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FOLHAPRESS – Afro-gringas pela internet dão o nome de “hair journey” às suas aventuras capilares.

É inevitável ler a expressão e não se lembrar de um certo conceito, muito caro aos estudos da narratologia, que busca descrever diferentes mitos e histórias protagonizados por indivíduos considerados excepcionais em sua humana existência: a jornada do herói.

As tais “jornadas do cabelo” em nada perdem em complexidade para quaisquer personagens que obedecem a estrutura monomítica: Mila, a personagem-narradora de “Esse Cabelo”, livro de estreia de Djaimilia Pereira de Almeida, faz discretamente um paralelo entre o intento de se escrever um livro de memória a partir do cabelo e as histórias de amputados veteranos de guerra -consagrados heróis- para se defender de acusações de futilidade.

Aqui, caberia questionar: há alguma parte do corpo que poderia ser fútil?

No mundo todo, inúmeras cabeças crespas lidam de distintas formas com aquilo que a sociedade racista insistiu (e ainda insiste) em chamar de “problema”. Métodos dolorosos de alisamento foram adotados como regra de aceitação social, uma “solução” que promove o apagamento de um dos traços fenotípicos da população negra.

E, sendo geralmente um processo marcado por sofrimento e, muitas vezes, por tortura e danos duradouros à saúde, torna-se, assim, uma experiência que causa traumas nos corpos das mulheres negras.

É a respeito de tal jornada que Ebony Flowers escreve seu “Pente Quente”. Sua HQ adota o formato da narrativa breve, apresentando oito contos que partilham a vivência crespa e a socialização entre mulheres, elementos quase sinônimos quando abordamos tais identidades.

A primeira história, que leva o nome do livro, ilustra bem essa relação: a adolescência nos anos 1990, a participação num show de talentos junto das amigas, a vontade de ser igual a uma integrante do trio pop TLC, o desejo de se misturar com a molecada do bairro. Um turbilhão de situações e sentimentos que levam a garota a fazer um relaxamento num salão de beleza.

É um espaço privilegiado de partilha negra e feminina de dramas e delícias da vida, o procedimento, que toma muito tempo, é contado em pormenores com detalhadas ilustrações.

Flowers narra as histórias de maneira episódica, retratando em certos momentos o racismo cotidiano, conceito da antropóloga Philomena Essed usado por Grada Kilomba em seu já quase clássico “Memórias da Plantação”.

A quadrinista não deixa de lado episódios mais dissimulados de racismo, como nos contos “O espanhol” e “A senhora do metrô”. Neste último, a personagem é apresentada num metrô, quieta e com um turbante na cabeça, até chegar uma mulher cheia de peculiaridades que faz uma série de perguntas inconvenientes, inquirindo sua origem: “Você é iraniana?”. “Você é da Palestina?”. “Você é muçulmana?”. “Você é da África?”.

A estrangeirice presumida, seja nos Estados Unidos, no Brasil ou em qualquer país historicamente racista, é um dos inúmeros mecanismos de que a supremacia branca lança mão para excluir, ainda que subjetivamente, o direito e a autonomia da pessoa negra.

A autora assume um traço forte, com ênfase no jogo de preenchimento com linhas grossas e finas, enroladas, curvas e esticadas, que recriam a atmosfera emaranhada de sua vivência.

Suas narrativas, bem sabemos, ecoam em outras meninas, mulheres e senhoras negras que, mais cedo ou mais tarde, despertaram a sua própria identidade a partir do cabelo -e trazem com ela diversas memórias de cumplicidade e união entre suas iguais.

PENTE QUENTE

Avaliação Ótimo

Preço R$ 69,90 (184 págs.)

Autoria Ebony Flowers

Editora Veneta

Tradução Dandara Palankof

BIANCA GONÇALVES / Folhapress

‘Pente Quente’ é adição forte às obras sobre ‘jornada do cabelo’

FOLHAPRESS – Afro-gringas pela internet dão o nome de “hair journey” às suas aventuras capilares.

É inevitável ler a expressão e não se lembrar de um certo conceito, muito caro aos estudos da narratologia, que busca descrever diferentes mitos e histórias protagonizados por indivíduos considerados excepcionais em sua humana existência: a jornada do herói.

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As tais “jornadas do cabelo” em nada perdem em complexidade para quaisquer personagens que obedecem a estrutura monomítica: Mila, a personagem-narradora de “Esse Cabelo”, livro de estreia de Djaimilia Pereira de Almeida, faz discretamente um paralelo entre o intento de se escrever um livro de memória a partir do cabelo e as histórias de amputados veteranos de guerra -consagrados heróis- para se defender de acusações de futilidade.

Aqui, caberia questionar: há alguma parte do corpo que poderia ser fútil?

No mundo todo, inúmeras cabeças crespas lidam de distintas formas com aquilo que a sociedade racista insistiu (e ainda insiste) em chamar de “problema”. Métodos dolorosos de alisamento foram adotados como regra de aceitação social, uma “solução” que promove o apagamento de um dos traços fenotípicos da população negra.

E, sendo geralmente um processo marcado por sofrimento e, muitas vezes, por tortura e danos duradouros à saúde, torna-se, assim, uma experiência que causa traumas nos corpos das mulheres negras.

É a respeito de tal jornada que Ebony Flowers escreve seu “Pente Quente”. Sua HQ adota o formato da narrativa breve, apresentando oito contos que partilham a vivência crespa e a socialização entre mulheres, elementos quase sinônimos quando abordamos tais identidades.

A primeira história, que leva o nome do livro, ilustra bem essa relação: a adolescência nos anos 1990, a participação num show de talentos junto das amigas, a vontade de ser igual a uma integrante do trio pop TLC, o desejo de se misturar com a molecada do bairro. Um turbilhão de situações e sentimentos que levam a garota a fazer um relaxamento num salão de beleza.

É um espaço privilegiado de partilha negra e feminina de dramas e delícias da vida, o procedimento, que toma muito tempo, é contado em pormenores com detalhadas ilustrações.

Flowers narra as histórias de maneira episódica, retratando em certos momentos o racismo cotidiano, conceito da antropóloga Philomena Essed usado por Grada Kilomba em seu já quase clássico “Memórias da Plantação”.

A quadrinista não deixa de lado episódios mais dissimulados de racismo, como nos contos “O espanhol” e “A senhora do metrô”. Neste último, a personagem é apresentada num metrô, quieta e com um turbante na cabeça, até chegar uma mulher cheia de peculiaridades que faz uma série de perguntas inconvenientes, inquirindo sua origem: “Você é iraniana?”. “Você é da Palestina?”. “Você é muçulmana?”. “Você é da África?”.

A estrangeirice presumida, seja nos Estados Unidos, no Brasil ou em qualquer país historicamente racista, é um dos inúmeros mecanismos de que a supremacia branca lança mão para excluir, ainda que subjetivamente, o direito e a autonomia da pessoa negra.

A autora assume um traço forte, com ênfase no jogo de preenchimento com linhas grossas e finas, enroladas, curvas e esticadas, que recriam a atmosfera emaranhada de sua vivência.

Suas narrativas, bem sabemos, ecoam em outras meninas, mulheres e senhoras negras que, mais cedo ou mais tarde, despertaram a sua própria identidade a partir do cabelo -e trazem com ela diversas memórias de cumplicidade e união entre suas iguais.

PENTE QUENTE

Avaliação Ótimo

Preço R$ 69,90 (184 págs.)

Autoria Ebony Flowers

Editora Veneta

Tradução Dandara Palankof

BIANCA GONÇALVES / Folhapress

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