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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Há 20 anos, o sonho do Brasil de se tornar capaz de lançar satélites à órbita terrestre terminou em tragédia, com o acidente do terceiro protótipo do VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. O incêndio matou 21 técnicos e engenheiros em 22 de agosto de 2003, três dias antes do dia previsto para o voo, e até hoje o programa espacial brasileiro patina, sem se recuperar do desastre.

No atual momento, a expectativa é que um novo lançador nacional, o VLM-1 (Veículo Lançador de Microssatélites), possa realizar sua primeira missão em março de 2027, segundo a Agência Espacial Brasileira (AEB). É basicamente uma versão simplificada -e menos potente- do antigo projeto brasileiro, capaz de transportar satélites de 10 a 100 quilos a uma órbita terrestre baixa (o VLS-1 podia levar até 380 kg).

É preciso ser otimista, contudo, para acreditar que o cronograma vai se cumprir como projetam os gerentes do projeto. Uma consulta à última versão do PNAE, o Programa Nacional de Atividades Espaciais, documento oficial que lista as ambições brasileiras na área, publicado em 2021, indica que o VLM-1 deveria ter seu primeiro voo em 2025. Resumo: passaram-se dois anos, e ele atrasou dois anos.

Não seria nada demais, não fosse a tônica do desenvolvimento dos lançadores nacionais há décadas. Logo após a comoção pelo acidente com o VLS-1, em 2003, o então (e agora novamente) presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu que o próximo voo do foguete ocorreria antes do fim de seu mandato, em 2006. Aí ficou para 2007. Depois para 2010. Em seguida para 2013. E em 2016 o programa foi cancelado, para que se desse prioridade ao nascente VLM-1, que tinha voo marcado para 2019.

Parte das dificuldades mais recentes tem a ver com a empresa Avibras, de São José dos Campos (SP), contratada para produzir o novo motor dos dois primeiros estágios do foguete. Fortemente endividada, a companhia pediu recuperação judicial em 2022, e o plano para recuperá-la foi aprovado pelos credores em julho deste ano.

Um exemplar do novo motor -o S50, maior já feito no Brasil, com 12 toneladas de propelente e fibra de carbono como matéria-prima para sua estrutura- foi testado com sucesso em solo em outubro de 2021. Mas nem deu para celebrar muito. Um segundo teste do tipo, em que o motor é afixado ao chão e realiza sua queima, ocorreria em meados de 2022, mas a Avibras não conseguiu entregá-lo em tempo. A expectativa é que o teste só venha a ocorrer em junho de 2024.

LEGADO DA TRAGÉDIA

A despeito das dificuldades, a AEB destaca os avanços feitos desde o acidente trágico de 2003. “Uma extensa investigação resultou em uma compreensão mais profunda dos fatores que contribuíram para o acidente e um dos principais avanços foi o aprimoramento dos processos de fabricação e testes”, diz a agência. “Além disso, medidas como a redução do escopo, que evita saltos tecnológicos abruptos, a introdução de etapas intermediárias mitigadoras de riscos, e a revisão das políticas e procedimentos de segurança são exemplos de lições aprendidas e incorporadas em projetos subsequentes.”

Herdeiro desse legado, o VLM-1 foi projetado pelo IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), órgão da Força Aérea Brasileira, com financiamento da AEB. Entre seu início oficial em 2014 e hoje, o projeto consumiu R$ 144,9 milhões. Ele é desenvolvido em parceria com a DLR, agência espacial alemã, que é responsável por diversos componentes, entre os quais os sistemas de controle e navegação, os adaptadores interestágios, a coifa (no interior da qual se transporta a carga útil) e o sistema que controla a direção das tubeiras dos motores. A maioria deles já foi produzida. É o lado brasileiro que atrasa o projeto -o que torna sua inserção no mercado comercial de lançamentos cada vez menos provável.

POUCO MERCADO

“O VLM começou a ser pensado em 2008, época em que a própria SpaceX não tinha alcançado o espaço e existiam dúvidas sobre sua continuidade”, explica Lucas Fonseca, engenheiro espacial e CEO da empresa Airvantis, não envolvido com a iniciativa. “Havia uma tendência de que parte dos satélites da década de 2010 seriam de tamanho reduzido, e o VLM seria o primeiro veículo no mundo destinado para esse novo mercado, garantindo autonomia para lançamentos menores.”

Com efeito, embora o VLM ainda não tenha saído, diversas startups espaciais surgiram com veículos de pequeno porte, das quais a que mais se destaca hoje é a Rocket Lab, com seu foguete Electron (que realizou seu primeiro voo bem-sucedido em 2018, tornando a Nova Zelândia o 16º país a realizar um lançamento orbital). Mas todas estão hoje sufocadas pelo sucesso da SpaceX, de Elon Musk.

“O preço dos lançamentos caiu significativamente, e o mercado acabou caminhando para soluções em que múltiplos são lançados juntos em um veículo de grande porte, como faz a SpaceX”, diz Fonseca. “Eu diria que o VLM ficou preso no tempo, e pouco impactará no mercado espacial caso voe um dia.”

Consultada a esse respeito, a AEB destaca que o objetivo principal do lançador é viabilizar o acesso brasileiro à órbita terrestre, “para assegurar sua independência no âmbito espacial”. É essencialmente a mesma motivação que levou à criação do VLS-1, em 1980. E não está errada. Mas precisa se tornar realidade. A verdade é que, nas últimas duas décadas, nunca o Brasil esteve tão perto de lançar um satélite com um foguete nacional quanto nos dias que antecederam o terrível acidente de Alcântara em 2003.

SALVADOR NOGUEIRA / Folhapress

20 anos após tragédia de Alcântara, Brasil segue longe de ter lançador próprio

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Há 20 anos, o sonho do Brasil de se tornar capaz de lançar satélites à órbita terrestre terminou em tragédia, com o acidente do terceiro protótipo do VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. O incêndio matou 21 técnicos e engenheiros em 22 de agosto de 2003, três dias antes do dia previsto para o voo, e até hoje o programa espacial brasileiro patina, sem se recuperar do desastre.

No atual momento, a expectativa é que um novo lançador nacional, o VLM-1 (Veículo Lançador de Microssatélites), possa realizar sua primeira missão em março de 2027, segundo a Agência Espacial Brasileira (AEB). É basicamente uma versão simplificada -e menos potente- do antigo projeto brasileiro, capaz de transportar satélites de 10 a 100 quilos a uma órbita terrestre baixa (o VLS-1 podia levar até 380 kg).

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É preciso ser otimista, contudo, para acreditar que o cronograma vai se cumprir como projetam os gerentes do projeto. Uma consulta à última versão do PNAE, o Programa Nacional de Atividades Espaciais, documento oficial que lista as ambições brasileiras na área, publicado em 2021, indica que o VLM-1 deveria ter seu primeiro voo em 2025. Resumo: passaram-se dois anos, e ele atrasou dois anos.

Não seria nada demais, não fosse a tônica do desenvolvimento dos lançadores nacionais há décadas. Logo após a comoção pelo acidente com o VLS-1, em 2003, o então (e agora novamente) presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu que o próximo voo do foguete ocorreria antes do fim de seu mandato, em 2006. Aí ficou para 2007. Depois para 2010. Em seguida para 2013. E em 2016 o programa foi cancelado, para que se desse prioridade ao nascente VLM-1, que tinha voo marcado para 2019.

Parte das dificuldades mais recentes tem a ver com a empresa Avibras, de São José dos Campos (SP), contratada para produzir o novo motor dos dois primeiros estágios do foguete. Fortemente endividada, a companhia pediu recuperação judicial em 2022, e o plano para recuperá-la foi aprovado pelos credores em julho deste ano.

Um exemplar do novo motor -o S50, maior já feito no Brasil, com 12 toneladas de propelente e fibra de carbono como matéria-prima para sua estrutura- foi testado com sucesso em solo em outubro de 2021. Mas nem deu para celebrar muito. Um segundo teste do tipo, em que o motor é afixado ao chão e realiza sua queima, ocorreria em meados de 2022, mas a Avibras não conseguiu entregá-lo em tempo. A expectativa é que o teste só venha a ocorrer em junho de 2024.

LEGADO DA TRAGÉDIA

A despeito das dificuldades, a AEB destaca os avanços feitos desde o acidente trágico de 2003. “Uma extensa investigação resultou em uma compreensão mais profunda dos fatores que contribuíram para o acidente e um dos principais avanços foi o aprimoramento dos processos de fabricação e testes”, diz a agência. “Além disso, medidas como a redução do escopo, que evita saltos tecnológicos abruptos, a introdução de etapas intermediárias mitigadoras de riscos, e a revisão das políticas e procedimentos de segurança são exemplos de lições aprendidas e incorporadas em projetos subsequentes.”

Herdeiro desse legado, o VLM-1 foi projetado pelo IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), órgão da Força Aérea Brasileira, com financiamento da AEB. Entre seu início oficial em 2014 e hoje, o projeto consumiu R$ 144,9 milhões. Ele é desenvolvido em parceria com a DLR, agência espacial alemã, que é responsável por diversos componentes, entre os quais os sistemas de controle e navegação, os adaptadores interestágios, a coifa (no interior da qual se transporta a carga útil) e o sistema que controla a direção das tubeiras dos motores. A maioria deles já foi produzida. É o lado brasileiro que atrasa o projeto -o que torna sua inserção no mercado comercial de lançamentos cada vez menos provável.

POUCO MERCADO

“O VLM começou a ser pensado em 2008, época em que a própria SpaceX não tinha alcançado o espaço e existiam dúvidas sobre sua continuidade”, explica Lucas Fonseca, engenheiro espacial e CEO da empresa Airvantis, não envolvido com a iniciativa. “Havia uma tendência de que parte dos satélites da década de 2010 seriam de tamanho reduzido, e o VLM seria o primeiro veículo no mundo destinado para esse novo mercado, garantindo autonomia para lançamentos menores.”

Com efeito, embora o VLM ainda não tenha saído, diversas startups espaciais surgiram com veículos de pequeno porte, das quais a que mais se destaca hoje é a Rocket Lab, com seu foguete Electron (que realizou seu primeiro voo bem-sucedido em 2018, tornando a Nova Zelândia o 16º país a realizar um lançamento orbital). Mas todas estão hoje sufocadas pelo sucesso da SpaceX, de Elon Musk.

“O preço dos lançamentos caiu significativamente, e o mercado acabou caminhando para soluções em que múltiplos são lançados juntos em um veículo de grande porte, como faz a SpaceX”, diz Fonseca. “Eu diria que o VLM ficou preso no tempo, e pouco impactará no mercado espacial caso voe um dia.”

Consultada a esse respeito, a AEB destaca que o objetivo principal do lançador é viabilizar o acesso brasileiro à órbita terrestre, “para assegurar sua independência no âmbito espacial”. É essencialmente a mesma motivação que levou à criação do VLS-1, em 1980. E não está errada. Mas precisa se tornar realidade. A verdade é que, nas últimas duas décadas, nunca o Brasil esteve tão perto de lançar um satélite com um foguete nacional quanto nos dias que antecederam o terrível acidente de Alcântara em 2003.

SALVADOR NOGUEIRA / Folhapress

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