Warning: Undefined array key 0 in /var/www/vhosts/4x4dev.com.br/httpdocs/thmais/wp-content/themes/Newspaper-child/functions.php on line 690

Warning: Undefined array key 0 in /var/www/vhosts/4x4dev.com.br/httpdocs/thmais/wp-content/themes/Newspaper-child/functions.php on line 690
Botão TV AO VIVO TV AO VIVO Ícone TV
RÁDIO AO VIVO Ícone Rádio
spot_img

compartilhar:

O presidente reúne os jornalistas para uma entrevista coletiva. Anuncia que o governo patrocinará a produção de carros populares. A população reclama que os preços estão muito altos e com os juros, também nas alturas, não consegue comprar um veículo. As montadoras transplantadas para o Brasil dão todo apoio ao presidente. Os pátios das fábricas estão lotados e é preciso desovar o encalhe para retomar a produção. É, sem dúvida, uma medida populista uma vez que é transitória e todo mundo sabe que não vai durar. Do outro lado, o governo teme que as fábricas comecem a demitir em massa e isso vai detonar a imagem do governo e do presidente. Afinal, a região do ABC paulista concentra um número respeitável de sindicatos e boa parte da oposição tem origem ali. A indústria de autopeças, por sua vez, sem compradores, faz parte da cadeia de produção automobilística e se encontra na mesma situação.

As montadoras precisam remunerar os acionistas na Europa ou nos Estados Unidos. Não admitem que haja uma crise e as ações caiam nas bolsas de valores. Para garantir a rentabilidade, o setor sustenta um fortíssimo lobby em Brasília, que ora está no Palácio do Planalto, ora nos gabinetes de deputados e senadores. Todos sabem que o governo está com o cofre arrombado e precisa arrecadar mais impostos para cumprir os compromissos sociais garantidos na Constituição. Racionalmente não pode abrir mão da arrecadação de impostos, mas o populismo fala mais alto. O carro popular pode ficar mais barato e acessível às camadas mais pobres da população se o imposto for reduzido. O governo anuncia que vai reduzir o IPI –  Imposto sobre Produtos Industrializados a alíquotas mínimas. Com isso o preço cai, o público compra, as montadoras se livram do encalhe, os empregos são preservados e os sindicatos não vão se opor. É uma estratégia  perfeita e isso pode até ajudar o presidente a se candidatar à reeleição. Ficaria melhor se os estados onde estão localizadas as fábricas também reduzissem o ICM, um pesado encargo na formação do preço de um carro.

As maiores montadoras já têm os modelos prontos. Para reduzir o preço dos carros, eles serão apresentados “pelados“, ou seja, sem uma série de acessórios que encarecem o produto. O presidente Itamar Franco, sucessor de Fernando Collor, se apresenta na fábrica da Volkswagen para dar início ao programa. Toda a mídia está lá para mostrar Itamar a bordo de um “Pé de Boi”, um fusquinha sem nenhum equipamento chamado de opcional, elevado à condição de o grande vilão dos preços inacessíveis. Mas é o que temos para hoje, dizem os membros do governo, que não prestam atenção às piadas sobre o carro. Há quem diga que o próximo passo vai ser acabar com o rádio transistorizado e a substituição por um novinho a válvula. O valor de um automóvel dito popular é de Cr$ 5.000,00. Outras montadoras entram na competição – a DKW com o Pracinha, a Willys com o Teimoso e Simca com o Profissional. Há um leque de opções para quem tem dinheiro na poupança, um dos locais preferidos da população para peitar a hiperinflação em que vive o Brasil. O programa deve ser de curta duração e os jornalistas especializados em indústria automobilística garantem que depois disso nunca mais o país vai voltar a inventar um “carro popular”. 

Carro popular para o povo

Heródoto Barbeiro
Heródoto Barbeirohttps://herodoto.com.br/
Heródoto foi o primeiro transmídia da TV brasileira. Jornalista, também é historiador, advogado e professor universitário da Universidade de São Paulo. Possui mais de 50 livros publicados, alguns deles utilizados como referência básica no curso de jornalismo. Já foi âncora de grandes jornais televisivos e apresentou o Roda Viva, da TV Cultura,. Atualmente é apresentador do Jornal Nova Brasil.
Carros populares | Foto: Alf Ribeiro / SHUTTERSTOCK
Carros populares | Foto: Alf Ribeiro / SHUTTERSTOCK

O presidente reúne os jornalistas para uma entrevista coletiva. Anuncia que o governo patrocinará a produção de carros populares. A população reclama que os preços estão muito altos e com os juros, também nas alturas, não consegue comprar um veículo. As montadoras transplantadas para o Brasil dão todo apoio ao presidente. Os pátios das fábricas estão lotados e é preciso desovar o encalhe para retomar a produção. É, sem dúvida, uma medida populista uma vez que é transitória e todo mundo sabe que não vai durar. Do outro lado, o governo teme que as fábricas comecem a demitir em massa e isso vai detonar a imagem do governo e do presidente. Afinal, a região do ABC paulista concentra um número respeitável de sindicatos e boa parte da oposição tem origem ali. A indústria de autopeças, por sua vez, sem compradores, faz parte da cadeia de produção automobilística e se encontra na mesma situação.

As montadoras precisam remunerar os acionistas na Europa ou nos Estados Unidos. Não admitem que haja uma crise e as ações caiam nas bolsas de valores. Para garantir a rentabilidade, o setor sustenta um fortíssimo lobby em Brasília, que ora está no Palácio do Planalto, ora nos gabinetes de deputados e senadores. Todos sabem que o governo está com o cofre arrombado e precisa arrecadar mais impostos para cumprir os compromissos sociais garantidos na Constituição. Racionalmente não pode abrir mão da arrecadação de impostos, mas o populismo fala mais alto. O carro popular pode ficar mais barato e acessível às camadas mais pobres da população se o imposto for reduzido. O governo anuncia que vai reduzir o IPI –  Imposto sobre Produtos Industrializados a alíquotas mínimas. Com isso o preço cai, o público compra, as montadoras se livram do encalhe, os empregos são preservados e os sindicatos não vão se opor. É uma estratégia  perfeita e isso pode até ajudar o presidente a se candidatar à reeleição. Ficaria melhor se os estados onde estão localizadas as fábricas também reduzissem o ICM, um pesado encargo na formação do preço de um carro.

- Advertisement -anuncio

As maiores montadoras já têm os modelos prontos. Para reduzir o preço dos carros, eles serão apresentados “pelados“, ou seja, sem uma série de acessórios que encarecem o produto. O presidente Itamar Franco, sucessor de Fernando Collor, se apresenta na fábrica da Volkswagen para dar início ao programa. Toda a mídia está lá para mostrar Itamar a bordo de um “Pé de Boi”, um fusquinha sem nenhum equipamento chamado de opcional, elevado à condição de o grande vilão dos preços inacessíveis. Mas é o que temos para hoje, dizem os membros do governo, que não prestam atenção às piadas sobre o carro. Há quem diga que o próximo passo vai ser acabar com o rádio transistorizado e a substituição por um novinho a válvula. O valor de um automóvel dito popular é de Cr$ 5.000,00. Outras montadoras entram na competição – a DKW com o Pracinha, a Willys com o Teimoso e Simca com o Profissional. Há um leque de opções para quem tem dinheiro na poupança, um dos locais preferidos da população para peitar a hiperinflação em que vive o Brasil. O programa deve ser de curta duração e os jornalistas especializados em indústria automobilística garantem que depois disso nunca mais o país vai voltar a inventar um “carro popular”. 

COMPARTILHAR:

spot_img
spot_img

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTICIAS RELACIONADAS

Thmais
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.