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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Na França, a recepção do meu romance foi decepcionante para mim”, afirma Fatima Daas, categórica, sobre “A Última Filha”, um livro que vendeu muito e recebeu prêmios relevantes em seu país.

Não é caso de alguém que cospe no prato que comeu. Segundo a escritora que participa da Feira do Livro neste sábado (10), a discussão sobre sua obra -uma história sobre seu amadurecimento construída em versos muito comparados à sonoridade do slam, da poesia falada- foi em torno dos assuntos errados.

“É claro que eu fico feliz que muitas pessoas o tenham lido, mas a leitura da mídia em torno do livro foi redutora, pois não senti que atravessaram a totalidade do que tem ali, tudo ficou muito focado exclusivamente sobre o Islã e a homossexualidade. É isso que cria polêmicas.”

Daas cresceu numa família muçulmana, e “A Última Filha” explora as lembranças de um amadurecimento marcado pela violência paterna, pelas longas viagens de trem da periferia ao centro, pelos conflitos na escola, pela visita calorosa à Argélia de seus pais e pelo primeiro flerte com uma garota, Nina.

Uma das singularidades da obra é o quanto ela recusa o padrão da mulher que se volta contra a religião conforme se desperta para desejos que seus dogmas execram. É uma história bem mais nuançada.

“Eu me chamo Fatima”, diz a frase que serve de introdução a quase toda página. “Eu carrego o nome de uma personagem simbólica no Islã. Um nome que se deve honrar. Um nome que desonrei.”

“Para mim não há contradição em ser muçulmana e lésbica; é isso o que eu sou”, diz a autora. “Mas o olhar da sociedade sobre essas identidades faz com que a religião e homossexualidade não possam coexistir.”

A ideia que ela buscou navegar é que não é necessário renunciar a uma pela outra. “Nós não somos obrigados a nos detestar por isso e nem nos sacrificar pela fé. Uma alternativa é essa da minha personagem, de tentar segurar tudo: o amor a Deus, o amor pelas mulheres, o amor pela mãe.”

“A Última Filha” soa totalmente autobiográfico, mas não é -nas palavras da crítica literária Beatriz Resende, é uma “autoria ficcional”-, a começar pelos nomes dos envolvidos.

Fatima Daas é um pseudônimo da jovem escritora de 28 anos, uma referência à filha mais nova do profeta Maomé, o que também ajuda a explicar o título da obra. Se a escolha tem a ver com preservar seus familiares, também mostra que a autora busca reforçar o peso da religião na sua literatura, não se esquivar dele.

O leitorado francês mais progressista não poupou críticas a Daas sobre uma suposta homofobia internalizada, demonstrada ao longo da obra conforme a protagonista se define diversas vezes como pecadora.

Mais para o fim da obra, uma passagem que soa contemporizadora traz um personagem dizendo: “Existem cristãos homossexuais como existem lésbicas muçulmanas. Deus sabe melhor do que nós, e nós não sabemos nada. Deus criou os pecados sabendo que pecaríamos.”

Quanto mais se lia “A Última Filha”, mais esse debate se insuflava e mais a autora se ressentia do caminho que ele tomava. “Eu tive a impressão de que a imprensa passou ao largo da minha escrita, achando que eu deveria fazer um papel que não era o meu de escritora, mas de uma teóloga.”

E o mérito literário do livro não é pequeno -tanto que é difícil encaixá-lo numa classificação exata entre romance, poesia, autoficção ou ensaísmo confessional. Suas frases têm um forte componente de oralidade, quase como se a autora as recitasse diante de nós num palco.

É uma originalidade que certamente tirou leitores e leitoras da zona de conforto -assim como a própria autora. Daas, ao responder a entrevista, exibe uma combatividade constante que lembra muito sua protagonista.

“Muitos esperavam que eu agradecesse à França por ter me salvado. Muitos não me entenderam. Muitos teriam preferido que eu escrevesse um romance contra a minha família argelina, contra o Islã, contra a periferia. Mas eu não dei o que eles esperavam.”

FATIMA DAAS NA FEIRA DO LIVRO

Quando Neste sábado (10), às 17h, em conversa com Diogo Bercito

Onde Praça Charles Miller, no Pacaembu, em SP

Preço Grátis

A ÚLTIMA FILHA

Preço R$ 58 (196 págs.)

Autoria Fatima Daas

Editora Bazar do Tempo

Tradução Cecília Schuback

WALTER PORTO / Folhapress

Fatima Daas rejeita oposição entre ser muçulmana e lésbica em livro nuançado

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Na França, a recepção do meu romance foi decepcionante para mim”, afirma Fatima Daas, categórica, sobre “A Última Filha”, um livro que vendeu muito e recebeu prêmios relevantes em seu país.

Não é caso de alguém que cospe no prato que comeu. Segundo a escritora que participa da Feira do Livro neste sábado (10), a discussão sobre sua obra -uma história sobre seu amadurecimento construída em versos muito comparados à sonoridade do slam, da poesia falada- foi em torno dos assuntos errados.

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“É claro que eu fico feliz que muitas pessoas o tenham lido, mas a leitura da mídia em torno do livro foi redutora, pois não senti que atravessaram a totalidade do que tem ali, tudo ficou muito focado exclusivamente sobre o Islã e a homossexualidade. É isso que cria polêmicas.”

Daas cresceu numa família muçulmana, e “A Última Filha” explora as lembranças de um amadurecimento marcado pela violência paterna, pelas longas viagens de trem da periferia ao centro, pelos conflitos na escola, pela visita calorosa à Argélia de seus pais e pelo primeiro flerte com uma garota, Nina.

Uma das singularidades da obra é o quanto ela recusa o padrão da mulher que se volta contra a religião conforme se desperta para desejos que seus dogmas execram. É uma história bem mais nuançada.

“Eu me chamo Fatima”, diz a frase que serve de introdução a quase toda página. “Eu carrego o nome de uma personagem simbólica no Islã. Um nome que se deve honrar. Um nome que desonrei.”

“Para mim não há contradição em ser muçulmana e lésbica; é isso o que eu sou”, diz a autora. “Mas o olhar da sociedade sobre essas identidades faz com que a religião e homossexualidade não possam coexistir.”

A ideia que ela buscou navegar é que não é necessário renunciar a uma pela outra. “Nós não somos obrigados a nos detestar por isso e nem nos sacrificar pela fé. Uma alternativa é essa da minha personagem, de tentar segurar tudo: o amor a Deus, o amor pelas mulheres, o amor pela mãe.”

“A Última Filha” soa totalmente autobiográfico, mas não é -nas palavras da crítica literária Beatriz Resende, é uma “autoria ficcional”-, a começar pelos nomes dos envolvidos.

Fatima Daas é um pseudônimo da jovem escritora de 28 anos, uma referência à filha mais nova do profeta Maomé, o que também ajuda a explicar o título da obra. Se a escolha tem a ver com preservar seus familiares, também mostra que a autora busca reforçar o peso da religião na sua literatura, não se esquivar dele.

O leitorado francês mais progressista não poupou críticas a Daas sobre uma suposta homofobia internalizada, demonstrada ao longo da obra conforme a protagonista se define diversas vezes como pecadora.

Mais para o fim da obra, uma passagem que soa contemporizadora traz um personagem dizendo: “Existem cristãos homossexuais como existem lésbicas muçulmanas. Deus sabe melhor do que nós, e nós não sabemos nada. Deus criou os pecados sabendo que pecaríamos.”

Quanto mais se lia “A Última Filha”, mais esse debate se insuflava e mais a autora se ressentia do caminho que ele tomava. “Eu tive a impressão de que a imprensa passou ao largo da minha escrita, achando que eu deveria fazer um papel que não era o meu de escritora, mas de uma teóloga.”

E o mérito literário do livro não é pequeno -tanto que é difícil encaixá-lo numa classificação exata entre romance, poesia, autoficção ou ensaísmo confessional. Suas frases têm um forte componente de oralidade, quase como se a autora as recitasse diante de nós num palco.

É uma originalidade que certamente tirou leitores e leitoras da zona de conforto -assim como a própria autora. Daas, ao responder a entrevista, exibe uma combatividade constante que lembra muito sua protagonista.

“Muitos esperavam que eu agradecesse à França por ter me salvado. Muitos não me entenderam. Muitos teriam preferido que eu escrevesse um romance contra a minha família argelina, contra o Islã, contra a periferia. Mas eu não dei o que eles esperavam.”

FATIMA DAAS NA FEIRA DO LIVRO

Quando Neste sábado (10), às 17h, em conversa com Diogo Bercito

Onde Praça Charles Miller, no Pacaembu, em SP

Preço Grátis

A ÚLTIMA FILHA

Preço R$ 58 (196 págs.)

Autoria Fatima Daas

Editora Bazar do Tempo

Tradução Cecília Schuback

WALTER PORTO / Folhapress

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