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PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – A fala de Carla Akotirene serviu para ilustrar um dos principais argumentos expostos em sua participação na Flip: não faz sentido considerar a oralidade algo menos prestigioso que a escrita.

A pesquisadora baiana se apresentou com tamanha eloquência na tarde desta sexta-feira que era impossível não invejar sua retórica -sua capacidade de aglutinar assuntos e referências com tanta perspicácia que a tornava uma oradora impossível de ser ignorada.

Fez até Akwaeke Emezi, reluzente artista que veio da Nigéria para integrar a mesma mesa, uma presença mais contida em comparação. A pessoa não binária que escreveu romances fortemente vinculados à espiritualidade de seus ancestrais era um dos destaques internacionais da Flip.

Mas no fim a comparação não importa, porque Akotirene e Emezi se irmanavam em discurso e perspectiva. Evidenciaram com suas falas que o Ocidente não dá conta de explicar a experiência negra, conforme a feliz síntese feita pela mediadora Maria Carolina Casati. “Por isso precisamos inventar nossas próprias palavras e gêneros literários”, completou ela.

Foi algo alinhado ao que Emezi havia comentado pouco antes, relatando como sua entrada na literatura pelo livro “Água Doce” veio de uma espécie de “chamado espiritual”. “Senti a urgência de encontrar as palavras certas para a minha existência.”

Emezi apontou ter percebido, nessa epifania, que as pessoas negras evoluem em diversas direções, não de forma linear. “Entendi que habito multiplicidades. E que as definições que tínhamos antes para nossas culturas sempre provinham do olhar colonial.”

“O colonialismo promoveu a hierarquização dos demais sentidos em relação aos olhos”, afirmou Akotirene. “Nossa aparência é lida como brutalizada e menos intelectual. Mas nossa existência não pode ser orientada a partir da percepção que o branco europeu trouxe para nós, uma visão biologizante que determina vidas por coisas minúsculas como um cromossomo.”

Akotirene afirmou ter precisado se desgarrar do tempo imposto por esse tipo de visão em sua pesquisa acadêmica –definido pelas mesmas universidades que elegiam como leituras principais apenas autores brancos do norte global–, uma espécie de revolução que a permitiu seguir em frente.

“Entendi que não seria a academia que me daria reconhecimento. Precisava de mais anos para me doutorar porque era o tempo de ressarcir minha família, honrar as dificuldades de meus pais, um tempo do espírito que fizesse justiça aos nossos caminhos.”

Então, a intelectual pôde desenvolver sua investigação sobre as interseccionalidades, mostrando como se relacionam intrinsecamente as experiências de mulheres, negros, pessoas LGBTQIA+, por exemplo, que para ela integram “avenidas inseparadas”.

“Se essa encruzilhada nos colocou na cozinha do conhecimento, é para que pudéssemos fazer oferendas analíticas”, disse, em um dos momentos mais aplaudidos da palestra. “Passamos tanto tempo nessa cozinha que hoje sabemos como envenenar a academia.”

A Flip tem mais duas mesas ainda nesta sexta, na tenda principal, e segue com extensa programação em diversas casas de Paraty até domingo.

WALTER PORTO / Folhapress

Ocidente não dá conta da experiência negra, dizem autoras aplaudidas na Flip

PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – A fala de Carla Akotirene serviu para ilustrar um dos principais argumentos expostos em sua participação na Flip: não faz sentido considerar a oralidade algo menos prestigioso que a escrita.

A pesquisadora baiana se apresentou com tamanha eloquência na tarde desta sexta-feira que era impossível não invejar sua retórica -sua capacidade de aglutinar assuntos e referências com tanta perspicácia que a tornava uma oradora impossível de ser ignorada.

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Fez até Akwaeke Emezi, reluzente artista que veio da Nigéria para integrar a mesma mesa, uma presença mais contida em comparação. A pessoa não binária que escreveu romances fortemente vinculados à espiritualidade de seus ancestrais era um dos destaques internacionais da Flip.

Mas no fim a comparação não importa, porque Akotirene e Emezi se irmanavam em discurso e perspectiva. Evidenciaram com suas falas que o Ocidente não dá conta de explicar a experiência negra, conforme a feliz síntese feita pela mediadora Maria Carolina Casati. “Por isso precisamos inventar nossas próprias palavras e gêneros literários”, completou ela.

Foi algo alinhado ao que Emezi havia comentado pouco antes, relatando como sua entrada na literatura pelo livro “Água Doce” veio de uma espécie de “chamado espiritual”. “Senti a urgência de encontrar as palavras certas para a minha existência.”

Emezi apontou ter percebido, nessa epifania, que as pessoas negras evoluem em diversas direções, não de forma linear. “Entendi que habito multiplicidades. E que as definições que tínhamos antes para nossas culturas sempre provinham do olhar colonial.”

“O colonialismo promoveu a hierarquização dos demais sentidos em relação aos olhos”, afirmou Akotirene. “Nossa aparência é lida como brutalizada e menos intelectual. Mas nossa existência não pode ser orientada a partir da percepção que o branco europeu trouxe para nós, uma visão biologizante que determina vidas por coisas minúsculas como um cromossomo.”

Akotirene afirmou ter precisado se desgarrar do tempo imposto por esse tipo de visão em sua pesquisa acadêmica –definido pelas mesmas universidades que elegiam como leituras principais apenas autores brancos do norte global–, uma espécie de revolução que a permitiu seguir em frente.

“Entendi que não seria a academia que me daria reconhecimento. Precisava de mais anos para me doutorar porque era o tempo de ressarcir minha família, honrar as dificuldades de meus pais, um tempo do espírito que fizesse justiça aos nossos caminhos.”

Então, a intelectual pôde desenvolver sua investigação sobre as interseccionalidades, mostrando como se relacionam intrinsecamente as experiências de mulheres, negros, pessoas LGBTQIA+, por exemplo, que para ela integram “avenidas inseparadas”.

“Se essa encruzilhada nos colocou na cozinha do conhecimento, é para que pudéssemos fazer oferendas analíticas”, disse, em um dos momentos mais aplaudidos da palestra. “Passamos tanto tempo nessa cozinha que hoje sabemos como envenenar a academia.”

A Flip tem mais duas mesas ainda nesta sexta, na tenda principal, e segue com extensa programação em diversas casas de Paraty até domingo.

WALTER PORTO / Folhapress

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