Warning: Undefined array key 0 in /var/www/vhosts/4x4dev.com.br/httpdocs/thmais/wp-content/themes/Newspaper-child/functions.php on line 690

Warning: Undefined array key 0 in /var/www/vhosts/4x4dev.com.br/httpdocs/thmais/wp-content/themes/Newspaper-child/functions.php on line 690
Botão TV AO VIVO TV AO VIVO Ícone TV
RÁDIO AO VIVO Ícone Rádio
spot_img

compartilhar:

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Eu sou aquele que os passados anos / Cantei na minha lira maldizente / Torpezas do Brasil, vícios e enganos”. Ao proferir esses versos como se fossem uma declaração de culpa, o ator Ricardo Bittencourt desce a rampa do Teatro Oficina, símbolo do bairro do Bexiga, no centro de São Paulo, imponente e orgulhoso –como se imagina que era Gregório de Matos.

Com a parte superior do rosto pintada em vermelho, parece usar uma máscara para representar aquele que tinha “sangue nos olhos” e que, ao escrever o que via, ficou conhecido como o Boca do Inferno.

Bittencourt interpreta o escritor barroco em “Boca a Boca: um Solo para Gregório”, monólogo que apresenta 40 poemas de Gregório de Matos em formato de pocket show. Dividida pelas temáticas mais abordadas pelo poeta –costumes, sexo, religião e crítica ao governo– o espetáculo busca apresentar, de forma dinâmica, a atualidade do poeta, segundo o roteirista Juliano Sanches.

Considerado o primeiro poeta brasileiro, Gregório de Matos ficou conhecido pelos versos ácidos, recheados de críticas e deboches à sociedade do Brasil colônia. Tipicamente barroco, seu texto é composto de rimas e antíteses, além de carregar contradições entre religiosidade e pecado.

Não por acaso, seus versos satíricos e por vezes sexualmente explícitos o levaram a ser acusado perante a inquisição em 1685 e exilado. Sua obra completa, transmitida pelos séculos através da oralidade a alguns manuscritos –fato que inspira o título “Boca a Boca”–, foi publicada apenas no século passado.

Bittencourt desencarna o personagem em alguns momentos para se tornar narrador e contextualizar o publico sobre a vida do poeta. “Chegou nesse teatro, muda tudo”, explica ele.

Após se apresentar em Salvador, a peça veio a São Paulo em 2018, onde passou pelo Sesc Pinheiros e por escolas e bibliotecas na periferia da cidade.

Se nas apresentações passadas a relação com o público era frontal, dessa vez o ator recita a poesia à 360 graus –como exige a arquitetura do Teatro Oficina. A iluminação da peça incorpora as mudanças de tom do poeta: as cores quentes predominam nos momentos de sátira e cólera, enquanto as poesias líricas e religiosas, símbolo do espírito contraditório da arte barroca, são cobertas pela penumbra e tons de azul, caso dos versos: “O mal, que fora encubro, ou que desminto/ dentro no coração é que sustento,/ com que, para penar é sentimento,/ para não se entender, é labirinto”.

Os solos de guitarra, ora agressivos, outrora sutis, acompanham o poeta durante o espetáculo, musicando suas declamações e gestos, além de contagiar os espectadores com suas emoções –mesmo nos momentos de silêncio.

A trilha ao vivo de Adriano Salhab ajuda a aproximar a obra de Gregório aos tempos atuais, indo de MPB nacional até Nirvana -mas é composta especialmente pelo rock psicodélico da década de 1960, ideal para interpretar um cara ácido como Gregório de Matos, explica Salhab.” Gregório é rock’n’ roll puro, pois ele tem essa atitude roqueira da contestação”, diz Sanches.

Apesar de também ser um fidalgo, pessoas mais abastadas e descendentes da nobreza, o poeta tentava se distanciar das características dessa classe –como fica marcado nos momentos de raiva, em que o ator rasga um livro ou tira a sua capa, peça que compunha a vestimenta da época.

Bittencourt atribui a conexão imediata com o público nas apresentações anteriores à contemporaneidade perturbadora do poeta barroco. “A essência das mazelas do Brasil continua a mesma”, diz. É o que se nota, por exemplo, nos versos direcionados a Antônio de Sousa Meneses, então administrador colonial: “Quem sobe ao alto lugar, que não merece, / Homem sobe, asno vai, burro parece, / Que o subir é desgraça muitas vezes. / A fortunilha, autora de entremezes / Transpõe em burro o herói que indigno cresce”.

O fato dos versos satíricos e críticos de Gregório serem sempre direcionados a alguém também facilita o estabelecimento de um diálogo mais direto com público. Apesar da linguagem barroca, quase nada fica subentendido. Os efeitos visuais e sonoros servem para enfatizar, como define Bittencourt, o grande protagonista da peça, o texto de Gregório de Matos.

BOCA A BOCA: UM SOLO PARA GREGÓRIO

Quando: Sex., 21 e 28/4, às 21h

Onde: Teatro Oficina – r. Jaceguai, 520

Preço: De R$ 30 a R$ 100

Elenco: Ricardo Bittencourt

Roteiro: João Sanches

ALESSANDRA MONTERASTELLI / Folhapress

Peça ‘Boca a Boca’ traz acidez da poesia de Gregório de Matos ao som de rock’n’roll

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Eu sou aquele que os passados anos / Cantei na minha lira maldizente / Torpezas do Brasil, vícios e enganos”. Ao proferir esses versos como se fossem uma declaração de culpa, o ator Ricardo Bittencourt desce a rampa do Teatro Oficina, símbolo do bairro do Bexiga, no centro de São Paulo, imponente e orgulhoso –como se imagina que era Gregório de Matos.

Com a parte superior do rosto pintada em vermelho, parece usar uma máscara para representar aquele que tinha “sangue nos olhos” e que, ao escrever o que via, ficou conhecido como o Boca do Inferno.

- Advertisement -anuncio

Bittencourt interpreta o escritor barroco em “Boca a Boca: um Solo para Gregório”, monólogo que apresenta 40 poemas de Gregório de Matos em formato de pocket show. Dividida pelas temáticas mais abordadas pelo poeta –costumes, sexo, religião e crítica ao governo– o espetáculo busca apresentar, de forma dinâmica, a atualidade do poeta, segundo o roteirista Juliano Sanches.

Considerado o primeiro poeta brasileiro, Gregório de Matos ficou conhecido pelos versos ácidos, recheados de críticas e deboches à sociedade do Brasil colônia. Tipicamente barroco, seu texto é composto de rimas e antíteses, além de carregar contradições entre religiosidade e pecado.

Não por acaso, seus versos satíricos e por vezes sexualmente explícitos o levaram a ser acusado perante a inquisição em 1685 e exilado. Sua obra completa, transmitida pelos séculos através da oralidade a alguns manuscritos –fato que inspira o título “Boca a Boca”–, foi publicada apenas no século passado.

Bittencourt desencarna o personagem em alguns momentos para se tornar narrador e contextualizar o publico sobre a vida do poeta. “Chegou nesse teatro, muda tudo”, explica ele.

Após se apresentar em Salvador, a peça veio a São Paulo em 2018, onde passou pelo Sesc Pinheiros e por escolas e bibliotecas na periferia da cidade.

Se nas apresentações passadas a relação com o público era frontal, dessa vez o ator recita a poesia à 360 graus –como exige a arquitetura do Teatro Oficina. A iluminação da peça incorpora as mudanças de tom do poeta: as cores quentes predominam nos momentos de sátira e cólera, enquanto as poesias líricas e religiosas, símbolo do espírito contraditório da arte barroca, são cobertas pela penumbra e tons de azul, caso dos versos: “O mal, que fora encubro, ou que desminto/ dentro no coração é que sustento,/ com que, para penar é sentimento,/ para não se entender, é labirinto”.

Os solos de guitarra, ora agressivos, outrora sutis, acompanham o poeta durante o espetáculo, musicando suas declamações e gestos, além de contagiar os espectadores com suas emoções –mesmo nos momentos de silêncio.

A trilha ao vivo de Adriano Salhab ajuda a aproximar a obra de Gregório aos tempos atuais, indo de MPB nacional até Nirvana -mas é composta especialmente pelo rock psicodélico da década de 1960, ideal para interpretar um cara ácido como Gregório de Matos, explica Salhab.” Gregório é rock’n’ roll puro, pois ele tem essa atitude roqueira da contestação”, diz Sanches.

Apesar de também ser um fidalgo, pessoas mais abastadas e descendentes da nobreza, o poeta tentava se distanciar das características dessa classe –como fica marcado nos momentos de raiva, em que o ator rasga um livro ou tira a sua capa, peça que compunha a vestimenta da época.

Bittencourt atribui a conexão imediata com o público nas apresentações anteriores à contemporaneidade perturbadora do poeta barroco. “A essência das mazelas do Brasil continua a mesma”, diz. É o que se nota, por exemplo, nos versos direcionados a Antônio de Sousa Meneses, então administrador colonial: “Quem sobe ao alto lugar, que não merece, / Homem sobe, asno vai, burro parece, / Que o subir é desgraça muitas vezes. / A fortunilha, autora de entremezes / Transpõe em burro o herói que indigno cresce”.

O fato dos versos satíricos e críticos de Gregório serem sempre direcionados a alguém também facilita o estabelecimento de um diálogo mais direto com público. Apesar da linguagem barroca, quase nada fica subentendido. Os efeitos visuais e sonoros servem para enfatizar, como define Bittencourt, o grande protagonista da peça, o texto de Gregório de Matos.

BOCA A BOCA: UM SOLO PARA GREGÓRIO

Quando: Sex., 21 e 28/4, às 21h

Onde: Teatro Oficina – r. Jaceguai, 520

Preço: De R$ 30 a R$ 100

Elenco: Ricardo Bittencourt

Roteiro: João Sanches

ALESSANDRA MONTERASTELLI / Folhapress

COMPARTILHAR:

spot_img
spot_img

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTICIAS RELACIONADAS

Thmais
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.