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NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – “Agora eu sou a morte, a destruidora de mundos.” A frase foi escrita há 2.500 anos e vem do “Mahabharata”, poema épico da Índia. Mas ela é associada nos dias de hoje a um evento mais recente da história do mundo, tão destrutivo quanto o seu enunciado: a bomba atômica. Em especial a seu criador, o físico J. Robert Oppenheimer, que recitou o trecho quando viu a arma em ação pela primeira vez, em julho de 1945.

A frase volta a aparecer agora, dita pelo cientista no original em sânscrito, mas pelas caixas de som dos cinemas. “Oppenheimer”, que estreia nesta quinta, reconta a vida do físico e de seu maior legado, com a megalomania de direito. Mas o épico de três horas de duração é um dos filmes mais intimistas da carreira de seu diretor, Christopher Nolan.

A escala do projeto da bomba incentivou o cineasta a querer levar a história para as telonas. “Queria que o público tivesse noção do tamanho da operação”, diz Nolan. “Quase tudo é contado do ponto de vista de Oppenheimer e, a partir dessas sequências, vemos a largura e a complexidade do que ele teve que lidar.”

A vida do criador da bomba atômica é tão interessante quanto a de sua criatura. Nascido em uma família abastada e sempre afundado nos livros, Oppenheimer foi da geração de cientistas que popularizou a física teórica nas universidades. Ele não venceu o Nobel, mas Oppie —como era conhecido— ajudou em inúmeras descobertas que receberam o prêmio.

Mas seu brilhantismo foi apagado pelo horror da era atômica, iniciada na Segunda Guerra Mundial. Com os nazistas empenhados em criar uma bomba mais poderosa, que ajudasse a vencer o conflito, Oppenheimer aceitou liderar mais de 600 mil americanos em ação similar, no que ficou conhecido como o Projeto Manhattan.

A armamentização da pesquisa e o talento de gerenciamento do físico ajudaram os aliados a vencerem a guerra. Mas a vida de Oppenheimer ficou definida pelo paradoxo: ao tentar impedir o avanço da guerra, ele a alimentou com a arma definitiva.

O físico passou o resto da vida lutando para desfazer esse mal, pedindo por uma cooperação global na área. O governo americano tinha outros planos, porém, e o puniu em uma extensa investigação que, pela perseguição aos comunistas, desfez seu capital político.

Essa trajetória é refeita no filme “Oppenheimer”. Para Nolan, ela serve como um teste de Rorschach ao público. “A história não é apenas política, mas convida a uma série de interpretações políticas”, diz. “Ela também não dá respostas, e eu gosto dessa ambiguidade.”

O longa sobra em material didático. A produção tem por base a biografia homônima escrita por Kai Bird e Martin J. Sherwin, lançada em 2005 e concluída após 25 anos de pesquisa. Mesmo depois de todo esse tempo debulhando a vida de Oppenheimer, porém, os dois autores não sabiam resumir a sua pessoa.

No prefácio, Bird e Sherwin comparam o cientista a duas figuras emblemáticas. Uma é Prometeu, o titã grego que roubou o fogo dos deuses e entregou aos homens. O outro é Fausto, clássico alemão do homem que fez um acordo com o diabo.

O filme de Christopher Nolan cita o mito grego, mas o diretor afirma que é essa confluência de imagens que torna a história mais atraente. Ao mesmo tempo, diz ele, essa mistura complicou o trabalho de adaptar o livro para o cinema.

“Ele parece escrito de maneira direta mas, quando comecei a escrever o roteiro, percebi que a construção era mais complicada”, declara o cineasta em conversa com jornalistas. “Os temas estão ligados à vida de Oppenheimer, e isso dá a sensação de uma história contada de forma cronológica.”

O diretor, então, resolveu refazer isso nas telas. O longa se divide em duas épocas distintas, narradas ao mesmo tempo e que se ligam no fim. Elas foram batizadas de fissão e fusão, processos atômicos relacionados ao funcionamento da bomba.

Dessa maneira, um quadro maior da história é retratado. Enquanto a primeira seção, “fissão”, acompanha Oppenheimer até o primeiro teste da arma nuclear, em 1945, a segunda, “fusão”, mostra a perseguição política ao cientista nos anos 1950. O espectador vê o físico, assim, tanto como Prometeu quanto o Fausto da era nuclear.

Nolan quis, também, facilitar ao máximo a narrativa. Na década de 1950, por exemplo, filma-se só em preto e branco a situação, que tem como protagonista Lewis Strauss, político que acompanhou de perto o assédio governamental a Oppenheimer.

O passado da guerra, enquanto isso, se vê em cores, aí sim com o cientista ao centro. O roteiro dessas cenas é escrito em primeira pessoa, uma abordagem nada ortodoxa. Para o diretor, foi a forma de criar diferentes perspectivas sobre um mesmo personagem.

Cillian Murphy, que vive Oppenheimer no filme, diz que essa manobra o ajudou a ver melhor o papel que o cineasta queria que desempenhasse. “Ele é uma figura desconhecida, e não é o protagonista tradicional”, afirma o ator. “Ele não segue um arco dramático que você vê nessas histórias, e para mim isso foi a parte mais deliciosa.”

Emily Blunt pensa parecido. A atriz faz Katherine Oppenheimer, a esposa do físico, e diz que o roteiro trata o protagonista como enigma, mas se interessa mesmo pelas consequências de seus atos.

“O filme é todo sobre o trauma de viver com aquela mente e o impacto daquelas ações”, afirma. “De algum jeito nós estamos na posição dele, e ficamos traumatizados com o que testemunhamos.”

“Oppenheimer” estreia em um momento oportuno. Apesar de contar histórias de pelo menos sete décadas atrás, o filme parece cronometrado com as tensões geopolíticas atuais. Em especial a Guerra da Ucrânia, que reavivou a preocupação do uso da bomba atômica.

Para definir essa sintonia entre a produção e o noticiário, Robert Downey Jr. e Matt Damon, integrantes do elenco do filme, citam a história de Dâmocles. A anedota grega conta de um cortesão, Dâmocles, que vira rei por um dia. Para seu desespero, ele descobre que uma espada pende sobre sua cabeça pelo tempo que governar, e nada pode fazer sobre isso.

“Nolan e eu temos a mesma idade, e parte da nossa adolescência envolveu o medo da bomba”, diz Damon, que faz o general supervisor do Projeto Manhattan. “Com o fim da Guerra Fria, isso sumiu da nossa consciência, porque é grande demais para considerarmos. Não entendo como esquecemos que essa espada de Dâmocles continua pendente sobre as nossas cabeças.”

Para Downey Jr., que vive Lewis Strauss no filme, tudo é mérito do realizador. “Nós já vivíamos nessa situação parecida com a de Dâmocles e, quando começamos a filmar, o mundo começou a tornar a história atual. Chris [Nolan] não tinha como saber isso, mas isso acontece quando um artista vai ao passado para refletir sobre o presente de maneira significativa.”

O tempo é a essência, do filme e da história. Robert Oppenheimer morreu há 56 anos, em fevereiro de 1967. Mas a bomba atômica, inventada 78 anos atrás, continua a atormentar a humanidade. O mundo já não é o mesmo há muito tempo.

O jornalista viajou a Nova York a convite da Universal Pictures

OPPENHEIMER

Quando Estreia nesta quinta (20) nos cinemas

Classificação 16 anos

Elenco Cillian Murphy, Robert Downey Jr. e Emily Blunt

Produção Estados Unidos, 2023

Direção Christopher Nolan

OPPENHEIMER: O TRIUNFO E A TRAGÉDIA DO PROMETEU AMERICANO

Preço R$ 99,90 (640 págs.); R$ 69,90 (ebook)

Autoria Kai Bird e Martin J. Sherwin

Editora Intrínseca

Tradução George Schlesinger

PEDRO STRAZZA / Folhapress

Como ‘Oppenheimer’ faz da bomba atômica a origem do mundo contemporâneo

NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – “Agora eu sou a morte, a destruidora de mundos.” A frase foi escrita há 2.500 anos e vem do “Mahabharata”, poema épico da Índia. Mas ela é associada nos dias de hoje a um evento mais recente da história do mundo, tão destrutivo quanto o seu enunciado: a bomba atômica. Em especial a seu criador, o físico J. Robert Oppenheimer, que recitou o trecho quando viu a arma em ação pela primeira vez, em julho de 1945.

A frase volta a aparecer agora, dita pelo cientista no original em sânscrito, mas pelas caixas de som dos cinemas. “Oppenheimer”, que estreia nesta quinta, reconta a vida do físico e de seu maior legado, com a megalomania de direito. Mas o épico de três horas de duração é um dos filmes mais intimistas da carreira de seu diretor, Christopher Nolan.

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A escala do projeto da bomba incentivou o cineasta a querer levar a história para as telonas. “Queria que o público tivesse noção do tamanho da operação”, diz Nolan. “Quase tudo é contado do ponto de vista de Oppenheimer e, a partir dessas sequências, vemos a largura e a complexidade do que ele teve que lidar.”

A vida do criador da bomba atômica é tão interessante quanto a de sua criatura. Nascido em uma família abastada e sempre afundado nos livros, Oppenheimer foi da geração de cientistas que popularizou a física teórica nas universidades. Ele não venceu o Nobel, mas Oppie —como era conhecido— ajudou em inúmeras descobertas que receberam o prêmio.

Mas seu brilhantismo foi apagado pelo horror da era atômica, iniciada na Segunda Guerra Mundial. Com os nazistas empenhados em criar uma bomba mais poderosa, que ajudasse a vencer o conflito, Oppenheimer aceitou liderar mais de 600 mil americanos em ação similar, no que ficou conhecido como o Projeto Manhattan.

A armamentização da pesquisa e o talento de gerenciamento do físico ajudaram os aliados a vencerem a guerra. Mas a vida de Oppenheimer ficou definida pelo paradoxo: ao tentar impedir o avanço da guerra, ele a alimentou com a arma definitiva.

O físico passou o resto da vida lutando para desfazer esse mal, pedindo por uma cooperação global na área. O governo americano tinha outros planos, porém, e o puniu em uma extensa investigação que, pela perseguição aos comunistas, desfez seu capital político.

Essa trajetória é refeita no filme “Oppenheimer”. Para Nolan, ela serve como um teste de Rorschach ao público. “A história não é apenas política, mas convida a uma série de interpretações políticas”, diz. “Ela também não dá respostas, e eu gosto dessa ambiguidade.”

O longa sobra em material didático. A produção tem por base a biografia homônima escrita por Kai Bird e Martin J. Sherwin, lançada em 2005 e concluída após 25 anos de pesquisa. Mesmo depois de todo esse tempo debulhando a vida de Oppenheimer, porém, os dois autores não sabiam resumir a sua pessoa.

No prefácio, Bird e Sherwin comparam o cientista a duas figuras emblemáticas. Uma é Prometeu, o titã grego que roubou o fogo dos deuses e entregou aos homens. O outro é Fausto, clássico alemão do homem que fez um acordo com o diabo.

O filme de Christopher Nolan cita o mito grego, mas o diretor afirma que é essa confluência de imagens que torna a história mais atraente. Ao mesmo tempo, diz ele, essa mistura complicou o trabalho de adaptar o livro para o cinema.

“Ele parece escrito de maneira direta mas, quando comecei a escrever o roteiro, percebi que a construção era mais complicada”, declara o cineasta em conversa com jornalistas. “Os temas estão ligados à vida de Oppenheimer, e isso dá a sensação de uma história contada de forma cronológica.”

O diretor, então, resolveu refazer isso nas telas. O longa se divide em duas épocas distintas, narradas ao mesmo tempo e que se ligam no fim. Elas foram batizadas de fissão e fusão, processos atômicos relacionados ao funcionamento da bomba.

Dessa maneira, um quadro maior da história é retratado. Enquanto a primeira seção, “fissão”, acompanha Oppenheimer até o primeiro teste da arma nuclear, em 1945, a segunda, “fusão”, mostra a perseguição política ao cientista nos anos 1950. O espectador vê o físico, assim, tanto como Prometeu quanto o Fausto da era nuclear.

Nolan quis, também, facilitar ao máximo a narrativa. Na década de 1950, por exemplo, filma-se só em preto e branco a situação, que tem como protagonista Lewis Strauss, político que acompanhou de perto o assédio governamental a Oppenheimer.

O passado da guerra, enquanto isso, se vê em cores, aí sim com o cientista ao centro. O roteiro dessas cenas é escrito em primeira pessoa, uma abordagem nada ortodoxa. Para o diretor, foi a forma de criar diferentes perspectivas sobre um mesmo personagem.

Cillian Murphy, que vive Oppenheimer no filme, diz que essa manobra o ajudou a ver melhor o papel que o cineasta queria que desempenhasse. “Ele é uma figura desconhecida, e não é o protagonista tradicional”, afirma o ator. “Ele não segue um arco dramático que você vê nessas histórias, e para mim isso foi a parte mais deliciosa.”

Emily Blunt pensa parecido. A atriz faz Katherine Oppenheimer, a esposa do físico, e diz que o roteiro trata o protagonista como enigma, mas se interessa mesmo pelas consequências de seus atos.

“O filme é todo sobre o trauma de viver com aquela mente e o impacto daquelas ações”, afirma. “De algum jeito nós estamos na posição dele, e ficamos traumatizados com o que testemunhamos.”

“Oppenheimer” estreia em um momento oportuno. Apesar de contar histórias de pelo menos sete décadas atrás, o filme parece cronometrado com as tensões geopolíticas atuais. Em especial a Guerra da Ucrânia, que reavivou a preocupação do uso da bomba atômica.

Para definir essa sintonia entre a produção e o noticiário, Robert Downey Jr. e Matt Damon, integrantes do elenco do filme, citam a história de Dâmocles. A anedota grega conta de um cortesão, Dâmocles, que vira rei por um dia. Para seu desespero, ele descobre que uma espada pende sobre sua cabeça pelo tempo que governar, e nada pode fazer sobre isso.

“Nolan e eu temos a mesma idade, e parte da nossa adolescência envolveu o medo da bomba”, diz Damon, que faz o general supervisor do Projeto Manhattan. “Com o fim da Guerra Fria, isso sumiu da nossa consciência, porque é grande demais para considerarmos. Não entendo como esquecemos que essa espada de Dâmocles continua pendente sobre as nossas cabeças.”

Para Downey Jr., que vive Lewis Strauss no filme, tudo é mérito do realizador. “Nós já vivíamos nessa situação parecida com a de Dâmocles e, quando começamos a filmar, o mundo começou a tornar a história atual. Chris [Nolan] não tinha como saber isso, mas isso acontece quando um artista vai ao passado para refletir sobre o presente de maneira significativa.”

O tempo é a essência, do filme e da história. Robert Oppenheimer morreu há 56 anos, em fevereiro de 1967. Mas a bomba atômica, inventada 78 anos atrás, continua a atormentar a humanidade. O mundo já não é o mesmo há muito tempo.

O jornalista viajou a Nova York a convite da Universal Pictures

OPPENHEIMER

Quando Estreia nesta quinta (20) nos cinemas

Classificação 16 anos

Elenco Cillian Murphy, Robert Downey Jr. e Emily Blunt

Produção Estados Unidos, 2023

Direção Christopher Nolan

OPPENHEIMER: O TRIUNFO E A TRAGÉDIA DO PROMETEU AMERICANO

Preço R$ 99,90 (640 págs.); R$ 69,90 (ebook)

Autoria Kai Bird e Martin J. Sherwin

Editora Intrínseca

Tradução George Schlesinger

PEDRO STRAZZA / Folhapress

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