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MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Foram três vitórias que o levaram ao cargo de premiê e outras duas à Presidência da Turquia. Após 20 anos no poder, Recep Tayyip Erdogan, 69, encerra neste domingo (28) sua disputa mais acirrada.

A vitória é menos certa do que no passado, mas os bons resultados no primeiro turno das eleições, tanto na votação presidencial quanto para o Parlamento turco, e o apoio que consolidou, com seu estilo populista e sua política de concentração de poder, colocaram Erdogan como favorito para conquistar um novo mandato.

A possibilidade de ele continuar mais cinco anos à frente do país levanta questões que vão do processo de declínio democrático e do Estado de Direito, promovido por Erdogan e por seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) com o voto do eleitorado conservador e religioso, e sobre o papel da Turquia como ator relevante global, em tempos de guerra no Leste Europeu e de redefinição geopolítica.

No caminho de Erdogan está Kemal Kilicdaroglu, 74, economista e funcionário público aposentado, parlamentar por duas décadas e presidente do Partido Republicano Popular (CHP).

Ele lidera uma aliança da oposição, formada por seis legendas, da esquerda à direita. Antes do primeiro turno, há duas semanas, aparecia em vantagem nas pesquisas. Mas o resultado da votação desidratou as expectativas -Erdogan venceu por 49,5% a 44,9%.

Dessa vez, os institutos indicam o atual presidente à frente. Segundo levantamento do Metropoll realizado na quinta (25), Erdogan está em primeiro, com 47,9%, enquanto Kilicdaroglu tem 41,3%. Quando os indecisos (4%) são redistribuídos proporcionalmente, Erdogan atinge 53,7% dos votos válidos, contra 46,3% do adversário.

Neste sábado (27), último dia de campanha, Erdogan pediu em Istambul uma ampla campanha de comparecimento às urnas. “Não vamos perder nenhum voto do primeiro turno, vamos concluir o trabalho que deixamos inacabado com uma maioria esmagadora.”

O que será da Turquia, dentro e fora de suas fronteiras, é a pergunta do momento. Além da população de 85 milhões de habitantes, estão de olho nos resultados os líderes do Oriente Médio, da União Europeia, dos EUA e da Rússia, com os quais Erdogan costurou relações econômicas, parcerias estratégicas e militares. Localizada em um ponto crucial do globo, a Turquia está entre as 20 maiores economias, abriga o maior número de refugiados do mundo, é membro da Otan e, ao mesmo tempo, chama Vladimir Putin de “querido amigo”.

Domesticamente, Erdogan concentrou poder, com mudanças constitucionais que alteraram regras eleitorais e eliminaram a figura do premiê, e passou a decidir sozinho as políticas de governo. Ele controla as mídias estatal e privada, persegue adversários e oprime minorias étnicas e grupos LGBTQIA+.

“Após um referendo de 2017, o regime político passou de semipresidencial para aparentemente presidencial, mas que, na prática, funciona como sultanismo, o que não é uma forma democrática”, diz à Folha Ersin Kalaycioglu, professor de ciência política da Universidade Sabanci, em Istambul. O sultanismo é entendido como um modelo de governo personalista e autoritário.

Isso em parte explica a razão para que a Turquia tenha passado de país próspero, em que o PIB per capita quase triplicou entre 2003 e 2013, para uma economia de baixo crescimento e má distribuição de renda.

Mesmo com aumento da corrupção e abuso de poder, não havia possibilidade de responsabilização do presidente, que conta com maioria das cadeiras no Parlamento.

Outra marca é a condução altamente concentrada de decisões políticas, sem deliberação do Legislativo ou do gabinete de ministros. A crise econômica atual é creditada a escolhas isoladas de Erdogan. “Houve uma considerável decadência político-institucional.”

Ao ser questionado sobre o que pode acontecer com mais cinco anos de Erdogan no poder, o cientista político é pessimista. “Tudo tende a piorar. Podemos ter uma crise de Estado, um Estado falido, algo que pode ser custoso para a região toda.”

A piora das condições econômicas desde 2018 e o grave terremoto de fevereiro passado, que matou mais de 50 mil pessoas na Turquia e levantou críticas pela demora na resposta do governo, por corrupção e falta de controle em regras de construção, eram considerados fatores que poderiam deixar Erdogan em desvantagem.

O resultado do primeiro turno, no entanto, mostrou que ele tem uma base de apoio consolidada e resiliente. Ao afastar a Turquia do secularismo inaugurado nos anos 1920, quando o país se tornou uma república, Erdogan foi seguindo sempre mais a linha pró-islâmica, atraindo o voto religioso, conservador e nacionalista.

“Há uma guerra cultural na Turquia entre diferentes comunidades, separadas por linhas religiosas, sectárias ou étnicas”, explica Kalaycioglu. “Tudo é filtrado por essas lentes de identidade cultural e identificação partidária. Quando a economia entra em crise, muita gente interpreta isso como um acontecimento conspiratório devido a algum tipo de intromissão internacional nos assuntos turcos.”

Depois da demonstração de força do atual presidente no primeiro turno, Kilicdaroglu ajustou seu discurso com mais nacionalismo e acrescentou um tom fortemente anti-imigração, captando sentimento crescente entre os turcos. Ele prometeu tirar do país os refugiados, que hoje somam ao menos 4 milhões, sendo 3,5 milhões de sírios.

A estratégia busca atrair parte dos quase 3 milhões de votos recebidos por Sinan Ogan, que acabou em terceiro lugar e depois declarou apoio a Erdogan, mas atrai olhares desconfiados de vizinhos, incluindo a União Europeia, que mantém acordo com a Turquia desde 2016 para retenção de refugiados sírios no país, em troca de ajuda financeira.

“Convoco todo o nosso povo, independentemente de sua visão ou estilo de vida: esta é a nossa última saída, todos que amam esse país devem ir às urnas”, escreveu Kilicdaroglu em um tuíte no sábado. “Se vocês realmente quiserem, todos sairemos desse poço juntos.”

Antes, a campanha da oposição vinha centrada na intenção de pôr fim à polarização, reaproximar o país dos valores democráticos, retomar uma política econômica ortodoxa e deslocar as relações exteriores um pouco mais para o Ocidente, embora sem virar as costas para a Rússia, de quem o país depende no comércio, na energia e no turismo.

Para Alessia Chiriatti, pesquisadora de Oriente Médio, Mediterrâneo e Norte da África do Instituto de Assuntos Internacionais, em Roma, seja quem sair vencedor nas urnas, é esperada pouca descontinuidade na política externa.

“Tanto Erdogan quanto a sociedade veem a Turquia como um país independente, não mais ancorado ao sonho de entrar na União Europeia, nem exclusivamente olhando para a Otan. Uma Turquia que atua em várias frentes, é líder regional e capaz de resolver conflitos, como tenta fazer na Ucrânia.”

Apesar de visto como imprevisível pelos ocidentais, o atual presidente consegue manter as credenciais de protagonista com ações como a mediação do acordo com a Rússia que permite à Ucrânia exportar grãos de maneira segura durante a guerra, evitando o agravamento de uma crise alimentar mundial. O combinado, fechado no ano passado, acaba de ser renovado por mais dois meses.

A relação com Moscou restará como o tópico mais preocupante das movimentações de Erdogan para os aliados nos EUA e na UE, mas os pontos fracos e fortes do líder são já conhecidos, especialmente na Europa. “A Turquia é um parceiro estratégico. É uma forma de porto seguro para o Ocidente. Depois de 20 anos, os líderes aprenderam a lidar com ele, indo caso a caso”, diz a especialista.

MICHELE OLIVEIRA / Folhapress

Erdogan chega favorito a 2º turno e joga dúvidas sobre futuro da Turquia

MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Foram três vitórias que o levaram ao cargo de premiê e outras duas à Presidência da Turquia. Após 20 anos no poder, Recep Tayyip Erdogan, 69, encerra neste domingo (28) sua disputa mais acirrada.

A vitória é menos certa do que no passado, mas os bons resultados no primeiro turno das eleições, tanto na votação presidencial quanto para o Parlamento turco, e o apoio que consolidou, com seu estilo populista e sua política de concentração de poder, colocaram Erdogan como favorito para conquistar um novo mandato.

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A possibilidade de ele continuar mais cinco anos à frente do país levanta questões que vão do processo de declínio democrático e do Estado de Direito, promovido por Erdogan e por seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) com o voto do eleitorado conservador e religioso, e sobre o papel da Turquia como ator relevante global, em tempos de guerra no Leste Europeu e de redefinição geopolítica.

No caminho de Erdogan está Kemal Kilicdaroglu, 74, economista e funcionário público aposentado, parlamentar por duas décadas e presidente do Partido Republicano Popular (CHP).

Ele lidera uma aliança da oposição, formada por seis legendas, da esquerda à direita. Antes do primeiro turno, há duas semanas, aparecia em vantagem nas pesquisas. Mas o resultado da votação desidratou as expectativas -Erdogan venceu por 49,5% a 44,9%.

Dessa vez, os institutos indicam o atual presidente à frente. Segundo levantamento do Metropoll realizado na quinta (25), Erdogan está em primeiro, com 47,9%, enquanto Kilicdaroglu tem 41,3%. Quando os indecisos (4%) são redistribuídos proporcionalmente, Erdogan atinge 53,7% dos votos válidos, contra 46,3% do adversário.

Neste sábado (27), último dia de campanha, Erdogan pediu em Istambul uma ampla campanha de comparecimento às urnas. “Não vamos perder nenhum voto do primeiro turno, vamos concluir o trabalho que deixamos inacabado com uma maioria esmagadora.”

O que será da Turquia, dentro e fora de suas fronteiras, é a pergunta do momento. Além da população de 85 milhões de habitantes, estão de olho nos resultados os líderes do Oriente Médio, da União Europeia, dos EUA e da Rússia, com os quais Erdogan costurou relações econômicas, parcerias estratégicas e militares. Localizada em um ponto crucial do globo, a Turquia está entre as 20 maiores economias, abriga o maior número de refugiados do mundo, é membro da Otan e, ao mesmo tempo, chama Vladimir Putin de “querido amigo”.

Domesticamente, Erdogan concentrou poder, com mudanças constitucionais que alteraram regras eleitorais e eliminaram a figura do premiê, e passou a decidir sozinho as políticas de governo. Ele controla as mídias estatal e privada, persegue adversários e oprime minorias étnicas e grupos LGBTQIA+.

“Após um referendo de 2017, o regime político passou de semipresidencial para aparentemente presidencial, mas que, na prática, funciona como sultanismo, o que não é uma forma democrática”, diz à Folha Ersin Kalaycioglu, professor de ciência política da Universidade Sabanci, em Istambul. O sultanismo é entendido como um modelo de governo personalista e autoritário.

Isso em parte explica a razão para que a Turquia tenha passado de país próspero, em que o PIB per capita quase triplicou entre 2003 e 2013, para uma economia de baixo crescimento e má distribuição de renda.

Mesmo com aumento da corrupção e abuso de poder, não havia possibilidade de responsabilização do presidente, que conta com maioria das cadeiras no Parlamento.

Outra marca é a condução altamente concentrada de decisões políticas, sem deliberação do Legislativo ou do gabinete de ministros. A crise econômica atual é creditada a escolhas isoladas de Erdogan. “Houve uma considerável decadência político-institucional.”

Ao ser questionado sobre o que pode acontecer com mais cinco anos de Erdogan no poder, o cientista político é pessimista. “Tudo tende a piorar. Podemos ter uma crise de Estado, um Estado falido, algo que pode ser custoso para a região toda.”

A piora das condições econômicas desde 2018 e o grave terremoto de fevereiro passado, que matou mais de 50 mil pessoas na Turquia e levantou críticas pela demora na resposta do governo, por corrupção e falta de controle em regras de construção, eram considerados fatores que poderiam deixar Erdogan em desvantagem.

O resultado do primeiro turno, no entanto, mostrou que ele tem uma base de apoio consolidada e resiliente. Ao afastar a Turquia do secularismo inaugurado nos anos 1920, quando o país se tornou uma república, Erdogan foi seguindo sempre mais a linha pró-islâmica, atraindo o voto religioso, conservador e nacionalista.

“Há uma guerra cultural na Turquia entre diferentes comunidades, separadas por linhas religiosas, sectárias ou étnicas”, explica Kalaycioglu. “Tudo é filtrado por essas lentes de identidade cultural e identificação partidária. Quando a economia entra em crise, muita gente interpreta isso como um acontecimento conspiratório devido a algum tipo de intromissão internacional nos assuntos turcos.”

Depois da demonstração de força do atual presidente no primeiro turno, Kilicdaroglu ajustou seu discurso com mais nacionalismo e acrescentou um tom fortemente anti-imigração, captando sentimento crescente entre os turcos. Ele prometeu tirar do país os refugiados, que hoje somam ao menos 4 milhões, sendo 3,5 milhões de sírios.

A estratégia busca atrair parte dos quase 3 milhões de votos recebidos por Sinan Ogan, que acabou em terceiro lugar e depois declarou apoio a Erdogan, mas atrai olhares desconfiados de vizinhos, incluindo a União Europeia, que mantém acordo com a Turquia desde 2016 para retenção de refugiados sírios no país, em troca de ajuda financeira.

“Convoco todo o nosso povo, independentemente de sua visão ou estilo de vida: esta é a nossa última saída, todos que amam esse país devem ir às urnas”, escreveu Kilicdaroglu em um tuíte no sábado. “Se vocês realmente quiserem, todos sairemos desse poço juntos.”

Antes, a campanha da oposição vinha centrada na intenção de pôr fim à polarização, reaproximar o país dos valores democráticos, retomar uma política econômica ortodoxa e deslocar as relações exteriores um pouco mais para o Ocidente, embora sem virar as costas para a Rússia, de quem o país depende no comércio, na energia e no turismo.

Para Alessia Chiriatti, pesquisadora de Oriente Médio, Mediterrâneo e Norte da África do Instituto de Assuntos Internacionais, em Roma, seja quem sair vencedor nas urnas, é esperada pouca descontinuidade na política externa.

“Tanto Erdogan quanto a sociedade veem a Turquia como um país independente, não mais ancorado ao sonho de entrar na União Europeia, nem exclusivamente olhando para a Otan. Uma Turquia que atua em várias frentes, é líder regional e capaz de resolver conflitos, como tenta fazer na Ucrânia.”

Apesar de visto como imprevisível pelos ocidentais, o atual presidente consegue manter as credenciais de protagonista com ações como a mediação do acordo com a Rússia que permite à Ucrânia exportar grãos de maneira segura durante a guerra, evitando o agravamento de uma crise alimentar mundial. O combinado, fechado no ano passado, acaba de ser renovado por mais dois meses.

A relação com Moscou restará como o tópico mais preocupante das movimentações de Erdogan para os aliados nos EUA e na UE, mas os pontos fracos e fortes do líder são já conhecidos, especialmente na Europa. “A Turquia é um parceiro estratégico. É uma forma de porto seguro para o Ocidente. Depois de 20 anos, os líderes aprenderam a lidar com ele, indo caso a caso”, diz a especialista.

MICHELE OLIVEIRA / Folhapress

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