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FOLHAPRESS – Hisham Matar interpretou a notícia da queda do ditador Muammar Gaddafi em outubro de 2011 como um convite para voltar à Líbia, seu país natal. Ele vivia no exílio havia mais de três décadas. Poucos meses depois, já estava no aeroporto do Cairo, à espera de um voo que cruzaria tempo e espaço, até a terra de sua infância.

É ali que o leitor de “O Retorno” encontra Hisham -ansioso diante do portão de embarque, pensando em desistir. O livro, que chega ao Brasil pela editora Âyiné, conta a história daquela viagem real. O texto foi premiado em 2017 com o prestigioso troféu Pulitzer na categoria de autobiografia.

Hisham voltou à Líbia em 2012 em busca de informações sobre seu pai, Jaballa Matar, desaparecido. É uma história de suspense, de detetive. De quem quer respostas.

O autor nasceu em 1970 em Nova York. Seu pai, Jaballa, trabalhava na missão líbia na ONU. Viver nos Estados Unidos era uma maneira de eles estarem distantes da Líbia -Jaballa, afinal, era um conhecido crítico do ditador Gaddafi, que estava no poder desde 1969.

A família Matar retornou a Trípoli em 1973 mas fugiu outra vez em 1979, agora para o Egito, onde Hisham cresceu. Em 1990, Jaballa desapareceu de repente.

A família chegou a receber cartas dele alguns anos depois, dizendo ter sido raptado e levado à infame prisão líbia de Abu Salim. Mas, fora isso, existe apenas um silêncio sólido que não deixa Hisham viver o luto da perda do pai.

A viagem que Hisham narra em “O Retorno” é a de uma busca desesperada por notícias. Ele acredita, de alguma maneira, que seu pai sobreviveu a um conhecido massacre de prisioneiros em 1996. Vai cruzando os desertos, conversando com amigos e familiares, visitando inclusive a prisão onde Jaballa pode ter vivido seus últimos dias.

O livro consegue o raro feito de costurar o particular e o universal em uma única -e dolorosa- colcha de retalhos. Esse feito é uma expressão da maturidade do escritor, que estreou no romance em 2006 com “In the Country of Men”, ou no país dos homens, e agora vive em Londres como professor de literatura.

Hisham escreve o que, infelizmente, é um gênero em si no Oriente Médio e no norte da África: um relato de prisão. O cânone árabe está repleto de histórias parecidas, de gente que, como Jaballa, foi preso, torturado e morto. É comum também, nessa região, que escritores tratem da dor de estar longe de sua terra natal.

O celebrado poeta palestino Mahmud Darwich, publicado no Brasil pela editora Tabla, falava justamente da dureza de ser um presente ausente. Hisham recupera essa imagem para falar da sua relação com a Líbia, de que escapou, mas onde nunca deixou de estar.

Apesar de construído em cima das experiências de Hisham, “O Retorno” toca também o leitor que não carrega as mesmas bagagens que ele. O livro trata da perda de um pai -uma dor que, por natureza, une todos, independente do passaporte e da cor da pele.

O texto de Hisham é simples, quase seco, e fácil de seguir. Apesar de a narrativa avançar e retroceder no tempo, não se enrosca em si mesma nem tropeça. As digressões estão onde devem estar, guiando o leitor pelas memórias do autor, ativadas pelo que ele vê durante sua viagem. Nada fica debaixo da areia; tudo sai, vira nuvem de poeira, lembrança.

É notável o olhar revelador de Hisham, que descreve, por exemplo, a arquitetura da Líbia depois da derrocada de Gaddafi e das guerras civis. Fala das janelas fechadas, como se quisessem manter tudo -mesmo o sol- do lado de fora.

Uma das passagens mais sofridas do livro é a descoberta de que seu exílio o desconectou da terra natal de uma maneira que já não tem volta. As pessoas que seguiram na Líbia puderam permanecer conectadas a seus pontos de partida. Já Hisham, não. Foi condenado, de certa maneira, à culpa dos exilados, às identidades de quem habita os interstícios, entre aqui e lá.

O RETORNO – PAIS, FILHOS E A TERRA AO MEIO

Avaliação Ótimo

Preço R$ 76,90 (272 págs.)

Autoria Hisham Matar

Editora Âyiné

Tradução Odorico Leal

DIOGO BERCITO / Folhapress

‘O Retorno’ venceu Pulitzer com história real de líbio em busca do pai

FOLHAPRESS – Hisham Matar interpretou a notícia da queda do ditador Muammar Gaddafi em outubro de 2011 como um convite para voltar à Líbia, seu país natal. Ele vivia no exílio havia mais de três décadas. Poucos meses depois, já estava no aeroporto do Cairo, à espera de um voo que cruzaria tempo e espaço, até a terra de sua infância.

É ali que o leitor de “O Retorno” encontra Hisham -ansioso diante do portão de embarque, pensando em desistir. O livro, que chega ao Brasil pela editora Âyiné, conta a história daquela viagem real. O texto foi premiado em 2017 com o prestigioso troféu Pulitzer na categoria de autobiografia.

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Hisham voltou à Líbia em 2012 em busca de informações sobre seu pai, Jaballa Matar, desaparecido. É uma história de suspense, de detetive. De quem quer respostas.

O autor nasceu em 1970 em Nova York. Seu pai, Jaballa, trabalhava na missão líbia na ONU. Viver nos Estados Unidos era uma maneira de eles estarem distantes da Líbia -Jaballa, afinal, era um conhecido crítico do ditador Gaddafi, que estava no poder desde 1969.

A família Matar retornou a Trípoli em 1973 mas fugiu outra vez em 1979, agora para o Egito, onde Hisham cresceu. Em 1990, Jaballa desapareceu de repente.

A família chegou a receber cartas dele alguns anos depois, dizendo ter sido raptado e levado à infame prisão líbia de Abu Salim. Mas, fora isso, existe apenas um silêncio sólido que não deixa Hisham viver o luto da perda do pai.

A viagem que Hisham narra em “O Retorno” é a de uma busca desesperada por notícias. Ele acredita, de alguma maneira, que seu pai sobreviveu a um conhecido massacre de prisioneiros em 1996. Vai cruzando os desertos, conversando com amigos e familiares, visitando inclusive a prisão onde Jaballa pode ter vivido seus últimos dias.

O livro consegue o raro feito de costurar o particular e o universal em uma única -e dolorosa- colcha de retalhos. Esse feito é uma expressão da maturidade do escritor, que estreou no romance em 2006 com “In the Country of Men”, ou no país dos homens, e agora vive em Londres como professor de literatura.

Hisham escreve o que, infelizmente, é um gênero em si no Oriente Médio e no norte da África: um relato de prisão. O cânone árabe está repleto de histórias parecidas, de gente que, como Jaballa, foi preso, torturado e morto. É comum também, nessa região, que escritores tratem da dor de estar longe de sua terra natal.

O celebrado poeta palestino Mahmud Darwich, publicado no Brasil pela editora Tabla, falava justamente da dureza de ser um presente ausente. Hisham recupera essa imagem para falar da sua relação com a Líbia, de que escapou, mas onde nunca deixou de estar.

Apesar de construído em cima das experiências de Hisham, “O Retorno” toca também o leitor que não carrega as mesmas bagagens que ele. O livro trata da perda de um pai -uma dor que, por natureza, une todos, independente do passaporte e da cor da pele.

O texto de Hisham é simples, quase seco, e fácil de seguir. Apesar de a narrativa avançar e retroceder no tempo, não se enrosca em si mesma nem tropeça. As digressões estão onde devem estar, guiando o leitor pelas memórias do autor, ativadas pelo que ele vê durante sua viagem. Nada fica debaixo da areia; tudo sai, vira nuvem de poeira, lembrança.

É notável o olhar revelador de Hisham, que descreve, por exemplo, a arquitetura da Líbia depois da derrocada de Gaddafi e das guerras civis. Fala das janelas fechadas, como se quisessem manter tudo -mesmo o sol- do lado de fora.

Uma das passagens mais sofridas do livro é a descoberta de que seu exílio o desconectou da terra natal de uma maneira que já não tem volta. As pessoas que seguiram na Líbia puderam permanecer conectadas a seus pontos de partida. Já Hisham, não. Foi condenado, de certa maneira, à culpa dos exilados, às identidades de quem habita os interstícios, entre aqui e lá.

O RETORNO – PAIS, FILHOS E A TERRA AO MEIO

Avaliação Ótimo

Preço R$ 76,90 (272 págs.)

Autoria Hisham Matar

Editora Âyiné

Tradução Odorico Leal

DIOGO BERCITO / Folhapress

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