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(FOLHAPRESS) – Na história do documentário, tentativas de registrar a primeira imagem de povos nunca antes filmados ou fotografados produziram filmes e reflexões fundamentais. Qual é o papel do cinema nessa configuração? Que responsabilidade tem o cineasta no contato com povos que até o momento do encontro desconheciam o cinema, os brancos, o capitalismo?

“First Contact”, de 1982, dos australianos Bob Connolly e Robin Anderson, trabalha a questão de um jeito interessante. O filme reconstitui uma expedição que procurava ouro nas montanhas da Nova Guiné, em 1930. Meio século mais tarde, a dupla de cineastas leva fotos daquele contato inaugural entre brancos e nativos para seus descendentes, ainda bastante isolados.

No Brasil, na segunda metade do século 20, os cineastas Adrian Cowell, Vincent Carelli e Andrea Tonacci -respectivamente em “Os Últimos Isolados”, “Corumbiara” e “Os Arara”- dedicaram-se a filmar povos indígenas apartados do convívio com brancos ou outros indígenas. Cada um a seu modo procurou colocar em imagens aquela que a pesquisadora Clarisse Alvarenga chama de “a cena do contato”, marco do encontro primordial entre a câmera e seus novos sujeitos.

“A Invenção do Outro” (2022), de Bruno Jorge, exibido em São Paulo na Mostra Eco-Falante, inscreve-se nessa história de maneira cuidadosa, consciente das iniciativas que o precederam, de suas armadilhas e encantos. O documentário foi rodado em 2019 no Vale do Javari, na fronteira entre a Amazônia brasileira, o Peru e a Bolívia, região considerada detentora da maior concentração de povos originários isolados do mundo.

Pelas lentes de Bruno Jorge, acompanhamos uma equipe de trinta pessoas que tenta contato com os korubo. O objetivo era contribuir para pacificar as relações conflituosas com os vizinhos matis e, além disso, promover a reaproximação de alguns indivíduos, que depois de se afastarem do grupo de origem, em 2015, estabeleceram relação com a Funai. Essa parte separada do grupo agora tentava reencontrar os parentes, ainda isolados.

Em tentativas anteriores de contato com os korubo isolados, seis funcionários da Funai haviam sido mortos. O “risco do real” característico do documentário, de que fala Jean-Louis Comolli, era, na expedição de “A Invenção do Outro”, risco real, e não só para quem estava atrás da câmera.

Na equipe de trinta pessoas que vemos no filme, há agentes da Funai, profissionais da saúde e indígenas colaboradores. Entre eles, o indigenista pernambucano Bruno Pereira, assassinado em 2022 ao lado do jornalista britânico Dom Phillips. Vemos registros preciosos de Bruno Pereira no trabalho, numa combinação singular de carisma e firmeza.

A duração é um elemento importante do filme. Para além do dado objetivo -144 minutos, acima da média das sessões comerciais-, “A Invenção do Outro” comporta muitos momentos de espera. Há, em primeiro lugar, uma questão sanitária: para avançar é preciso que ninguém da expedição tenha sintomas de gripe ou outra doença. Qualquer vírus pode ser fatal para povos isolados.

Há, também, uma razão narrativa para a espera: os tempos mortos nos dão a dimensão da dificuldade enfrentada no processo de realização de “filmes de contato” como “A Invenção do Outro”.

Não por acaso, menciono o contato em si só agora, nestes parágrafos finais. Quero, sim, evitar spoilers. Mas principalmente desejo contribuir para uma postura paciente por parte do leitor-espectador. Numa rara aparição de mulheres koburo no filme, as vemos curiosas diante do corpo das mulheres da expedição, raras também.

Opera-se ali, discretamente, uma inversão: as indígenas dirigem a cena, ao pedirem que as enfermeiras tirem as camisetas. Ao tornarem-se objeto da visão, elas querem ver, ser agentes. Como dimensionar esse gesto, tão importante, performado por mulheres sem experiência frente à câmera? Essa cena, preciosa, dá uma ideia da negociação (possível?) entre a cultura do visível –a dos brancos– e o mundo dos indígenas amazônicos, no qual o invisível tem lugar fundamental.

A INVENÇÃO DO OUTRO

Avaliação Ótimo

Quando Mostra Ecofalante: sex. (9), às 20h30, no Espaço Itaú Augusta

Classificação Não informada

Produção Brasil, 2022

Direção Bruno Jorge

LÚCIA MONTEIRO / Folhapress

‘A Invenção do Outro’ faz, com cuidado, cinema sobre os povos isolados

(FOLHAPRESS) – Na história do documentário, tentativas de registrar a primeira imagem de povos nunca antes filmados ou fotografados produziram filmes e reflexões fundamentais. Qual é o papel do cinema nessa configuração? Que responsabilidade tem o cineasta no contato com povos que até o momento do encontro desconheciam o cinema, os brancos, o capitalismo?

“First Contact”, de 1982, dos australianos Bob Connolly e Robin Anderson, trabalha a questão de um jeito interessante. O filme reconstitui uma expedição que procurava ouro nas montanhas da Nova Guiné, em 1930. Meio século mais tarde, a dupla de cineastas leva fotos daquele contato inaugural entre brancos e nativos para seus descendentes, ainda bastante isolados.

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No Brasil, na segunda metade do século 20, os cineastas Adrian Cowell, Vincent Carelli e Andrea Tonacci -respectivamente em “Os Últimos Isolados”, “Corumbiara” e “Os Arara”- dedicaram-se a filmar povos indígenas apartados do convívio com brancos ou outros indígenas. Cada um a seu modo procurou colocar em imagens aquela que a pesquisadora Clarisse Alvarenga chama de “a cena do contato”, marco do encontro primordial entre a câmera e seus novos sujeitos.

“A Invenção do Outro” (2022), de Bruno Jorge, exibido em São Paulo na Mostra Eco-Falante, inscreve-se nessa história de maneira cuidadosa, consciente das iniciativas que o precederam, de suas armadilhas e encantos. O documentário foi rodado em 2019 no Vale do Javari, na fronteira entre a Amazônia brasileira, o Peru e a Bolívia, região considerada detentora da maior concentração de povos originários isolados do mundo.

Pelas lentes de Bruno Jorge, acompanhamos uma equipe de trinta pessoas que tenta contato com os korubo. O objetivo era contribuir para pacificar as relações conflituosas com os vizinhos matis e, além disso, promover a reaproximação de alguns indivíduos, que depois de se afastarem do grupo de origem, em 2015, estabeleceram relação com a Funai. Essa parte separada do grupo agora tentava reencontrar os parentes, ainda isolados.

Em tentativas anteriores de contato com os korubo isolados, seis funcionários da Funai haviam sido mortos. O “risco do real” característico do documentário, de que fala Jean-Louis Comolli, era, na expedição de “A Invenção do Outro”, risco real, e não só para quem estava atrás da câmera.

Na equipe de trinta pessoas que vemos no filme, há agentes da Funai, profissionais da saúde e indígenas colaboradores. Entre eles, o indigenista pernambucano Bruno Pereira, assassinado em 2022 ao lado do jornalista britânico Dom Phillips. Vemos registros preciosos de Bruno Pereira no trabalho, numa combinação singular de carisma e firmeza.

A duração é um elemento importante do filme. Para além do dado objetivo -144 minutos, acima da média das sessões comerciais-, “A Invenção do Outro” comporta muitos momentos de espera. Há, em primeiro lugar, uma questão sanitária: para avançar é preciso que ninguém da expedição tenha sintomas de gripe ou outra doença. Qualquer vírus pode ser fatal para povos isolados.

Há, também, uma razão narrativa para a espera: os tempos mortos nos dão a dimensão da dificuldade enfrentada no processo de realização de “filmes de contato” como “A Invenção do Outro”.

Não por acaso, menciono o contato em si só agora, nestes parágrafos finais. Quero, sim, evitar spoilers. Mas principalmente desejo contribuir para uma postura paciente por parte do leitor-espectador. Numa rara aparição de mulheres koburo no filme, as vemos curiosas diante do corpo das mulheres da expedição, raras também.

Opera-se ali, discretamente, uma inversão: as indígenas dirigem a cena, ao pedirem que as enfermeiras tirem as camisetas. Ao tornarem-se objeto da visão, elas querem ver, ser agentes. Como dimensionar esse gesto, tão importante, performado por mulheres sem experiência frente à câmera? Essa cena, preciosa, dá uma ideia da negociação (possível?) entre a cultura do visível –a dos brancos– e o mundo dos indígenas amazônicos, no qual o invisível tem lugar fundamental.

A INVENÇÃO DO OUTRO

Avaliação Ótimo

Quando Mostra Ecofalante: sex. (9), às 20h30, no Espaço Itaú Augusta

Classificação Não informada

Produção Brasil, 2022

Direção Bruno Jorge

LÚCIA MONTEIRO / Folhapress

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