu sei que nunca vou voltar a ser quem eu era antes. Mas essa nova versão não precisa ser necessariamente pior”, diz.

ONDE ENCONTRAR AJUDA

Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio

Oferece grupos de apoio aos enlutados e a familiares de pessoas com ideação suicida, cartilhas informativas sobre prevenção e posvenção e cursos para profissionais.

vitaalere.com.br

Abrases (Associação Brasileira dos Sobrevivente Enlutados por Suicídio)

Disponibiliza materiais informativos, como cartilhas e ebooks, e indica grupos de apoio em todas as regiões do país.

abrases.org.br

CVV (Centro de Valorização da Vida)

Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato pelo site e telefone 188

cvv.org.br

SÍLVIA HAIDAR / Folhapress

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