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Redação

Klaus Eichmann tinha 9 anos quando Hitler perdeu a guerra, e seu pai, Adolf, refugiou-se na Argentina com uma falsa identidade.

Adolf Eichmann foi um dos maiores criminosos do Terceiro Reich –era o responsável pela logística para o transporte dos 6 milhões de judeus assassinados nos campos de extermínio, como o de Auschwitz.

Em 1960, foi sequestrado em Buenos Aires e transportado de maneira clandestina para Israel. Seu julgamento representou o grande acontecimento midiático sobre o nazismo no período pós-1945. Condenado à morte, ele foi enforcado em 1962 e cremado. Suas cinzas foram atiradas fora das águas israelenses do Mediterrâneo.

Klaus, seu primogênito, estava então com 26 anos. Dois anos depois, ele recebeu uma carta do filósofo judeu austríaco-alemão Gunther Anders (1902-1992), ex-aluno de Martin Heidegger, orientando de doutorado de Edmund Husserl e que por sete anos foi casado com Hannah Arendt –que tem entre seus livros mais célebres justamente “Eichmann em Jerusalém”.

As cartas de Anders a Klaus Eichmann foram duas, de 1964 e 1988, e nunca foram respondidas. Elas acabam de ser publicadas no Brasil pela editora Elefante sob o título “Nós, Filhos de Eichmann” e valem como um desabafo inteligente e moralmente bem-estruturado sobre o horror do totalitarismo alemão.

Alguém pode até perguntar se Eichmann e o Holocausto não seriam assuntos que envelheceram e se perdem numa contemporaneidade preocupada com outras coisas. O que o livro de Anders nos lembra é que a monstruosidade do genocídio não é apenas um tema de indignação ancorado na segunda metade do século 20.

A solução final contra judeus –e socialistas, ciganos, homossexuais, eslavos, pessoas com deficiência– é um crime hediondo ao extremo e continuará a ser evocada pelos próximos séculos. Os horrores de Hitler são historicamente imprescritíveis e imortais.

Em 1933, com a ascensão política dos nazistas, Anders pressupôs o perigo e se refugiou nos EUA. As 91 páginas das cartas a Klaus Eichmann foram escritas, assim, por um sobrevivente. Anders se apresenta como porta-voz dos judeus mortos, o que dá a ele uma mistura de responsabilidade e grandeza.

A primeira carta está centrada na noção de monstruosidade. O texto discorre sobre as iniciativas surgidas no pós-guerra, destinadas a aliviar o peso da responsabilidade dos nazistas. Intervém nesse momento a ideia de “culpa coletiva”, como se todo e qualquer alemão ou austríaco compartilhasse com um segmento da responsabilidade moral pela tragédia da matança em massa de seres humanos.

O curioso, nota, é que os partidários dessa ideia a colocam na boca dos judeus como se fossem eles os formuladores da tese estapafúrdia, quando, em verdade, a afirmação de que “todos os alemães são culpados” equivale, por sua extensão lógica, a acreditar que “nenhum alemão tem a culpa”. São duas afirmações igualmente equivocadas: “Eles usam a falsa universalização para universalizar a inocência”.

Uma segunda armadilha moral consistiria em levar a sério a existência de uma suposta “controvérsia dos historiadores” a respeito de o nazismo ter nos colocado diante de uma extensão inédita do homicídio coletivo. Os partidários da “controvérsia” –os primeiros revisionistas da história– afirmavam que no passado outras guerras foram igualmente mortíferas e também tiveram por alvo a população civil.

O que é uma inverdade absurda. O genocídio praticado pelo Terceiro Reich teve dimensão e proporção inéditas.

Por fim, as longas cartas cometem dois escorregões. O primeiro consiste em convidar o primogênito do carrasco nazista a se redimir por meio da adesão a uma causa imediatamente importante no pós-guerra: a questão nuclear. Klaus foi convidado a militar contra a bomba atômica, mas não acusou nem sequer o recebimento do convite.

O outro escorregão diz respeito a uma ideia que se tornara para Anders uma obsessão: a de que o ser humano estava a ponto de ser dominado pelas máquinas. Isso não tem nada a ver com o Holocausto. Mesmo assim, surge no texto como um desabafo deslocado.

NÓS, FILHOS DE EICHMANN: CARTA ABERTA A KLAUS EICHMANN

Autoria: Günther Anders

Editora: Elefante

Preço: R$ 56,00 (112 págs.)

JOÃO BATISTA NATALI

Livro traz relato de horrores do nazismo

Redação

Klaus Eichmann tinha 9 anos quando Hitler perdeu a guerra, e seu pai, Adolf, refugiou-se na Argentina com uma falsa identidade.

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Adolf Eichmann foi um dos maiores criminosos do Terceiro Reich –era o responsável pela logística para o transporte dos 6 milhões de judeus assassinados nos campos de extermínio, como o de Auschwitz.

Em 1960, foi sequestrado em Buenos Aires e transportado de maneira clandestina para Israel. Seu julgamento representou o grande acontecimento midiático sobre o nazismo no período pós-1945. Condenado à morte, ele foi enforcado em 1962 e cremado. Suas cinzas foram atiradas fora das águas israelenses do Mediterrâneo.

Klaus, seu primogênito, estava então com 26 anos. Dois anos depois, ele recebeu uma carta do filósofo judeu austríaco-alemão Gunther Anders (1902-1992), ex-aluno de Martin Heidegger, orientando de doutorado de Edmund Husserl e que por sete anos foi casado com Hannah Arendt –que tem entre seus livros mais célebres justamente “Eichmann em Jerusalém”.

As cartas de Anders a Klaus Eichmann foram duas, de 1964 e 1988, e nunca foram respondidas. Elas acabam de ser publicadas no Brasil pela editora Elefante sob o título “Nós, Filhos de Eichmann” e valem como um desabafo inteligente e moralmente bem-estruturado sobre o horror do totalitarismo alemão.

Alguém pode até perguntar se Eichmann e o Holocausto não seriam assuntos que envelheceram e se perdem numa contemporaneidade preocupada com outras coisas. O que o livro de Anders nos lembra é que a monstruosidade do genocídio não é apenas um tema de indignação ancorado na segunda metade do século 20.

A solução final contra judeus –e socialistas, ciganos, homossexuais, eslavos, pessoas com deficiência– é um crime hediondo ao extremo e continuará a ser evocada pelos próximos séculos. Os horrores de Hitler são historicamente imprescritíveis e imortais.

Em 1933, com a ascensão política dos nazistas, Anders pressupôs o perigo e se refugiou nos EUA. As 91 páginas das cartas a Klaus Eichmann foram escritas, assim, por um sobrevivente. Anders se apresenta como porta-voz dos judeus mortos, o que dá a ele uma mistura de responsabilidade e grandeza.

A primeira carta está centrada na noção de monstruosidade. O texto discorre sobre as iniciativas surgidas no pós-guerra, destinadas a aliviar o peso da responsabilidade dos nazistas. Intervém nesse momento a ideia de “culpa coletiva”, como se todo e qualquer alemão ou austríaco compartilhasse com um segmento da responsabilidade moral pela tragédia da matança em massa de seres humanos.

O curioso, nota, é que os partidários dessa ideia a colocam na boca dos judeus como se fossem eles os formuladores da tese estapafúrdia, quando, em verdade, a afirmação de que “todos os alemães são culpados” equivale, por sua extensão lógica, a acreditar que “nenhum alemão tem a culpa”. São duas afirmações igualmente equivocadas: “Eles usam a falsa universalização para universalizar a inocência”.

Uma segunda armadilha moral consistiria em levar a sério a existência de uma suposta “controvérsia dos historiadores” a respeito de o nazismo ter nos colocado diante de uma extensão inédita do homicídio coletivo. Os partidários da “controvérsia” –os primeiros revisionistas da história– afirmavam que no passado outras guerras foram igualmente mortíferas e também tiveram por alvo a população civil.

O que é uma inverdade absurda. O genocídio praticado pelo Terceiro Reich teve dimensão e proporção inéditas.

Por fim, as longas cartas cometem dois escorregões. O primeiro consiste em convidar o primogênito do carrasco nazista a se redimir por meio da adesão a uma causa imediatamente importante no pós-guerra: a questão nuclear. Klaus foi convidado a militar contra a bomba atômica, mas não acusou nem sequer o recebimento do convite.

O outro escorregão diz respeito a uma ideia que se tornara para Anders uma obsessão: a de que o ser humano estava a ponto de ser dominado pelas máquinas. Isso não tem nada a ver com o Holocausto. Mesmo assim, surge no texto como um desabafo deslocado.

NÓS, FILHOS DE EICHMANN: CARTA ABERTA A KLAUS EICHMANN

Autoria: Günther Anders

Editora: Elefante

Preço: R$ 56,00 (112 págs.)

JOÃO BATISTA NATALI

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