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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A rápida passagem do técnico Cuca pelo Corinthians, encerrada na madrugada desta quinta-feira (27), menos de uma semana após sua apresentação, deve deixar marcas importantes.

Para pesquisadores, o caso mostrou que, na condição de esporte mais popular do país, o futebol não está isento das transformações da sociedade, sobretudo na forma como são tratados os casos de violência contra a mulher.

A permanência do treinador na equipe tornou-se insustentável pela pressão de torcedores, sobretudo de mulheres, indignados com a postura do clube diante do caso de violência sexual registrado na Suíça, em 1987. Na ocasião, Cuca era jogador do Grêmio e foi detido ao lado de três companheiros.

Julgado e condenado, ele não chegou a cumprir a pena estipulada para o crime, que prescreveu, mas o caso voltou à tona desde sua chegada ao time alvinegro.

O paranaense nega as acusações, mas a versão dele é refutada pelo advogado que defendeu a vítima na época, quando ela tinha 13 anos.

Ao comunicar seu desligamento do Corinthians, após a partida contra o Remo pela Copa do Brasil, na quarta-feira (26), na Neo Química Arena, o treinador afirmou que “foi quase um massacre o que acabou acontecendo” desde sua chegada ao Parque São Jorge.

Especialistas ouvidos pela reportagem, no entanto, apontam que a pressão sofrida por ele e pelo time são reflexos de uma sociedade cada vez menos tolerante com a normalização de casos de violência contra as mulheres.

“O futebol é um espelho da sociedade. E o fato de que, em 1987, esse caso [envolvendo o Cuca] não tenha tido a mesma repercussão que teve agora, mais de 30 anos depois, é prova disso”, diz a historiadora Diana Mendes, que tem dedicado sua carreira para investigar o futebol no Brasil.

Doutora em História Social e com atuação no Grupo de Direitos Humanos, Democracia e Memória do Instituto de Estudos Avançados da USP (Universidade de São Paulo), Diana critica a condução do caso feita pelo Corinthians, em especial, a declaração do presidente do clube, Duilio Monteiro Alves.

Pouco depois do breve pronunciamento de Cuca, o cartola lamentou a saída do treinador. “São os novos tempos, vamos dizer assim. Não quero entrar no mérito, mas acho que foi um exagero, um massacre em cima dele e do Corinthians, em cima de mim também.”

Para a historiadora, “o que deveria ter sido dito por ele é que o clube não poderia ter uma atitude diferente que não fosse a de amplificar a voz da sociedade civil” que rejeitava a contratação do profissional.

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo, a antropóloga Marianna Barcelos vê a postura não só do clube, mas também dos jogadores e de parte da torcida como um exemplo do “pacto da masculinidade que segue firme e muito acima de qualquer pauta social importante.”

Após a vitória sobre o Remo na disputa por pênaltis, os jogadores do Corinthians correram na direção do técnico Cuca para abraçá-lo. O goleiro Cássio afirmou que o técnico é “um cara que, apesar de tudo, tem lutado para ajudar.”

A equipe feminina, no entanto, teve uma postura diferente do masculino desde a contratação do treinador. Nas redes sociais, elas divulgaram uma nota na qual citam que “ser Corinthians significa viver e lutar por direitos todos os dias”.

O texto foi publicado pelas jogadoras no dia da estreia de Cuca à frente da equipe masculina, diante do Goiás, no domingo (23), exatamente no minuto 87 do jogo, em uma referência ao ano que o técnico foi condenado na Suíça.

A postagem ecoou o protesto que já havia sido feito por um grupo de cerca de 200 torcedoras durante a apresentação oficial do técnico, na última sexta-feira (21), no Parque Ecológico,

“Discutir esse caso é um dos caminhos para demonstrar que no futebol, assim como na sociedade, isso [a violência contra as mulheres] não será mais ignorado ou silenciado”, destaca Marianna Barcelos.

O debate proposto dividiu as torcidas organizadas do clube. A Camisa 12, a Pavilhão 9 e o Coletivo Democracia Corinthians divulgaram notas repudiando a contratação do técnico. A Gaviões da Fiel, maior organizada do clube, no entanto, resolveu apoiá-lo sob o argumento de que o time teria jogos importantes pela frente.

“O esporte segue se esquivando de suas obrigações com a sociedade”, diz Marina Ganzarolli, advogada à frente do Me Too Brasil —movimento contra assédio sexual e violência contra mulheres. “O Cuca não saiu do Corinthians como deveria. O clube não se posicionou, os patrocinadores não se posicionaram. Quem se posicionou foram as torcedoras e as jornalistas”, critica.

Apenas dois dos nove patrocinadores do clube se manifestaram em meio à repercussão, o banco BMG e a distribuidora Ale. “Deveria ser um princípio básico de qualquer parceria entender se a outra parte tem os mesmos princípios éticos”, pontua Libia Macedo, professora de Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan Escola de Negócios.

Marina Ganzarolli cita ainda os casos envolvendo o goleiro Bruno, o atacante Robinho e o lateral Daniel Alves para apontar que a violência contra as mulheres segue “sendo ignorada pelos clubes como se não fosse algo importante enquanto a sociedade não tolera mais isso”.

De acordo com o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, o Brasil “é um país em que 90% das pessoas consideram que estupradores não são doentes mentais, mas sim criminosos que devem ser punidos e a pressão da torcida feminina do Corinthians reflete bem isso”.

Segundo um estudo da Locomotiva com o Instituto Patrícia Galvão, 6 em cada 10 brasileiros conhece alguma mulher que foi vítima de estupro. “Infelizmente esse crime ainda é uma realidade na nossa sociedade, mas a tolerância com os casos que vem a público já não é a mesma de anos atrás, aos poucos estamos avançando enquanto sociedade”, avalia Meirelles.

LUCIANO TRINDADE / Folhapress

Saída de Cuca mostra que futebol precisa seguir transformação da sociedade, dizem especialistas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A rápida passagem do técnico Cuca pelo Corinthians, encerrada na madrugada desta quinta-feira (27), menos de uma semana após sua apresentação, deve deixar marcas importantes.

Para pesquisadores, o caso mostrou que, na condição de esporte mais popular do país, o futebol não está isento das transformações da sociedade, sobretudo na forma como são tratados os casos de violência contra a mulher.

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A permanência do treinador na equipe tornou-se insustentável pela pressão de torcedores, sobretudo de mulheres, indignados com a postura do clube diante do caso de violência sexual registrado na Suíça, em 1987. Na ocasião, Cuca era jogador do Grêmio e foi detido ao lado de três companheiros.

Julgado e condenado, ele não chegou a cumprir a pena estipulada para o crime, que prescreveu, mas o caso voltou à tona desde sua chegada ao time alvinegro.

O paranaense nega as acusações, mas a versão dele é refutada pelo advogado que defendeu a vítima na época, quando ela tinha 13 anos.

Ao comunicar seu desligamento do Corinthians, após a partida contra o Remo pela Copa do Brasil, na quarta-feira (26), na Neo Química Arena, o treinador afirmou que “foi quase um massacre o que acabou acontecendo” desde sua chegada ao Parque São Jorge.

Especialistas ouvidos pela reportagem, no entanto, apontam que a pressão sofrida por ele e pelo time são reflexos de uma sociedade cada vez menos tolerante com a normalização de casos de violência contra as mulheres.

“O futebol é um espelho da sociedade. E o fato de que, em 1987, esse caso [envolvendo o Cuca] não tenha tido a mesma repercussão que teve agora, mais de 30 anos depois, é prova disso”, diz a historiadora Diana Mendes, que tem dedicado sua carreira para investigar o futebol no Brasil.

Doutora em História Social e com atuação no Grupo de Direitos Humanos, Democracia e Memória do Instituto de Estudos Avançados da USP (Universidade de São Paulo), Diana critica a condução do caso feita pelo Corinthians, em especial, a declaração do presidente do clube, Duilio Monteiro Alves.

Pouco depois do breve pronunciamento de Cuca, o cartola lamentou a saída do treinador. “São os novos tempos, vamos dizer assim. Não quero entrar no mérito, mas acho que foi um exagero, um massacre em cima dele e do Corinthians, em cima de mim também.”

Para a historiadora, “o que deveria ter sido dito por ele é que o clube não poderia ter uma atitude diferente que não fosse a de amplificar a voz da sociedade civil” que rejeitava a contratação do profissional.

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo, a antropóloga Marianna Barcelos vê a postura não só do clube, mas também dos jogadores e de parte da torcida como um exemplo do “pacto da masculinidade que segue firme e muito acima de qualquer pauta social importante.”

Após a vitória sobre o Remo na disputa por pênaltis, os jogadores do Corinthians correram na direção do técnico Cuca para abraçá-lo. O goleiro Cássio afirmou que o técnico é “um cara que, apesar de tudo, tem lutado para ajudar.”

A equipe feminina, no entanto, teve uma postura diferente do masculino desde a contratação do treinador. Nas redes sociais, elas divulgaram uma nota na qual citam que “ser Corinthians significa viver e lutar por direitos todos os dias”.

O texto foi publicado pelas jogadoras no dia da estreia de Cuca à frente da equipe masculina, diante do Goiás, no domingo (23), exatamente no minuto 87 do jogo, em uma referência ao ano que o técnico foi condenado na Suíça.

A postagem ecoou o protesto que já havia sido feito por um grupo de cerca de 200 torcedoras durante a apresentação oficial do técnico, na última sexta-feira (21), no Parque Ecológico,

“Discutir esse caso é um dos caminhos para demonstrar que no futebol, assim como na sociedade, isso [a violência contra as mulheres] não será mais ignorado ou silenciado”, destaca Marianna Barcelos.

O debate proposto dividiu as torcidas organizadas do clube. A Camisa 12, a Pavilhão 9 e o Coletivo Democracia Corinthians divulgaram notas repudiando a contratação do técnico. A Gaviões da Fiel, maior organizada do clube, no entanto, resolveu apoiá-lo sob o argumento de que o time teria jogos importantes pela frente.

“O esporte segue se esquivando de suas obrigações com a sociedade”, diz Marina Ganzarolli, advogada à frente do Me Too Brasil —movimento contra assédio sexual e violência contra mulheres. “O Cuca não saiu do Corinthians como deveria. O clube não se posicionou, os patrocinadores não se posicionaram. Quem se posicionou foram as torcedoras e as jornalistas”, critica.

Apenas dois dos nove patrocinadores do clube se manifestaram em meio à repercussão, o banco BMG e a distribuidora Ale. “Deveria ser um princípio básico de qualquer parceria entender se a outra parte tem os mesmos princípios éticos”, pontua Libia Macedo, professora de Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan Escola de Negócios.

Marina Ganzarolli cita ainda os casos envolvendo o goleiro Bruno, o atacante Robinho e o lateral Daniel Alves para apontar que a violência contra as mulheres segue “sendo ignorada pelos clubes como se não fosse algo importante enquanto a sociedade não tolera mais isso”.

De acordo com o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, o Brasil “é um país em que 90% das pessoas consideram que estupradores não são doentes mentais, mas sim criminosos que devem ser punidos e a pressão da torcida feminina do Corinthians reflete bem isso”.

Segundo um estudo da Locomotiva com o Instituto Patrícia Galvão, 6 em cada 10 brasileiros conhece alguma mulher que foi vítima de estupro. “Infelizmente esse crime ainda é uma realidade na nossa sociedade, mas a tolerância com os casos que vem a público já não é a mesma de anos atrás, aos poucos estamos avançando enquanto sociedade”, avalia Meirelles.

LUCIANO TRINDADE / Folhapress

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