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LA MATANZA, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O ar europeu dos cafés e calçadas largas de Buenos Aires vai dando lugar aos caminhos de terra bordeados por montinhos de lixo e um par de cavalos. O papa Francisco toma um mate e uma pichação diz “hoje vou com Massa” nas paredes de um conjunto habitacional que, visto de cima, forma o contorno do rosto da ex-primeira-dama Eva Perón.

O cenário é da periferia de La Matanza, cidade argentina que foi chave para que o ministro da Economia, Sergio Massa, “ultrapassasse” o ultraliberal Javier Milei nas eleições do último domingo (22), chegando como favorito ao segundo turno em 19 de novembro. Foi ali que ele recebeu o maior número de votos do país, sem contar a capital logo ao lado.

“Ganhar aqui é ganhar na província, e ganhar na província é ganhar no país”, afirma o historiador Emmanuel Cuello, 33, do sindicato de servidores públicos ATE, enquanto dirige indicando o nome de cada favela ou bairro popular às margens da estrada. Nos postes, lambe-lambes em série propagandeiam a chapa peronista local, que também ganhou com folga.

Apelidado de “quinta província” por seu tamanho, o município abriga quase 10% dos eleitores da província de Buenos Aires, que rodeia a capital e por sua vez concentra aproximadamente 40% dos eleitores do país. O “estado” representou quase metade dos novos votos que Massa registrou em relação às primárias de agosto.

Não à toa, La Matanza foi o lugar escolhido por Milei para relançar sua campanha naquele mês, desfilando na traseira de uma caminhonete enquanto assinava livros, capas de celulares e até uma mochila da Rappi entregue pelos fãs. Uma semana depois, lá se foi o rival a recuperar terreno no que chamou de “capital nacional do peronismo”.

O susto pelo avanço do libertário na região historicamente ligada ao movimento de Perón é um dos fatores que ajudam a explicar sua “retomada”. Contribuem ainda uma forte atuação da Igreja Católica e um pacote de benefícios sociais levado a cabo pelo ministro para aliviar o bolso do eleitor a semanas do primeiro turno, em meio a uma crise econômica e inflação anual de 138% que come os salários.

“Quando íamos às casas antes das primárias, tudo o que escutávamos era inflação e insegurança. Depois, Massa fez um monte de medidas e as pessoas passaram a dizer que iam votar nele porque ia assegurar seus direitos”, conta Gabriela Luna, 46, diretora de um centro comunitário local que fez campanha para o peronista.

Os votos do ultraliberal na cidade despencaram de 23% na primeira votação para apenas 4% na última, enquanto os do ministro saltaram de 39% para 53%. “Milei se meteu em falar de aposentadorias e tirar subsídios num país cheio de subsídios, por mais insuficientes que eles sejam”, afirma a funcionária pública de saúde, ponderando que Massa, próximo a empresários, não seria seu candidato preferido.

Outra seara perigosa na qual Milei entrou foi falar de papa. Milei já chamou Jorge Bergoglio de “representante do mal na Terra”, “personagem nefasto” e o acusou de estar “ao lado de ditaduras sangrentas” e do comunismo, obrigando o pontífice a rebater que “Messias só há um, os demais são palhaços do messianismo”.

A estratégia política —que até agora nenhum analista conseguiu entender— foi particularmente cara numa cidade onde a imagem de Francisco está grafitada a cada esquina. “Todas as quadras, parques coloridos que você vê aqui para as crianças, foram os ‘cura villeros’ que fizeram”, conta o sapateiro Roberto Coronel, 55, evocando uma figura icônica na Argentina.

Os curas são sacerdotes ligados ao peronismo que vivem nas comunidades sob o princípio da justiça social. Segundo os moradores, nos últimos seis anos, foram os responsáveis por transformar um cenário de narcotráfico, vício em drogas e desmanche de carros roubados que existia ali. Quando cai a tarde, é comum ver mulheres levando seus tupperwares para buscar o jantar da família na igreja.

Para Roberto, o peronismo sempre foi a única opção eleitoral porque é a que “reparte melhor a torta”. “A gente faz a parte do leão e fica com a parte do rato”, diz, sorrindo, enquanto calcula o quanto a fábrica lhe paga. Os patrões deram férias forçadas aos funcionários por duas semanas após as eleições para ver o que aconteceria com os preços. “Eles especulam e se garantem, mas a gente fica sem ganhar.”

A grande massa popular presente na região explica a forte presença do movimento político, dizem. Nem dois casos de corrupção que atingiram o kirchnerismo a dias das eleições tiveram efeitos nas urnas da província. “Não pode ser que um [Martín] Insaurralde faça tanta diferença na sua vida”, minimiza o sapateiro, citando um prefeito que gerou um escândalo no país ao passear de iate com uma modelo na Itália.

Tampouco a inflação sob a gestão Massa parece ter contado na decisão no último domingo em La Matanza. O sindicalista Emmanuel tem uma teoria sobre por que isso não caiu na conta do ministro: “O povo vive o dia a dia, aqui o governo não tem muita cara. O morador xinga o dono da quitanda, e o dono da quitanda é quem xinga o Massa”.

JÚLIA BARBON / Folhapress

Medo de Milei e apego ao papa e ao peronismo explicam cidade mais ‘massista’ da Argentina

LA MATANZA, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O ar europeu dos cafés e calçadas largas de Buenos Aires vai dando lugar aos caminhos de terra bordeados por montinhos de lixo e um par de cavalos. O papa Francisco toma um mate e uma pichação diz “hoje vou com Massa” nas paredes de um conjunto habitacional que, visto de cima, forma o contorno do rosto da ex-primeira-dama Eva Perón.

O cenário é da periferia de La Matanza, cidade argentina que foi chave para que o ministro da Economia, Sergio Massa, “ultrapassasse” o ultraliberal Javier Milei nas eleições do último domingo (22), chegando como favorito ao segundo turno em 19 de novembro. Foi ali que ele recebeu o maior número de votos do país, sem contar a capital logo ao lado.

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“Ganhar aqui é ganhar na província, e ganhar na província é ganhar no país”, afirma o historiador Emmanuel Cuello, 33, do sindicato de servidores públicos ATE, enquanto dirige indicando o nome de cada favela ou bairro popular às margens da estrada. Nos postes, lambe-lambes em série propagandeiam a chapa peronista local, que também ganhou com folga.

Apelidado de “quinta província” por seu tamanho, o município abriga quase 10% dos eleitores da província de Buenos Aires, que rodeia a capital e por sua vez concentra aproximadamente 40% dos eleitores do país. O “estado” representou quase metade dos novos votos que Massa registrou em relação às primárias de agosto.

Não à toa, La Matanza foi o lugar escolhido por Milei para relançar sua campanha naquele mês, desfilando na traseira de uma caminhonete enquanto assinava livros, capas de celulares e até uma mochila da Rappi entregue pelos fãs. Uma semana depois, lá se foi o rival a recuperar terreno no que chamou de “capital nacional do peronismo”.

O susto pelo avanço do libertário na região historicamente ligada ao movimento de Perón é um dos fatores que ajudam a explicar sua “retomada”. Contribuem ainda uma forte atuação da Igreja Católica e um pacote de benefícios sociais levado a cabo pelo ministro para aliviar o bolso do eleitor a semanas do primeiro turno, em meio a uma crise econômica e inflação anual de 138% que come os salários.

“Quando íamos às casas antes das primárias, tudo o que escutávamos era inflação e insegurança. Depois, Massa fez um monte de medidas e as pessoas passaram a dizer que iam votar nele porque ia assegurar seus direitos”, conta Gabriela Luna, 46, diretora de um centro comunitário local que fez campanha para o peronista.

Os votos do ultraliberal na cidade despencaram de 23% na primeira votação para apenas 4% na última, enquanto os do ministro saltaram de 39% para 53%. “Milei se meteu em falar de aposentadorias e tirar subsídios num país cheio de subsídios, por mais insuficientes que eles sejam”, afirma a funcionária pública de saúde, ponderando que Massa, próximo a empresários, não seria seu candidato preferido.

Outra seara perigosa na qual Milei entrou foi falar de papa. Milei já chamou Jorge Bergoglio de “representante do mal na Terra”, “personagem nefasto” e o acusou de estar “ao lado de ditaduras sangrentas” e do comunismo, obrigando o pontífice a rebater que “Messias só há um, os demais são palhaços do messianismo”.

A estratégia política —que até agora nenhum analista conseguiu entender— foi particularmente cara numa cidade onde a imagem de Francisco está grafitada a cada esquina. “Todas as quadras, parques coloridos que você vê aqui para as crianças, foram os ‘cura villeros’ que fizeram”, conta o sapateiro Roberto Coronel, 55, evocando uma figura icônica na Argentina.

Os curas são sacerdotes ligados ao peronismo que vivem nas comunidades sob o princípio da justiça social. Segundo os moradores, nos últimos seis anos, foram os responsáveis por transformar um cenário de narcotráfico, vício em drogas e desmanche de carros roubados que existia ali. Quando cai a tarde, é comum ver mulheres levando seus tupperwares para buscar o jantar da família na igreja.

Para Roberto, o peronismo sempre foi a única opção eleitoral porque é a que “reparte melhor a torta”. “A gente faz a parte do leão e fica com a parte do rato”, diz, sorrindo, enquanto calcula o quanto a fábrica lhe paga. Os patrões deram férias forçadas aos funcionários por duas semanas após as eleições para ver o que aconteceria com os preços. “Eles especulam e se garantem, mas a gente fica sem ganhar.”

A grande massa popular presente na região explica a forte presença do movimento político, dizem. Nem dois casos de corrupção que atingiram o kirchnerismo a dias das eleições tiveram efeitos nas urnas da província. “Não pode ser que um [Martín] Insaurralde faça tanta diferença na sua vida”, minimiza o sapateiro, citando um prefeito que gerou um escândalo no país ao passear de iate com uma modelo na Itália.

Tampouco a inflação sob a gestão Massa parece ter contado na decisão no último domingo em La Matanza. O sindicalista Emmanuel tem uma teoria sobre por que isso não caiu na conta do ministro: “O povo vive o dia a dia, aqui o governo não tem muita cara. O morador xinga o dono da quitanda, e o dono da quitanda é quem xinga o Massa”.

JÚLIA BARBON / Folhapress

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