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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Clara Carvalho nem sabe o que vai dizer à plateia ao final da sessão de “Agnes de Deus” na noite deste domingo, dia 3. Será a última peça a ser encenada no Teatro Aliança Francesa, que fechará as portas em definitivo. Para a atriz, as últimas semanas têm sido melancólicas. “Estou vivendo um luto desgraçado”, diz ela. “Tenho muita história naquele tablado.”

Há quase 40 anos, Carvalho interpreta ali os seus personagens. A tradicional sala de espetáculos na Vila Buarque, no centro da capital paulista, abrigou, de 1986 até 2001, todas as produções do Grupo Tapa, companhia da qual a atriz faz parte. Ela recorda suas atuações em “O Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, e “Ivánov”, de Anton Tchekhov, dois fenômenos de público e crítica nos anos 1990.

À lista, se somam produções sem a companhia, como “Agnes de Deus”. No momento, ela vê o fim de um período em sua carreira se dar nos termos de um thriller psicológico. Dirigida por Murillo Basso, a peça do americano John Pielmeier investiga o assassinato de um recém-nascido. Na história, Carvalho vive a psiquiatra Dra. Martha.

Por ironia, ela conta ter se encantado pela arte teatral, frequentando o curso de língua e civilização francesa, oferecido pela Aliança do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. “Agora é diferente, o curso está tirando o teatro de mim”, afirma. Decerto, os tempos são outros. O fechamento do teatro ocorre pelas dificuldades financeiras por que a Aliança Francesa passa.

A sala fica no interior do prédio, que abriga uma filial do centro de ensino e sua sede administrativa em São Paulo. O teatro funciona graças aos recursos da Aliança. Atualmente, porém, a instituição não tem como arcar com as despesas do edifício e, por extensão, do teatro.

“Dois andares inteiros do prédio estão vazios, sem alunos”, diz o francês Nicolas Duvialard, diretor-geral da Aliança Francesa de São Paulo. A queda na procura pelos cursos se combina à nova dinâmica dos ensinos de língua estrangeira. Duvialard afirma que, depois da pandemia, 82% das aulas passaram a ser online.

Nesse cenário, a instituição decidiu botar à venda o imóvel. Já a sede administrativa da Aliança será transferida para a unidade na Faria Lima. A tendência, afirma o diretor, é concentrar as filiais nas regiões onde vive a maioria dos alunos, nos bairros ricos da cidade. A situação espelha o momento da Aliança nas regiões em que atua no Brasil.

Os últimos três anos foram marcados por demissões de professores e vendas de edifícios. Como pano de fundo, a língua francesa já não orienta a formação cultural das classes médias, como ocorreu com Carvalho. A primazia é do inglês.

Com a venda iminente do teatro, a produtora Livia Carmona, que trabalhou na sala por 11 anos, entrou, em agosto, com duas ações, pedindo o tombamento do prédio —uma no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, e outra na Secretaria Municipal de Cultura.

“Os processos demoram, não sei se vai dar tempo. Talvez percamos um teatro que já foi frequentado por Eugène Ionesco”, diz, mencionado o mestre do teatro do absurdo. Construído nos anos 1950, o edifício foi projetado pelo francês Jacques Pilon, o mesmo arquiteto da Biblioteca Mário de Andrade.

O teatro, que neste ano completa 60 anos, foi um ponto de resistência na ditadura militar. A sala recebeu peças históricas, como a estreia, em 1969, de “Fala Baixo Senão Eu Grito”, de Leilah Assumpção, estrelando Marília Pêra, e “Um Grito Parado no Ar”, de Gianfrancesco Guarnieri, com Othon Bastos.

Diretor da Associação de Produtores Teatrais Independentes, a APTI, André Acioli identifica um processo de fechamento de teatros de rua na cidade. Em 2021, o Espaço Viga encerrou as atividades e, no ano passado, foi a vez do Alfa.

Acioli diz que os produtores culturais não podem fazer nada, porque muitas salas, como a do Aliança Francesa, estão em propriedades privadas. “É nesse momento que vemos a falta de uma política pública de fomento ao teatro”, diz ele. “Agora muitas pessoas estão perdendo o trabalho. O impacto é artístico e econômico.”

GUSTAVO ZEITEL / Folhapress

Teatro Aliança Francesa, no centro de SP, fecha as portas com a peça ‘Agnes de Deus’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Clara Carvalho nem sabe o que vai dizer à plateia ao final da sessão de “Agnes de Deus” na noite deste domingo, dia 3. Será a última peça a ser encenada no Teatro Aliança Francesa, que fechará as portas em definitivo. Para a atriz, as últimas semanas têm sido melancólicas. “Estou vivendo um luto desgraçado”, diz ela. “Tenho muita história naquele tablado.”

Há quase 40 anos, Carvalho interpreta ali os seus personagens. A tradicional sala de espetáculos na Vila Buarque, no centro da capital paulista, abrigou, de 1986 até 2001, todas as produções do Grupo Tapa, companhia da qual a atriz faz parte. Ela recorda suas atuações em “O Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, e “Ivánov”, de Anton Tchekhov, dois fenômenos de público e crítica nos anos 1990.

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À lista, se somam produções sem a companhia, como “Agnes de Deus”. No momento, ela vê o fim de um período em sua carreira se dar nos termos de um thriller psicológico. Dirigida por Murillo Basso, a peça do americano John Pielmeier investiga o assassinato de um recém-nascido. Na história, Carvalho vive a psiquiatra Dra. Martha.

Por ironia, ela conta ter se encantado pela arte teatral, frequentando o curso de língua e civilização francesa, oferecido pela Aliança do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. “Agora é diferente, o curso está tirando o teatro de mim”, afirma. Decerto, os tempos são outros. O fechamento do teatro ocorre pelas dificuldades financeiras por que a Aliança Francesa passa.

A sala fica no interior do prédio, que abriga uma filial do centro de ensino e sua sede administrativa em São Paulo. O teatro funciona graças aos recursos da Aliança. Atualmente, porém, a instituição não tem como arcar com as despesas do edifício e, por extensão, do teatro.

“Dois andares inteiros do prédio estão vazios, sem alunos”, diz o francês Nicolas Duvialard, diretor-geral da Aliança Francesa de São Paulo. A queda na procura pelos cursos se combina à nova dinâmica dos ensinos de língua estrangeira. Duvialard afirma que, depois da pandemia, 82% das aulas passaram a ser online.

Nesse cenário, a instituição decidiu botar à venda o imóvel. Já a sede administrativa da Aliança será transferida para a unidade na Faria Lima. A tendência, afirma o diretor, é concentrar as filiais nas regiões onde vive a maioria dos alunos, nos bairros ricos da cidade. A situação espelha o momento da Aliança nas regiões em que atua no Brasil.

Os últimos três anos foram marcados por demissões de professores e vendas de edifícios. Como pano de fundo, a língua francesa já não orienta a formação cultural das classes médias, como ocorreu com Carvalho. A primazia é do inglês.

Com a venda iminente do teatro, a produtora Livia Carmona, que trabalhou na sala por 11 anos, entrou, em agosto, com duas ações, pedindo o tombamento do prédio —uma no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, e outra na Secretaria Municipal de Cultura.

“Os processos demoram, não sei se vai dar tempo. Talvez percamos um teatro que já foi frequentado por Eugène Ionesco”, diz, mencionado o mestre do teatro do absurdo. Construído nos anos 1950, o edifício foi projetado pelo francês Jacques Pilon, o mesmo arquiteto da Biblioteca Mário de Andrade.

O teatro, que neste ano completa 60 anos, foi um ponto de resistência na ditadura militar. A sala recebeu peças históricas, como a estreia, em 1969, de “Fala Baixo Senão Eu Grito”, de Leilah Assumpção, estrelando Marília Pêra, e “Um Grito Parado no Ar”, de Gianfrancesco Guarnieri, com Othon Bastos.

Diretor da Associação de Produtores Teatrais Independentes, a APTI, André Acioli identifica um processo de fechamento de teatros de rua na cidade. Em 2021, o Espaço Viga encerrou as atividades e, no ano passado, foi a vez do Alfa.

Acioli diz que os produtores culturais não podem fazer nada, porque muitas salas, como a do Aliança Francesa, estão em propriedades privadas. “É nesse momento que vemos a falta de uma política pública de fomento ao teatro”, diz ele. “Agora muitas pessoas estão perdendo o trabalho. O impacto é artístico e econômico.”

GUSTAVO ZEITEL / Folhapress

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