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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Duas linhas paralelas partem da paisagem e se encontram no centro da poesia. Isto é aquilo, diz a equação fundamental da linguagem poética. Marília Garcia, de 44 anos, avistou a mesma matemática na obra “Echo”, do artista americano Richard Serra, instalada no Instituto Moreira Salles, na avenida Paulista. Duas imensas placas de aço irrompem do chão e se emparelham, tensionadas, no espaço vazio do céu.

O jogo de correspondências funda o poema “Expedição: Nebulosa” que nomeia o sétimo livro da autora carioca, lançado agora pela editora Companhia das Letras. Dentro da equação, a fórmula do poema prevê a soma “10 atos + diálogo”.

“A escultura é o ponto de partida de tudo, mas depois fiquei encantada com a paisagem e a ideia de uma fotografia de longa exposição, que mostra o que nela é permanente e o que é transitório”, ela afirma, durante um café numa livraria no centro de São Paulo. “Tudo o que está vivo dura um tempo diferente, se tornando borrões na imagem, como fantasmas de outro planeta. Essa ideia resume bem a minha nebulosa.”

Em 2018, Garcia ganhou o prêmio Oceanos pelo livro “Câmera Lenta”, lançado no ano anterior. Em “Expedição: Nebulosa”, a autora reafirma a conquista de um estilo muito particular de escrita poética, permeado por temáticas reincidentes. De imediato, observa-se que o nome das duas obras preveem a ideia de movimento. Primeiro, na lentidão da imagem editada -uma câmera imaginária que se desloca lentamente na paisagem- e, depois, numa expedição misteriosa.

O poema que nomeia o livro se ancora na escultura para iniciar o movimento digressivo. “‘Seria possível acompanhar/ o pensamento/ se dobrando?”‘, diz o ato um. Em geral, as perguntas, grifadas em itálico no livro, trazem a resposta da elaboração imediatamente anterior -nesse caso, a sensação de movimento atribuída à escultura. “Imaginem que isto aqui é um mapa/ que não sei aonde vai dar.”

Num salto temático, o ato seis dispõe sobre o mito da ninfa Eco, que teria se apaixonado por Narciso. Recriando um diálogo entre os dois, o eu lírico forma duas colunas com as falas de cada um dos personagens, sugerindo a mesma verticalização de “Echo”, a escultura minimalista.

No décimo ato, a obsessão pelo mapa encontra interlocução com o amigo da autora, o escritor Victor Heringer, morto em 2018. Ao modo de Eco e Narciso, o eu lírico dialoga com Heringer, mas, com o desaparecimento, suas falas emudecem, a linha fica vazia.

A temática geográfica é entrecortada pela inquietação com a passagem do tempo. “‘Quanto tempo dura o presente?'”, diz uma daquelas frases em itálico, reincidente na obra. O segundo poema do livro chama-se “paisagem com futuro dentro” e foi escrito ainda durante o confinamento. “Todo dia é a mesma paisagem/ mas a cada vez que olho ganha/ nova camada/ fecho os olhos e agora é paisagem na/ memória superfícies/ sobrepostas/ buscar nessas camadas/ um detalhe que venha do futuro.”

Ao eu lírico, o tempo desorganiza o espaço. E aqui Garcia leva novamente ao centro da arte poética: a poesia também desorganiza a linguagem para rearranjá-la, fundando uma obra de arte que se inicia e finda nela própria.

Ao mesmo tempo, os livros de Garcia constituem um todo articulado. O sentido não se dá pela sucessão das unidades poéticas. Ao contrário, os poemas parecem surgir de um conceito prévio, ideia importante em “Câmera Lenta”. Reafirmando a coesão textual, um verso do primeiro poema pode ser retomado no fim do livro, como se o leitor estivesse diante do mesmo texto -e como se o tempo não houvesse passado.

Mas nem sempre é uma tentativa consciente, afirma a artista. “Em alguns livros, tive isso mais claro, mas neste momento só amarrei os poemas quando tive de fechar o livro de fato.” Sob o aspecto formal, a definição do que constituirá um verso surge naturalmente, o que reforça o diálogo com a narrativa ensaística, uma sucessão de ideias e acontecimentos.

A poeta diz não saber ao certo onde começa e termina um verso. Prefere fazer perguntas nebulosas. “Quanto tempo dura o presente?” Sem respostas diante da poesia, Garcia, tímida, sorri.

EXPEDIÇÃO: NEBULOSA

Preço R$ 64,90 (112 págs); R$ 39,90 (ebook)

Autoria Marília Garcia

Editora Companhia das Letras

GUSTAVO ZEITEL / Folhapress

Como Marília Garcia desnuda a linguagem poética em ‘Expedição: Nebulosa’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Duas linhas paralelas partem da paisagem e se encontram no centro da poesia. Isto é aquilo, diz a equação fundamental da linguagem poética. Marília Garcia, de 44 anos, avistou a mesma matemática na obra “Echo”, do artista americano Richard Serra, instalada no Instituto Moreira Salles, na avenida Paulista. Duas imensas placas de aço irrompem do chão e se emparelham, tensionadas, no espaço vazio do céu.

O jogo de correspondências funda o poema “Expedição: Nebulosa” que nomeia o sétimo livro da autora carioca, lançado agora pela editora Companhia das Letras. Dentro da equação, a fórmula do poema prevê a soma “10 atos + diálogo”.

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“A escultura é o ponto de partida de tudo, mas depois fiquei encantada com a paisagem e a ideia de uma fotografia de longa exposição, que mostra o que nela é permanente e o que é transitório”, ela afirma, durante um café numa livraria no centro de São Paulo. “Tudo o que está vivo dura um tempo diferente, se tornando borrões na imagem, como fantasmas de outro planeta. Essa ideia resume bem a minha nebulosa.”

Em 2018, Garcia ganhou o prêmio Oceanos pelo livro “Câmera Lenta”, lançado no ano anterior. Em “Expedição: Nebulosa”, a autora reafirma a conquista de um estilo muito particular de escrita poética, permeado por temáticas reincidentes. De imediato, observa-se que o nome das duas obras preveem a ideia de movimento. Primeiro, na lentidão da imagem editada -uma câmera imaginária que se desloca lentamente na paisagem- e, depois, numa expedição misteriosa.

O poema que nomeia o livro se ancora na escultura para iniciar o movimento digressivo. “‘Seria possível acompanhar/ o pensamento/ se dobrando?”‘, diz o ato um. Em geral, as perguntas, grifadas em itálico no livro, trazem a resposta da elaboração imediatamente anterior -nesse caso, a sensação de movimento atribuída à escultura. “Imaginem que isto aqui é um mapa/ que não sei aonde vai dar.”

Num salto temático, o ato seis dispõe sobre o mito da ninfa Eco, que teria se apaixonado por Narciso. Recriando um diálogo entre os dois, o eu lírico forma duas colunas com as falas de cada um dos personagens, sugerindo a mesma verticalização de “Echo”, a escultura minimalista.

No décimo ato, a obsessão pelo mapa encontra interlocução com o amigo da autora, o escritor Victor Heringer, morto em 2018. Ao modo de Eco e Narciso, o eu lírico dialoga com Heringer, mas, com o desaparecimento, suas falas emudecem, a linha fica vazia.

A temática geográfica é entrecortada pela inquietação com a passagem do tempo. “‘Quanto tempo dura o presente?'”, diz uma daquelas frases em itálico, reincidente na obra. O segundo poema do livro chama-se “paisagem com futuro dentro” e foi escrito ainda durante o confinamento. “Todo dia é a mesma paisagem/ mas a cada vez que olho ganha/ nova camada/ fecho os olhos e agora é paisagem na/ memória superfícies/ sobrepostas/ buscar nessas camadas/ um detalhe que venha do futuro.”

Ao eu lírico, o tempo desorganiza o espaço. E aqui Garcia leva novamente ao centro da arte poética: a poesia também desorganiza a linguagem para rearranjá-la, fundando uma obra de arte que se inicia e finda nela própria.

Ao mesmo tempo, os livros de Garcia constituem um todo articulado. O sentido não se dá pela sucessão das unidades poéticas. Ao contrário, os poemas parecem surgir de um conceito prévio, ideia importante em “Câmera Lenta”. Reafirmando a coesão textual, um verso do primeiro poema pode ser retomado no fim do livro, como se o leitor estivesse diante do mesmo texto -e como se o tempo não houvesse passado.

Mas nem sempre é uma tentativa consciente, afirma a artista. “Em alguns livros, tive isso mais claro, mas neste momento só amarrei os poemas quando tive de fechar o livro de fato.” Sob o aspecto formal, a definição do que constituirá um verso surge naturalmente, o que reforça o diálogo com a narrativa ensaística, uma sucessão de ideias e acontecimentos.

A poeta diz não saber ao certo onde começa e termina um verso. Prefere fazer perguntas nebulosas. “Quanto tempo dura o presente?” Sem respostas diante da poesia, Garcia, tímida, sorri.

EXPEDIÇÃO: NEBULOSA

Preço R$ 64,90 (112 págs); R$ 39,90 (ebook)

Autoria Marília Garcia

Editora Companhia das Letras

GUSTAVO ZEITEL / Folhapress

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