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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Venham para os meus seios de mulher e façam do meu leite fel, ministros do crime”, diz Lady Macbeth antes de ser cúmplice de um dos assassinatos mais célebres da literatura.

Para cometer o ato, a mulher suplica para que os espíritos malignos lhe arranquem o sexo —”unsex-me”, no original em inglês. Não pode sobrar nada do fraco gênero feminino para que ela se torne, enfim, dona de seu destino e agente da profecia que fará de seu marido o rei da Escócia.

Famosa como vilã fria e manipuladora, a dama é revista como uma pessoa complexa que recusa seu papel social de mulher no novo “Shakesperianas”, livro de ensaios da escritora mineira Nara Vidal sobre as personagens femininas de William Shakespeare.

A obra discute brevemente 15 personagens entre as mais populares do autor —Julieta, Ofélia, Cleópatra, Desdêmona— e outras menos óbvias —caso das Bruxas macbethianas, Sycorax, as filhas do Rei Lear— além das protagonistas das comédias, como Portia, de “O Mercador de Veneza”, Viola, de “Noite de Reis”, e Catarina, de “A Megera Domada”.

Vidal considera que seu trabalho, longe de ser acadêmico, é uma forma de aproximar os leitores do cânone, não um desejo de ajudar o debate feminista. “O cânone serve como referência para enriquecer a discussão feminista”, diz. “Vejo pessoas defendendo que Shakespeare seja cancelado, que Dostoiévski seja cancelado.”

O feminismo ou o machismo, porém, não servem para classificar Shakespeare —seria um anacronismo, segundo ela, já que o momento histórico do Bardo é anterior ao movimento político.

Mas a torcida pelas mulheres transparece quando a autora se pergunta por que existem poucos trabalhos sobre a presença delas nas peças do autor britânico —e para Vidal, elas são as pessoas mais complexas da obra.

Não que os shakespearianos sejam desinteressantes. Sobram análises sobre o ciúme cego de Otelo, sobre a loucura de Macbeth, sobre o existencialismo de Hamlet, mas, segundo a autora, as mulheres do Bardo têm em comum um arco psicológico que interage com a sociedade da época e que traduz bem a condição feminina do período.

“O que une as personagens é que, uma vez provocadas, elas respondem —cada uma à sua maneira— às estruturas sociais”, afirma.

Julieta, para Vidal, parecia menos interessada no galante Romeu do que em um passaporte rápido para fora das obrigações familiares massacrantes dos Capuleto. A esperta Portia, ao vestir roupas masculinas, sabe que será mais respeitada.

Cleópatra, com seu dinheiro e poder, leva a vida quase como se fosse um homem. Lady Macbeth toma as rédeas do próprio destino e o concretiza sem esperar que o futuro aconteça sozinho. A gentil caçula Cordélia decepciona seu pai, o rei Lear, e não se engaja na competição pela herança com as irmãs mais velhas.

As personagens foram divididas, sem muito rigor por parte da autora, em quatro elementos: fogo, água, terra e ar. “O período elisabetano era uma época de interesse em astronomia”, diz Vidal. Ela ressalta que Shakespeare faz diversas referências a elementos e aos astros nas peças. Julieta, por exemplo, é nascida no início de agosto, sob o signo astrológico de leão, ressalta a autora.

Por isso mesmo, o fogo comporta nomes como a rebelde Julieta, a livre Cleópatra e a astuta Catarina. A água traz a carga dramática com Desdêmona, Lavínia, Temora e Ofélia. A terra traz uma certa onipresença sobrenatural com as Bruxas de Macbeth, Sycorax e as três filhas do rei Lear. O ar, por fim, traz as cerebrais Lady Macbeth, Portia e Viola.

O que as une além da interação com o meio, diz Vidal, é o destino. Menos por ser feliz ou triste, mas por ser irremediavelmente alterado. “É chegada a hora de ter uma proposta de leitura que nos inclua”, diz Vidal. Para ela, a prioridade deve ser ver as personagens como complexas e ricas —humanas, afinal.

“Lady Macbeth é um ótimo exemplo. Ela já era ambiciosa, o oráculo planta a vontade de mudança e ela concretiza o próprio futuro. Não só o regicídio, mas a própria jornada de deixar a passividade e se transformar para sempre.” O que está feito não pode ser desfeito.

SHAKESPERIANAS

Preço 79, 90 (200 págs.)

Autoria Nara Vidal

Editora Relicário

BÁRBARA BLUM / Folhapress

Shakespeare criou mulheres mais interessantes que homens, diz pesquisadora

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Venham para os meus seios de mulher e façam do meu leite fel, ministros do crime”, diz Lady Macbeth antes de ser cúmplice de um dos assassinatos mais célebres da literatura.

Para cometer o ato, a mulher suplica para que os espíritos malignos lhe arranquem o sexo —”unsex-me”, no original em inglês. Não pode sobrar nada do fraco gênero feminino para que ela se torne, enfim, dona de seu destino e agente da profecia que fará de seu marido o rei da Escócia.

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Famosa como vilã fria e manipuladora, a dama é revista como uma pessoa complexa que recusa seu papel social de mulher no novo “Shakesperianas”, livro de ensaios da escritora mineira Nara Vidal sobre as personagens femininas de William Shakespeare.

A obra discute brevemente 15 personagens entre as mais populares do autor —Julieta, Ofélia, Cleópatra, Desdêmona— e outras menos óbvias —caso das Bruxas macbethianas, Sycorax, as filhas do Rei Lear— além das protagonistas das comédias, como Portia, de “O Mercador de Veneza”, Viola, de “Noite de Reis”, e Catarina, de “A Megera Domada”.

Vidal considera que seu trabalho, longe de ser acadêmico, é uma forma de aproximar os leitores do cânone, não um desejo de ajudar o debate feminista. “O cânone serve como referência para enriquecer a discussão feminista”, diz. “Vejo pessoas defendendo que Shakespeare seja cancelado, que Dostoiévski seja cancelado.”

O feminismo ou o machismo, porém, não servem para classificar Shakespeare —seria um anacronismo, segundo ela, já que o momento histórico do Bardo é anterior ao movimento político.

Mas a torcida pelas mulheres transparece quando a autora se pergunta por que existem poucos trabalhos sobre a presença delas nas peças do autor britânico —e para Vidal, elas são as pessoas mais complexas da obra.

Não que os shakespearianos sejam desinteressantes. Sobram análises sobre o ciúme cego de Otelo, sobre a loucura de Macbeth, sobre o existencialismo de Hamlet, mas, segundo a autora, as mulheres do Bardo têm em comum um arco psicológico que interage com a sociedade da época e que traduz bem a condição feminina do período.

“O que une as personagens é que, uma vez provocadas, elas respondem —cada uma à sua maneira— às estruturas sociais”, afirma.

Julieta, para Vidal, parecia menos interessada no galante Romeu do que em um passaporte rápido para fora das obrigações familiares massacrantes dos Capuleto. A esperta Portia, ao vestir roupas masculinas, sabe que será mais respeitada.

Cleópatra, com seu dinheiro e poder, leva a vida quase como se fosse um homem. Lady Macbeth toma as rédeas do próprio destino e o concretiza sem esperar que o futuro aconteça sozinho. A gentil caçula Cordélia decepciona seu pai, o rei Lear, e não se engaja na competição pela herança com as irmãs mais velhas.

As personagens foram divididas, sem muito rigor por parte da autora, em quatro elementos: fogo, água, terra e ar. “O período elisabetano era uma época de interesse em astronomia”, diz Vidal. Ela ressalta que Shakespeare faz diversas referências a elementos e aos astros nas peças. Julieta, por exemplo, é nascida no início de agosto, sob o signo astrológico de leão, ressalta a autora.

Por isso mesmo, o fogo comporta nomes como a rebelde Julieta, a livre Cleópatra e a astuta Catarina. A água traz a carga dramática com Desdêmona, Lavínia, Temora e Ofélia. A terra traz uma certa onipresença sobrenatural com as Bruxas de Macbeth, Sycorax e as três filhas do rei Lear. O ar, por fim, traz as cerebrais Lady Macbeth, Portia e Viola.

O que as une além da interação com o meio, diz Vidal, é o destino. Menos por ser feliz ou triste, mas por ser irremediavelmente alterado. “É chegada a hora de ter uma proposta de leitura que nos inclua”, diz Vidal. Para ela, a prioridade deve ser ver as personagens como complexas e ricas —humanas, afinal.

“Lady Macbeth é um ótimo exemplo. Ela já era ambiciosa, o oráculo planta a vontade de mudança e ela concretiza o próprio futuro. Não só o regicídio, mas a própria jornada de deixar a passividade e se transformar para sempre.” O que está feito não pode ser desfeito.

SHAKESPERIANAS

Preço 79, 90 (200 págs.)

Autoria Nara Vidal

Editora Relicário

BÁRBARA BLUM / Folhapress

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