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MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Foi depois de naufrágios no final de 2013 que surgiu o Alarm Phone, central de atendimentos que ajuda, por telefone, refugiados e imigrantes durante travessias clandestinas pelo Mediterrâneo rumo à Europa.

Em outubro daquele ano, duas embarcações saídas do norte da África afundaram perto da ilha italiana de Lampedusa, deixando cerca de 400 mortos, muitos dos quais da Eritreia e da Síria. Governos e instituições prometeram soluções, mas, como se sabe, a crise migratória permanece, assim como as tragédias.

Um ano mais tarde, o Alarm Phone entrava em atividade, inspirado pelo padre eritreu Mussie Zerai, cujo número de telefone havia virado uma referência a imigrantes que fugiam de conflitos e da pobreza em seus países. Após receber ligações de grupos em risco em alto-mar, alertava guardas costeiras e ONGs.

“A operação começou para formalizar esse arranjo, com uma central telefônica para pessoas em perigo e para documentar o que está acontecendo no Mediterrâneo. É uma tentativa de garantir que as pessoas não sejam abandonadas à morte”, diz à Folha Jacob Berkson, um dos voluntários que recebe ligações.

O registro dos pedidos de socorro, publicados quase em tempo real nas redes sociais, e o aviso a órgãos oficiais da União Europeia (UE) e de países membros atraíram atenção nas últimas semanas, devido à atuação do Alarm Phone no naufrágio mais trágico dos últimos anos, em junho, em águas gregas.

A ONG recebeu pedidos de ajuda horas antes de o barco afundar e os enviou por email, com a localização, às autoridades gregas e à agência da UE para fronteiras externas. A embarcação, porém, não foi socorrida a tempo: 82 corpos foram encontrados, e 104 pessoas, resgatadas. Cerca de 500 desapareceram no mar.

A entidade expôs a cronologia das ligações recebidas e das mensagens enviadas e, em nota, cobrou as autoridades. “Eles falharam porque o desejo de impedir chegadas era mais forte do que a necessidade de resgatar centenas de vidas.” Inicialmente, a Guarda Costeira grega alegou que o barco não aceitou ser resgatado porque pretendia chegar à Itália, mas o jornal The Guardian revelou que houve tentativa do órgão grego de rebocar o barco para fora de suas águas. Para Berkson, o desfecho do episódio é fruto do endurecimento das políticas de fronteira do bloco. “Se a Europa quer impedir pessoas de exercerem seus direitos de movimento em busca de mais segurança, veremos esse tipo de tragédia.”

Em 2014, quando o Alarm Phone foi lançado, os desembarques irregulares na UE pelo Mediterrâneo somaram 228,7 mil, segundo o Conselho Europeu. Naquela época, as travessias estavam em alta devido a múltiplas crises na África e no Oriente Médio, consequência da Primavera Árabe e da guerra civil na Síria.

A onda migratória rumo à Europa atingiria o ápice no ano seguinte, com mais de 1 milhão de chegadas pelo Mediterrâneo, a maioria vinda pela rota oriental, utilizada para chegar à Grécia, ao Chipre e à Bulgária. Os casos de barcos em risco acompanhados pelo Alarm Phone saltaram, em um ano, de 10 para 1.239.

Berkson, que mora no Reino Unido, é um dos 300 voluntários ativos que se revezam em funções de organização e atendimento. Os integrantes da ONG, criada por ativistas de entidades que já atuavam nas fronteiras externas da Europa, como a Watch The Med, espalham-se por países europeus, pelo norte e oeste africano e pela Turquia. O telefone de atendimento é francês, e as equipes se organizam em quatro turnos, com duas a quatro pessoas em cada período, numa operação sustentada por doações.

“Ligações feitas diretamente dos barcos chegam, na maioria das vezes, pela manhã. As pessoas costumam partir durante a noite e entrar em perigo durante a madrugada. Já as chamadas de parentes que perderam contato com os barcos acontecem mais no fim do dia”, conta o voluntário.

Em geral, diz Berkson, os imigrantes ligam quando ficam sem combustível e à deriva ou quando as ondas sobem muito e o barco começa a encher de água. Também é comum pedirem ajuda quando viajantes apresentam problemas de saúde. “Na verdade, todos os barcos estão em risco pois partem superlotados.”

Quem atende uma ligação tenta estabelecer confiança para entender a situação a bordo, pontos de partida e destino, número de pessoas e a informação mais importante –a localização. Aí os serviços de resgate de países próximos são comunicados, e o caso é relatado no perfil do Alarm Phone no Twitter.

O fluxo atual continua a subir, após queda contínua de 2016 a 2020. No ano passado, o Alarm Phone acompanhou 1.324 casos, o recorde desde sua criação. Agora, até a metade deste mês, já foram cerca de mil barcos —neste ano, a entidade recebeu quase o mesmo número de casos do que o total de 2022.

Esse aumento pode ser constatado nos dados do Acnur, agência da ONU para refugiados. Desembarques de imigrantes e refugiados pelo Mediterrâneo passaram de 100 mil na metade de julho, ante quase 160 mil no ano passado inteiro. Mortes e desaparecimentos causados por naufrágios já somam 1.800 –em 2022, foram 2.400. O Unicef estima que ao menos 289 crianças estão entre as vítimas desde janeiro.

A Itália, de discurso duro anti-imigração, com promessa de “bloqueio naval” da primeira-ministra Giorgia Meloni, é o país mais afetado, com 76 mil chegadas até a metade de julho, alta de 136% em relação ao mesmo período de 2022. A rota mais utilizada é a que sai da Tunísia, com mais de 44 mil desembarques.

Em seguida, estão as partidas da Líbia, com quase 30 mil. Os países de origem de quem viaja até a Itália são variados, e o topo do ranking é ocupado, hoje, por Costa do Marfim (15%), Egito (12%) e Guiné (12%).

Para frear as entradas irregulares, a UE anunciou, no dia 16, um pacto com a Tunísia para combater traficantes de imigrantes e reforçar a vigilância das fronteiras. Em troca, o país receberá € 250 milhões, além da promessa de mais € 900 milhões em forma de assistência condicionada a reformas econômicas.

O acordo foi amplamente criticado por entidades que atuam no setor e ONGs que defendem direitos humanos. Eles acusam autoridades tunisianas de maus tratos a imigrantes subsaarianos, como o abandono de centenas deles na fronteira com a Líbia sem acesso a água ou comida. Também denunciam abusos cometidos pela Guarda Costeira da Líbia, com quem a UE mantém acordo desde 2016.

O Alarm Phone é uma dessas vozes críticas. “Se a UE chancela politicamente e apoia financeiramente tais violações e as organizações internacionais permanecem em silêncio, o que podemos fazer quando recebemos ligações de pessoas que estão morrendo?”, disse, em nota. “Vamos continuar a amplificar suas vozes pedindo ajuda e a denunciar a violência desumana e racista que enfrentam na fronteira.”

MICHELE OLIVEIRA / Folhapress

ONG faz de central telefônica pilar na ajuda a refugiados em perigo no Mediterrâneo

MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Foi depois de naufrágios no final de 2013 que surgiu o Alarm Phone, central de atendimentos que ajuda, por telefone, refugiados e imigrantes durante travessias clandestinas pelo Mediterrâneo rumo à Europa.

Em outubro daquele ano, duas embarcações saídas do norte da África afundaram perto da ilha italiana de Lampedusa, deixando cerca de 400 mortos, muitos dos quais da Eritreia e da Síria. Governos e instituições prometeram soluções, mas, como se sabe, a crise migratória permanece, assim como as tragédias.

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Um ano mais tarde, o Alarm Phone entrava em atividade, inspirado pelo padre eritreu Mussie Zerai, cujo número de telefone havia virado uma referência a imigrantes que fugiam de conflitos e da pobreza em seus países. Após receber ligações de grupos em risco em alto-mar, alertava guardas costeiras e ONGs.

“A operação começou para formalizar esse arranjo, com uma central telefônica para pessoas em perigo e para documentar o que está acontecendo no Mediterrâneo. É uma tentativa de garantir que as pessoas não sejam abandonadas à morte”, diz à Folha Jacob Berkson, um dos voluntários que recebe ligações.

O registro dos pedidos de socorro, publicados quase em tempo real nas redes sociais, e o aviso a órgãos oficiais da União Europeia (UE) e de países membros atraíram atenção nas últimas semanas, devido à atuação do Alarm Phone no naufrágio mais trágico dos últimos anos, em junho, em águas gregas.

A ONG recebeu pedidos de ajuda horas antes de o barco afundar e os enviou por email, com a localização, às autoridades gregas e à agência da UE para fronteiras externas. A embarcação, porém, não foi socorrida a tempo: 82 corpos foram encontrados, e 104 pessoas, resgatadas. Cerca de 500 desapareceram no mar.

A entidade expôs a cronologia das ligações recebidas e das mensagens enviadas e, em nota, cobrou as autoridades. “Eles falharam porque o desejo de impedir chegadas era mais forte do que a necessidade de resgatar centenas de vidas.” Inicialmente, a Guarda Costeira grega alegou que o barco não aceitou ser resgatado porque pretendia chegar à Itália, mas o jornal The Guardian revelou que houve tentativa do órgão grego de rebocar o barco para fora de suas águas. Para Berkson, o desfecho do episódio é fruto do endurecimento das políticas de fronteira do bloco. “Se a Europa quer impedir pessoas de exercerem seus direitos de movimento em busca de mais segurança, veremos esse tipo de tragédia.”

Em 2014, quando o Alarm Phone foi lançado, os desembarques irregulares na UE pelo Mediterrâneo somaram 228,7 mil, segundo o Conselho Europeu. Naquela época, as travessias estavam em alta devido a múltiplas crises na África e no Oriente Médio, consequência da Primavera Árabe e da guerra civil na Síria.

A onda migratória rumo à Europa atingiria o ápice no ano seguinte, com mais de 1 milhão de chegadas pelo Mediterrâneo, a maioria vinda pela rota oriental, utilizada para chegar à Grécia, ao Chipre e à Bulgária. Os casos de barcos em risco acompanhados pelo Alarm Phone saltaram, em um ano, de 10 para 1.239.

Berkson, que mora no Reino Unido, é um dos 300 voluntários ativos que se revezam em funções de organização e atendimento. Os integrantes da ONG, criada por ativistas de entidades que já atuavam nas fronteiras externas da Europa, como a Watch The Med, espalham-se por países europeus, pelo norte e oeste africano e pela Turquia. O telefone de atendimento é francês, e as equipes se organizam em quatro turnos, com duas a quatro pessoas em cada período, numa operação sustentada por doações.

“Ligações feitas diretamente dos barcos chegam, na maioria das vezes, pela manhã. As pessoas costumam partir durante a noite e entrar em perigo durante a madrugada. Já as chamadas de parentes que perderam contato com os barcos acontecem mais no fim do dia”, conta o voluntário.

Em geral, diz Berkson, os imigrantes ligam quando ficam sem combustível e à deriva ou quando as ondas sobem muito e o barco começa a encher de água. Também é comum pedirem ajuda quando viajantes apresentam problemas de saúde. “Na verdade, todos os barcos estão em risco pois partem superlotados.”

Quem atende uma ligação tenta estabelecer confiança para entender a situação a bordo, pontos de partida e destino, número de pessoas e a informação mais importante –a localização. Aí os serviços de resgate de países próximos são comunicados, e o caso é relatado no perfil do Alarm Phone no Twitter.

O fluxo atual continua a subir, após queda contínua de 2016 a 2020. No ano passado, o Alarm Phone acompanhou 1.324 casos, o recorde desde sua criação. Agora, até a metade deste mês, já foram cerca de mil barcos —neste ano, a entidade recebeu quase o mesmo número de casos do que o total de 2022.

Esse aumento pode ser constatado nos dados do Acnur, agência da ONU para refugiados. Desembarques de imigrantes e refugiados pelo Mediterrâneo passaram de 100 mil na metade de julho, ante quase 160 mil no ano passado inteiro. Mortes e desaparecimentos causados por naufrágios já somam 1.800 –em 2022, foram 2.400. O Unicef estima que ao menos 289 crianças estão entre as vítimas desde janeiro.

A Itália, de discurso duro anti-imigração, com promessa de “bloqueio naval” da primeira-ministra Giorgia Meloni, é o país mais afetado, com 76 mil chegadas até a metade de julho, alta de 136% em relação ao mesmo período de 2022. A rota mais utilizada é a que sai da Tunísia, com mais de 44 mil desembarques.

Em seguida, estão as partidas da Líbia, com quase 30 mil. Os países de origem de quem viaja até a Itália são variados, e o topo do ranking é ocupado, hoje, por Costa do Marfim (15%), Egito (12%) e Guiné (12%).

Para frear as entradas irregulares, a UE anunciou, no dia 16, um pacto com a Tunísia para combater traficantes de imigrantes e reforçar a vigilância das fronteiras. Em troca, o país receberá € 250 milhões, além da promessa de mais € 900 milhões em forma de assistência condicionada a reformas econômicas.

O acordo foi amplamente criticado por entidades que atuam no setor e ONGs que defendem direitos humanos. Eles acusam autoridades tunisianas de maus tratos a imigrantes subsaarianos, como o abandono de centenas deles na fronteira com a Líbia sem acesso a água ou comida. Também denunciam abusos cometidos pela Guarda Costeira da Líbia, com quem a UE mantém acordo desde 2016.

O Alarm Phone é uma dessas vozes críticas. “Se a UE chancela politicamente e apoia financeiramente tais violações e as organizações internacionais permanecem em silêncio, o que podemos fazer quando recebemos ligações de pessoas que estão morrendo?”, disse, em nota. “Vamos continuar a amplificar suas vozes pedindo ajuda e a denunciar a violência desumana e racista que enfrentam na fronteira.”

MICHELE OLIVEIRA / Folhapress

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