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BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) – A guerra Israel-Hamas passa de um mês e assombra pela possibilidade sempre à espreita de se espalhar e envolver diretamente potências regionais e globais, como Irã e Estados Unidos. O primeiro ato que levaria a um efeito dominó está, em larga medida, nas mãos do Hezbollah.

O grupo armado fundamentalista e partido político (Hezbollah significa “Partido de Deus”) é uma força incontestável no Líbano, onde construiu uma rede de instituições que funciona como funil de recursos e apoio popular, principalmente da população muçulmana xiita, e onde atua como um dos grupos dominantes no Parlamento local.

A principal fonte de recursos do Hezbollah é o Irã, potência regional governada por aiatolás também xiitas que fornece armas e treinamento ao grupo libanês desde sua fundação na década de 1980. Além disso, a facção fundamentalista, definida como terrorista por Estados Unidos, Arábia Saudita e Israel, recolhe parte de seu financiamento de uma extensa rede de serviços que o Estado libanês, afundado em paralisia política e em uma crise financeira profunda há ao menos cinco anos, não consegue oferecer.

“São hospitais, escolas, serviços de infraestrutura e construção em várias regiões do país”, afirma Karime Cheaito, mestre em Estudos Estratégicos pela Universidade Federal Fluminense (UFF), cuja dissertação tratou do grupo libanês. Não raro, o Hezbollah é percebido como um Estado dentro do Estado.

Outra fonte de recursos é a diáspora libanesa de origem xiita, que contribui com o grupo através do zakat, doação anual que é um dos pilares do Islã, e outros tipos de contribuições financeiras a instituições controladas pelo Hezbollah.

A força política do grupo predomina na porção sul de Beirute e na região do vale do Beka, no leste do país, além da região sul, território na fronteira com Israel.

Foguetes e escaramuças entre Hezbollah e o Exército israelense na área fronteiriça já deixaram dezenas de mortos dos dois lados, embora em maior número do lado libanês, desde o dia seguinte ao ataque do Hamas, no dia 7 de outubro —entre eles, jornalistas e outros civis.

As hostilidades, apesar de aumentarem em intensidade conforme o Exército israelense avança sobre Gaza, não ultrapassaram até agora o limite da proporcionalidade.

A estratégia, que obriga Tel Aviv a comprometer tropas e armamentos na fronteira norte sem de fato declarar guerra, foi deixada clara no último dia 3, no primeiro pronunciamento público de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, desde o início do conflito entre Israel e Hamas. “O que está acontecendo na nossa fronteira parece modesto, mas é significativo. Isso não será o fim, nem será suficiente”, afirmou.

A milícia xiita detém cerca de 150 mil foguetes, segundo estimativas, e mantém de 7.000 a 8.000 combatentes apenas na Síria, onde ajuda a garantir a permanência do ditador aliado Bashar al-Assad. É a conexão por terra entre Irã e Líbano, via Síria, que garante ao grupo trânsito de armas e recursos com Teerã.

O poder militar do Hezbollah supera inclusive o do Exército libanês, fragmentado como a política do país e com recursos escassos. “O Exército é pobre, e há divisões entre comandantes que apoiam o Hezbollah e outros que são contrários ao grupo”, diz Firas Moukalled, economista e cientista político libanês.

Segundo Cheaito, da UFF, o Líbano reconhece que não tem uma estratégia clara de defesa. “O próprio Exército admite que é frágil. Quando Israel ameaça, os libaneses têm a consciência de que a estrutura militar oficial não tem como garantir a segurança.”

Isso se reflete na presença da Unifil, a missão de paz das Nações Unidas no sul do país. Com a palavra “interina” no nome, a operação existe desde 1978, data da primeira invasão de Israel no Líbano, e não conseguiu impedir a ocupação subsequente ou outros conflitos entre Hezbollah e Tel Aviv.

Sua renovação no Conselho de Segurança da ONU no ano passado foi alvo de críticas do grupo xiita, o que fez o chanceler libanês —em mais um exemplo da força política do grupo— prontamente tentar convencer membros do Conselho a retirar trechos que explicitam a liberdade de movimento da operação de paz sem necessidade de autorização do governo.

Criado em 1982 com bênçãos, armas e treinamento de um Irã recém-saído de sua revolução, o Hezbollah nasceu em meio a movimentos armados de resistência à invasão e ocupação de Israel no Líbano, que por sua vez vivia sangrenta guerra civil desde 1975 envolvendo facções cristãs e muçulmanas, xiitas e sunitas.

Os acordos que encerraram o conflito, em 1990, desarmaram as milícias envolvidas, exceto o Hezbollah, que articulou para ser reconhecido como grupo de resistência a Israel —Tel Aviv se retirou de boa parte do Líbano em 2000, mas até hoje ocupa o território das fazendas de Shebaa, na região de Golã. Em 1992, o Hezbollah participou pela primeira vez de eleições e conquistou oito cadeiras no Parlamento.

Recentemente, a coalizão liderada pelo grupo detinha a maioria da Casa, mas nas eleições de maio de 2022 passou de 71 a 58 cadeiras, entre 128 disponíveis. A nova configuração, por um lado mais equilibrada, por outro escancarou a paralisia que domina a política libanesa, controlada por elites locais e estruturada a partir de cotas para cada grupo religioso desde a independência da França, em 1943.

O país está sem presidente desde o fim do mandato de Michel Aoun, em outubro do ano passado. Em junho deste ano, a 12ª tentativa de o Parlamento escolher o chefe de Estado terminou novamente em impasse após, como nas outras 11 votações anteriores, o Hezbollah se retirar e derrubar o quórum. Outro exemplo de impasse relativo à falta de consenso é a produção de estatísticas: o último censo nacional foi realizado há mais de 90 anos, em 1932, ainda sob mandato francês.

No pacto nacional que formou o Líbano independente, representantes de grupos religiosos concordaram em dividir o sistema de governo entre as várias denominações. O arranjo, visto como uma “democracia sectária”, determina que o presidente e chefe de Estado será sempre um cristão maronita; o primeiro-ministro, um muçulmano sunita; e o chefe do Parlamento, um xiita.

GUILHERME BOTACINI / Folhapress

‘Estado dentro do Estado’, Hezbollah tem rede de serviços no Líbano e é mais forte que Exército

BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) – A guerra Israel-Hamas passa de um mês e assombra pela possibilidade sempre à espreita de se espalhar e envolver diretamente potências regionais e globais, como Irã e Estados Unidos. O primeiro ato que levaria a um efeito dominó está, em larga medida, nas mãos do Hezbollah.

O grupo armado fundamentalista e partido político (Hezbollah significa “Partido de Deus”) é uma força incontestável no Líbano, onde construiu uma rede de instituições que funciona como funil de recursos e apoio popular, principalmente da população muçulmana xiita, e onde atua como um dos grupos dominantes no Parlamento local.

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A principal fonte de recursos do Hezbollah é o Irã, potência regional governada por aiatolás também xiitas que fornece armas e treinamento ao grupo libanês desde sua fundação na década de 1980. Além disso, a facção fundamentalista, definida como terrorista por Estados Unidos, Arábia Saudita e Israel, recolhe parte de seu financiamento de uma extensa rede de serviços que o Estado libanês, afundado em paralisia política e em uma crise financeira profunda há ao menos cinco anos, não consegue oferecer.

“São hospitais, escolas, serviços de infraestrutura e construção em várias regiões do país”, afirma Karime Cheaito, mestre em Estudos Estratégicos pela Universidade Federal Fluminense (UFF), cuja dissertação tratou do grupo libanês. Não raro, o Hezbollah é percebido como um Estado dentro do Estado.

Outra fonte de recursos é a diáspora libanesa de origem xiita, que contribui com o grupo através do zakat, doação anual que é um dos pilares do Islã, e outros tipos de contribuições financeiras a instituições controladas pelo Hezbollah.

A força política do grupo predomina na porção sul de Beirute e na região do vale do Beka, no leste do país, além da região sul, território na fronteira com Israel.

Foguetes e escaramuças entre Hezbollah e o Exército israelense na área fronteiriça já deixaram dezenas de mortos dos dois lados, embora em maior número do lado libanês, desde o dia seguinte ao ataque do Hamas, no dia 7 de outubro —entre eles, jornalistas e outros civis.

As hostilidades, apesar de aumentarem em intensidade conforme o Exército israelense avança sobre Gaza, não ultrapassaram até agora o limite da proporcionalidade.

A estratégia, que obriga Tel Aviv a comprometer tropas e armamentos na fronteira norte sem de fato declarar guerra, foi deixada clara no último dia 3, no primeiro pronunciamento público de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, desde o início do conflito entre Israel e Hamas. “O que está acontecendo na nossa fronteira parece modesto, mas é significativo. Isso não será o fim, nem será suficiente”, afirmou.

A milícia xiita detém cerca de 150 mil foguetes, segundo estimativas, e mantém de 7.000 a 8.000 combatentes apenas na Síria, onde ajuda a garantir a permanência do ditador aliado Bashar al-Assad. É a conexão por terra entre Irã e Líbano, via Síria, que garante ao grupo trânsito de armas e recursos com Teerã.

O poder militar do Hezbollah supera inclusive o do Exército libanês, fragmentado como a política do país e com recursos escassos. “O Exército é pobre, e há divisões entre comandantes que apoiam o Hezbollah e outros que são contrários ao grupo”, diz Firas Moukalled, economista e cientista político libanês.

Segundo Cheaito, da UFF, o Líbano reconhece que não tem uma estratégia clara de defesa. “O próprio Exército admite que é frágil. Quando Israel ameaça, os libaneses têm a consciência de que a estrutura militar oficial não tem como garantir a segurança.”

Isso se reflete na presença da Unifil, a missão de paz das Nações Unidas no sul do país. Com a palavra “interina” no nome, a operação existe desde 1978, data da primeira invasão de Israel no Líbano, e não conseguiu impedir a ocupação subsequente ou outros conflitos entre Hezbollah e Tel Aviv.

Sua renovação no Conselho de Segurança da ONU no ano passado foi alvo de críticas do grupo xiita, o que fez o chanceler libanês —em mais um exemplo da força política do grupo— prontamente tentar convencer membros do Conselho a retirar trechos que explicitam a liberdade de movimento da operação de paz sem necessidade de autorização do governo.

Criado em 1982 com bênçãos, armas e treinamento de um Irã recém-saído de sua revolução, o Hezbollah nasceu em meio a movimentos armados de resistência à invasão e ocupação de Israel no Líbano, que por sua vez vivia sangrenta guerra civil desde 1975 envolvendo facções cristãs e muçulmanas, xiitas e sunitas.

Os acordos que encerraram o conflito, em 1990, desarmaram as milícias envolvidas, exceto o Hezbollah, que articulou para ser reconhecido como grupo de resistência a Israel —Tel Aviv se retirou de boa parte do Líbano em 2000, mas até hoje ocupa o território das fazendas de Shebaa, na região de Golã. Em 1992, o Hezbollah participou pela primeira vez de eleições e conquistou oito cadeiras no Parlamento.

Recentemente, a coalizão liderada pelo grupo detinha a maioria da Casa, mas nas eleições de maio de 2022 passou de 71 a 58 cadeiras, entre 128 disponíveis. A nova configuração, por um lado mais equilibrada, por outro escancarou a paralisia que domina a política libanesa, controlada por elites locais e estruturada a partir de cotas para cada grupo religioso desde a independência da França, em 1943.

O país está sem presidente desde o fim do mandato de Michel Aoun, em outubro do ano passado. Em junho deste ano, a 12ª tentativa de o Parlamento escolher o chefe de Estado terminou novamente em impasse após, como nas outras 11 votações anteriores, o Hezbollah se retirar e derrubar o quórum. Outro exemplo de impasse relativo à falta de consenso é a produção de estatísticas: o último censo nacional foi realizado há mais de 90 anos, em 1932, ainda sob mandato francês.

No pacto nacional que formou o Líbano independente, representantes de grupos religiosos concordaram em dividir o sistema de governo entre as várias denominações. O arranjo, visto como uma “democracia sectária”, determina que o presidente e chefe de Estado será sempre um cristão maronita; o primeiro-ministro, um muçulmano sunita; e o chefe do Parlamento, um xiita.

GUILHERME BOTACINI / Folhapress

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