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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No dia do seu aniversário, um homem solitário volta para casa depois do décimo trago. Não é capaz de perceber seu próprio envelhecimento. Por outro lado, parece contaminado por estímulos externos, que fazem a inveja arder. “Não é do carro que você tem inveja, é do barulho que ele produz rasgando o silêncio da cidade”, ele reflete.

Na sala de fisioterapia, um artista, com um livro nas mãos, observa as outras pessoas em tratamento e não disfarça o ar esnobe. “Esse baixote ensebado, com essa aparência cartorial, talvez o mais chato de todos os chatos que frequentam esta porcaria de clínica, o que ele acha que pode ter a ver comigo?”, pensa.

O primeiro momento está em “Inveja”, e o segundo, em “Fisioterapia”, dois dos 24 contos que compõem “Inveja e Outras Histórias”, o novo livro do paulistano Bernardo Ajzenberg, autor de romances como “A Gaiola de Faraday”, de 2002, prêmio de ficção do ano da Academia Brasileira de Letras, e “Gostar de Ostras”, de 2017.

A baixeza humana e nossa dificuldade para compreendê-la é um dos temas que percorrem a obra. “Tenho uma inquietação em relação aos comportamentos que, muitas vezes, são inexplicáveis. Especialmente os sentimentos menores, que demonstram falta de nobreza. Como eles surgem? Como se expandem?”, diz o autor.

Toda essa curiosidade não leva a tratados de psicanálise ou sociologia sobre o mal inerente aos homens ou coisa assim. Estamos no terreno da literatura, no qual as dúvidas não servem à ciência, mas à imaginação, como Ajzenberg sabe desde seu romance de estreia, “Carreiras Cortadas”, de 1989.

Se há um campo com o qual a ficção do autor dialoga, é o jornalismo -e, ainda assim, em termos. Ele atuou em veículos da imprensa, como a Folha, onde foi ombudsman de 2001 a 2004, entre outras funções. Hoje, além da escrita, está à frente de um sebo em São Paulo, o Tucambira, e faz traduções.

“Na minha ficção, procuro fugir do texto jornalístico. Mas há dois aspectos do meu trabalho ligados ao jornalismo. Um é a precisão nas descrições, o outro é uma observação atenta de tudo o que acontece ao meu redor, o que vejo nas ruas, o que ouço na padaria”, diz.

Aliás, a concepção dos contos é, em grande parte, decorrente desse radar sensível. “Escrevo os contos numa espécie de impulso, a partir de um sentimento, de um incidente.”

Bernardo Ajzenberg na Redação da Folha, em 1991 Niels Andreas fev.1991/Folhapress SÃO PAULO, SP, BRASIL, 20.02.191991: Preparação da edição e reunião de redação (Foto: Niels Andreas/Folhapress. Negativo: 1926/1991) **** Em meio a uma trajetória com 11 livros de ficção, “Inveja e Outras Histórias” é apenas a segunda obra dedicada aos contos –a primeira foi “Homens com Mulheres”, de 2005. “Romance e conto são novelos diferentes. O primeiro vai sendo desfiado ao longo do tempo, o segundo é como se fosse um nó”, afirma.

Em uns e em outros, a questão judaica está presente, nunca de modo convencional. Em um dos contos do novo livro, um menino fala sobre a ferida na canela da avó. “Baixinha, minha avó, um metro e meio se tanto. A pele clara. Mas eu também era pequeno, criança atenta, e a ferida exposta do tamanho de uma rodela de tomate era a primeira coisa que atraia meu olhar quando estava diante dela, apesar da doçura e do abraço que eu sempre recebia.”

Ateu, Ajzenberg diz manter uma relação tensa com o judaísmo. “Mas essa tensão é parte do que eu sou. Escrever a partir dessas referências –onde eu moro, como vivo– é uma maneira de falar mais profundamente sobre algum tema.”

O conto “Cinco Minutos” é dedicado a Vitor Gurman, sobrinho de Ajzenberg que foi atropelado e morto em uma rua da Vila Madalena em 2011, episódio que impulsionou manifestações pela paz no trânsito. O texto presume quais teriam sido os pensamentos do rapaz de 24 anos nos instantes que antecederam o crime. Um “exercício de luto”, segundo o escritor.

“Inveja e Outras Histórias” passa por momentos angustiantes como esse e pelos “sentimentos menores”, nas palavras de Ajzenberg. Há, entretanto, humor, não aquele que desata a gargalhada, mas um sorriso discreto. Para o autor, a ironia mostra que “existe um perigo à frente”. A literatura é, entre tantas coisas, um sinal de alerta.

INVEJA E OUTRAS HISTÓRIAS

Preço: R$ 49,90

Autoria: Bernardo Ajzenberg

Editora: Grua (174 págs.)

NAIEF HADDAD / Folhapress

Bernardo Ajzenberg investiga a baixeza do ser humano em livro de contos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No dia do seu aniversário, um homem solitário volta para casa depois do décimo trago. Não é capaz de perceber seu próprio envelhecimento. Por outro lado, parece contaminado por estímulos externos, que fazem a inveja arder. “Não é do carro que você tem inveja, é do barulho que ele produz rasgando o silêncio da cidade”, ele reflete.

Na sala de fisioterapia, um artista, com um livro nas mãos, observa as outras pessoas em tratamento e não disfarça o ar esnobe. “Esse baixote ensebado, com essa aparência cartorial, talvez o mais chato de todos os chatos que frequentam esta porcaria de clínica, o que ele acha que pode ter a ver comigo?”, pensa.

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O primeiro momento está em “Inveja”, e o segundo, em “Fisioterapia”, dois dos 24 contos que compõem “Inveja e Outras Histórias”, o novo livro do paulistano Bernardo Ajzenberg, autor de romances como “A Gaiola de Faraday”, de 2002, prêmio de ficção do ano da Academia Brasileira de Letras, e “Gostar de Ostras”, de 2017.

A baixeza humana e nossa dificuldade para compreendê-la é um dos temas que percorrem a obra. “Tenho uma inquietação em relação aos comportamentos que, muitas vezes, são inexplicáveis. Especialmente os sentimentos menores, que demonstram falta de nobreza. Como eles surgem? Como se expandem?”, diz o autor.

Toda essa curiosidade não leva a tratados de psicanálise ou sociologia sobre o mal inerente aos homens ou coisa assim. Estamos no terreno da literatura, no qual as dúvidas não servem à ciência, mas à imaginação, como Ajzenberg sabe desde seu romance de estreia, “Carreiras Cortadas”, de 1989.

Se há um campo com o qual a ficção do autor dialoga, é o jornalismo -e, ainda assim, em termos. Ele atuou em veículos da imprensa, como a Folha, onde foi ombudsman de 2001 a 2004, entre outras funções. Hoje, além da escrita, está à frente de um sebo em São Paulo, o Tucambira, e faz traduções.

“Na minha ficção, procuro fugir do texto jornalístico. Mas há dois aspectos do meu trabalho ligados ao jornalismo. Um é a precisão nas descrições, o outro é uma observação atenta de tudo o que acontece ao meu redor, o que vejo nas ruas, o que ouço na padaria”, diz.

Aliás, a concepção dos contos é, em grande parte, decorrente desse radar sensível. “Escrevo os contos numa espécie de impulso, a partir de um sentimento, de um incidente.”

Bernardo Ajzenberg na Redação da Folha, em 1991 Niels Andreas fev.1991/Folhapress SÃO PAULO, SP, BRASIL, 20.02.191991: Preparação da edição e reunião de redação (Foto: Niels Andreas/Folhapress. Negativo: 1926/1991) **** Em meio a uma trajetória com 11 livros de ficção, “Inveja e Outras Histórias” é apenas a segunda obra dedicada aos contos –a primeira foi “Homens com Mulheres”, de 2005. “Romance e conto são novelos diferentes. O primeiro vai sendo desfiado ao longo do tempo, o segundo é como se fosse um nó”, afirma.

Em uns e em outros, a questão judaica está presente, nunca de modo convencional. Em um dos contos do novo livro, um menino fala sobre a ferida na canela da avó. “Baixinha, minha avó, um metro e meio se tanto. A pele clara. Mas eu também era pequeno, criança atenta, e a ferida exposta do tamanho de uma rodela de tomate era a primeira coisa que atraia meu olhar quando estava diante dela, apesar da doçura e do abraço que eu sempre recebia.”

Ateu, Ajzenberg diz manter uma relação tensa com o judaísmo. “Mas essa tensão é parte do que eu sou. Escrever a partir dessas referências –onde eu moro, como vivo– é uma maneira de falar mais profundamente sobre algum tema.”

O conto “Cinco Minutos” é dedicado a Vitor Gurman, sobrinho de Ajzenberg que foi atropelado e morto em uma rua da Vila Madalena em 2011, episódio que impulsionou manifestações pela paz no trânsito. O texto presume quais teriam sido os pensamentos do rapaz de 24 anos nos instantes que antecederam o crime. Um “exercício de luto”, segundo o escritor.

“Inveja e Outras Histórias” passa por momentos angustiantes como esse e pelos “sentimentos menores”, nas palavras de Ajzenberg. Há, entretanto, humor, não aquele que desata a gargalhada, mas um sorriso discreto. Para o autor, a ironia mostra que “existe um perigo à frente”. A literatura é, entre tantas coisas, um sinal de alerta.

INVEJA E OUTRAS HISTÓRIAS

Preço: R$ 49,90

Autoria: Bernardo Ajzenberg

Editora: Grua (174 págs.)

NAIEF HADDAD / Folhapress

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