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PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – A conversa que encerrou a programação principal da sexta na Flip, entre o brasileiro José Henrique Bortoluci e a alemã Nora Krug, girou em torno da arqueologia de linguagem necessária para conhecer a própria família.

Os dois autores mergulharam na literatura para uma busca, que também tem algo de estudo social, sobre a linhagem que lhes deu origem -não à toa Annie Ernaux foi mencionada.

“A experiência de todos os que tiveram migração de classe social é necessariamente uma de bilinguismo”, apontou Bortoluci. “A gente oscila o tempo todo nos registros em conversas com nossos pais, é muito natural.”

O que o doutor em Sociologia pela Universidade de Michigan quer dizer é que a língua que passou a recorrer conforme avançou seus estudos, por questões profissionais e pela inserção em novos círculos, se tornou cada vez mais distinta daquela que usava na intimidade de sua casa na paulista Jaú.

Esse é um elemento central de “O que É Meu”, da Fósforo, o celebrado livro em que Bortoluci, que é também professor da Fundação Getúlio Vargas, conta a história de seu pai -seu Didi é um homem de pouca educação formal que trabalhou até a aposentadoria como caminhoneiro pelas estradas do Brasil.

O livro surgiu, antes de tudo, de entrevistas com o próprio pai, muitas delas feitas durante as longas esperas impostas pelo tratamento de câncer.

“Escrever o livro me fez pensar muito na escrita como tradução”, afirmou ele. “As histórias do meu pai já têm a própria tradução dele, já que são mediadas pelo tempo, pelo esquecimento e pelo fato de estar falando com um filho.”

Além disso, há um desafio -ou uma barreira- a mais. “A transcrição da fala já é uma tradução. Quando falamos, não existe ponto e parágrafo. Compor o registro de fala do meu pai no livro, com sua gramática e sobretudo seu ritmo, já é criação literária.”

Por sua vez, a investigação de Krug em “Heimat”, publicado pela Companhia das Letras, é para entender e ressignificar sua família num exercício composto de palavra e ilustração, a começar pelo próprio título do livro, um termo alemão que se refere a pátria e identidade.

“‘Heimat’ é o lugar que associo a minha infância e família, mas os nazistas se apropriaram dela para falar de um espaço que pertencia a poucas pessoas”, afirmou ela. “Mas é só confrontando nossa identidade com os nazistas que podemos voltar a amar esse termo.”

A obra avança numa busca por quem foram as pessoas que lhe deram origem. Ela fez o livro com o distanciamento confortável de quem saiu de seu país, porque só foi aí, devido ao susto do contraste, que ela começou a pensar na própria identidade.

“A questão subjacente do livro”, completou ela, “vai além de quem foram meus avós e o que eles fizeram no regime nazista, mas o que é ser alemão hoje.”

A Flip continua até domingo, com extensa programação entre a tenda principal e as casas paralelas de Paraty.

WALTER PORTO / Folhapress

Migrar de classe é se tornar bilíngue, diz José Henrique Bortoluci na Flip

PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – A conversa que encerrou a programação principal da sexta na Flip, entre o brasileiro José Henrique Bortoluci e a alemã Nora Krug, girou em torno da arqueologia de linguagem necessária para conhecer a própria família.

Os dois autores mergulharam na literatura para uma busca, que também tem algo de estudo social, sobre a linhagem que lhes deu origem -não à toa Annie Ernaux foi mencionada.

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“A experiência de todos os que tiveram migração de classe social é necessariamente uma de bilinguismo”, apontou Bortoluci. “A gente oscila o tempo todo nos registros em conversas com nossos pais, é muito natural.”

O que o doutor em Sociologia pela Universidade de Michigan quer dizer é que a língua que passou a recorrer conforme avançou seus estudos, por questões profissionais e pela inserção em novos círculos, se tornou cada vez mais distinta daquela que usava na intimidade de sua casa na paulista Jaú.

Esse é um elemento central de “O que É Meu”, da Fósforo, o celebrado livro em que Bortoluci, que é também professor da Fundação Getúlio Vargas, conta a história de seu pai -seu Didi é um homem de pouca educação formal que trabalhou até a aposentadoria como caminhoneiro pelas estradas do Brasil.

O livro surgiu, antes de tudo, de entrevistas com o próprio pai, muitas delas feitas durante as longas esperas impostas pelo tratamento de câncer.

“Escrever o livro me fez pensar muito na escrita como tradução”, afirmou ele. “As histórias do meu pai já têm a própria tradução dele, já que são mediadas pelo tempo, pelo esquecimento e pelo fato de estar falando com um filho.”

Além disso, há um desafio -ou uma barreira- a mais. “A transcrição da fala já é uma tradução. Quando falamos, não existe ponto e parágrafo. Compor o registro de fala do meu pai no livro, com sua gramática e sobretudo seu ritmo, já é criação literária.”

Por sua vez, a investigação de Krug em “Heimat”, publicado pela Companhia das Letras, é para entender e ressignificar sua família num exercício composto de palavra e ilustração, a começar pelo próprio título do livro, um termo alemão que se refere a pátria e identidade.

“‘Heimat’ é o lugar que associo a minha infância e família, mas os nazistas se apropriaram dela para falar de um espaço que pertencia a poucas pessoas”, afirmou ela. “Mas é só confrontando nossa identidade com os nazistas que podemos voltar a amar esse termo.”

A obra avança numa busca por quem foram as pessoas que lhe deram origem. Ela fez o livro com o distanciamento confortável de quem saiu de seu país, porque só foi aí, devido ao susto do contraste, que ela começou a pensar na própria identidade.

“A questão subjacente do livro”, completou ela, “vai além de quem foram meus avós e o que eles fizeram no regime nazista, mas o que é ser alemão hoje.”

A Flip continua até domingo, com extensa programação entre a tenda principal e as casas paralelas de Paraty.

WALTER PORTO / Folhapress

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